Equipa Fantasia #3: África | Ciclismo

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    A última década tem sido de crescimento tremendo para o ciclismo em África: desde pequenas grandes conquistas como em 2013 quando Daryl Impey se tornou no primeiro corredor africano a envergar a camisola amarela do Tour de France, a vitórias de etapas em grandes voltas, como a alcançada por Biniam Girmay no Giro d’Italia de 2022.

    Em 2025, a história do ciclismo africano vai ter um novo marco, com os Campeonatos do Mundo de Estrada a serem disputados no Ruanda, mais concretamente, na capital Kigali. Ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que os ciclistas africanos dispõem das infraestruturas necessárias para evoluir dentro de qualquer zona do continente, mas não há dúvida de que estamos muito mais próximos dessa realidade do que há 15 anos atrás.

    Como tal, o BnR faz o mesmo que fez nas duas semanas anteriores e constrói uma equipa “fantasia” com 8 ciclistas do continente africano. Serão escolhidos 8 corredores de cada continente, com a particularidade de que, com vista a dar maior visibilidade a um maior número de nações, não poderão ser escolhidos mais do que três corredores de um único país.

    As escolhas serão feitas com base na lógica de construção de um bloco, ou seja, estes ciclistas não são necessariamente os oito melhores da África, mas aqueles que encaixariam melhor entre si no contexto de uma equipa numa corrida por etapas.

    8. PAUL DAUMONT – BURKINA FASO

    Ciclista de 24 anos, Paul Daumont é uma figura de destaque no ciclismo africano. O burquino corre ao serviço da A.S Bessel e conta com vitórias de etapa na Volta à Costa do Marfim, prova onde foi o vencedor final em 2019, na Volta ao Togo, na Volta aos Camarões, na Volta ao Mali e até na Volta ao Benim.

    A “performance” de Daumont ao longo dos anos não passou despercebida, sendo que conseguiu mesmo representar o Burkina Faso nos Jogos Olímpicos, em 2021. Integrou a fuga da prova disputada em Tóquio. Em agosto de 2022, foi anunciado como estagiário da Pro Touch, formação sul africana que cessou a atividade desportiva no fim da última época.

    Ainda assim, a passagem de Paul Daumont permitiu-lhe realizar a Volta ao Langkawi e a Volta ao Irão. Não se destacou em nenhuma das provas, mas adquiriu experiência fora do continente africano, sendo que já tinha conquistado em 2021 o GP Cham-Hagendorn, prova de sub-23 na Suíça, ao serviço do Centro Mundial de Ciclismo.

    Numa equipa do continente africano, seria um ciclista que, no mínimo, podia fazer o trabalho inicial de cada jornada e cumprir funções de aguadeiro. Também poderia saltar para a fuga em etapas menos duras.  Seria, essencialmente, um homem de trabalho.  Tem mais do que qualidade para integrar uma equipa do escalão pro-continental

    7.YOUCEF REGUIGUI – ARGÉLIA

    Sprinter argelino, aos 33 anos, Youcef Reguigui é uma lenda do ciclismo africano. Atualmente, veste as cores da Terengganu Polygon CT, equipa da Malásia e correu no World Tour, ao serviço da Dimension Data, entre 2016 e 2017.

    Com quase 50 vitórias como ciclista profissional, Reguigui conta com triunfos na Volta ao Langkawi (nomeadamente na geral, em 2015), na Volta ao Azerbaijão (nomeadamente na geral em 2012) e na Volta ao Faso, entre muitas outras corridas. O sprinter argelino tem mesmo vitórias em três continentes diferentes: Europa, Ásia e África, um feito notável para um corredor que passou praticamente toda a carreira em equipas do escalão continental ou pro continental.

    Nesta equipa da Confederação Africana de Ciclismo, Youcef Reguigui seria um lançador, uma parte essencial para o sprint, mas não para o sprint final propriamente dito, visto que já está na fase descendente da carreira.

    6. NATNAEL TESFAZION – ERITREIA

    A Eritreia é um modelo a seguir no desenvolvimento do ciclismo africano e os resultados são evidentes, como este artigo vai refletir. Três ciclistas eritreus fazem parte deste grupo de oito, com o primeiro a ser Natnael Tesfazion, da Trek-Segafredo.

    Tesfazion tem 24 anos, é muito completo e com aptidão para provas de um dia, nomeadamente de média montanha. A vitória na 2ª etapa da Adriatica Ionica Race, em 2022, e o 5º lugar na Figueira Champions Classic são provas destas características do corredor africano. Top 10 regular em sprints nos grupos reduzidos, é um ciclista com ponta final muito boa, como indica o top 3 na 2ª etapa da edição em curso do Critérium du Dauphiné, conquistada por Julian Alaphilippe.

    Natnael Tesfazion seria um “caça-etapas” excelente nesta equipa africana, assim como um bom apoio e lançador para o líder desta equipa, nas etapas que o mesmo conseguisse disputar.

     5. DARYL IMPEY – ÁFRICA DO SUL

    Ciclista de 38 anos, está no último ano de carreira e ao serviço da Israel Premier Tech. Um sprinter com boa capacidade para subidas explosivas, Daryl Impey foi o último camisola amarela do Tour em 2013 antes de Chris Froome subir à liderança da prova.

    O sul africano conta com uma vitória de etapa no Tour de 2019, bem como em provas World Tour, nomeadamente o Tour Down Under que conquistou por duas ocasiões, mostrando como Impey se defende bem em subidas curtas. Foi também 7 vezes campeão de contrarrelógio da África do Sul.

    Nesta equipa africana, seria um homem de trabalho e uma potencial solução para as chegadas mais explosivas, caso o líder do bloco falhasse.

    4. HENOK MULUBRHAN – ERITREIA

    Henok Mulubrhan, ciclista de 23 anos, corre ao serviço da Green Project-Bardiani e é um corredor para provas de um dia, em particular para as de média montanha. O resultado mais recente do atleta eritreu é o 3º lugar do Giro dell’ Appenino em que Mulubrhan venceu o sprint no grupo perseguidor, festejando a pensar que tinha ganho a corrida. Apesar do engano, bateu ciclistas como Lilian Calmejane, Lorenzo Rota e Francesco Busatto.

    Os resultados em provas de um dia remontam já aos tempos de sub-23, com pódios na Berner-Rundfahrt e no GP Citta di Empoli. Tanto no Giro Next Gen como no Tour de l’Avenir, ficou no top 20, pelo que é difícil perceber se Mulubrhan virá a ser um ciclista para top 10 regular em provas de três semanas. Esteve na edição mais recente da Volta a Itália, sem ser grande motivo de destaque, compreensível uma vez que foi a sua primeira grande volta.

    Nesta equipa da confederação africana, Henok Mulubrhan seria um ciclista para procurar vitórias em etapas de média montanha e para fugas em jornadas de maior elevação. Também seria um homem importante para proteger o líder da equipa.

    3. YACINE HAMZA – ARGÉLIA

    Com 26 anos, Yacine Hamza é um talento enorme no que ao sprint diz respeito. Em 2023, já leva 11 vitórias, tendo levantado os braços em todas as corridas por etapas que integrou. Corre ao serviço da Dubai Police Team e entre 2017 e 2023 tem 41 vitórias! Está neste momento a realizar a Volta aos Camarões, onde esteve de amarelo tendo conquistado as duas primeiras etapas.

    Hamza tem até duas vitórias em Espanha, alcançadas em duas provas de um dia. Nomes como Youcef Reguigui, Grega Bole, Gustav Basson e Lucas Carstensen, todos já ficaram para trás de Hamza. O que conseguirá o argelino fazer contra nomes maiores do que estes? Só há uma forma de saber.

    Nesta equipa de luxo, Yacine Hamza podia ser uma opção para chegadas ao sprint em pelotão numeroso ou, pelo menos, um plano de recurso, mas sobretudo, o último lançador do número 1 desta equipa.

    2. LOUIS MEINTJES – ÁFRICA DO SUL

    Louis Meintjes é um dos melhores voltistas de sempre do ciclismo africano. Um puro trepador que conta com três top 10 no Tour, dois dos quais, foram alcançados nas edições de 2016 e 2017, anos em que foi segundo na classificação da juventude da “Grand Boucle”. Teve um período com poucos resultados de relevo até 2021, ano em que ingressa na Intermarché, no qual faz top 10 em etapas do Tour e da Vuelta. Fecha mesmo nos 15 primeiros da corrida francesa.

    Todavia, só em 2022 é que regressava o Louis Meintjes de outros tempos. Capaz de ombrear com os melhores na montanha, voltou ao top 10 do Tour, alcançando o seu melhor resultado de sempre na corrida (7º). Na Vuelta do mesmo ano, ficou no 11º lugar, apresentando uma boa gestão de esforço.

    Em 2023, já conta com 2º lugar na Volta à Sicília, mas só no verão, iremos saber se o ciclista sul-africano mantém a tendência dos últimos anos em grandes voltas. Numa equipa da confederação africana, podia ser a aposta para a geral ou, caso estivesse numa forma menos consistente, uma boa aposta para ganhar nas fugas de etapas de alta montanha.

    1. BINIAM GIRMAY – ERITREIA

    O líder desta equipa de África. Com 23 anos (feitos este ano), Biniam Girmay corre pela Intermarché-Circus e foi uma das revelações de 2022 ao tornar-se no primeiro ciclista africano negro a vencer a Gent – Wevelgem e a ganhar uma etapa numa grande volta. Só isto já o torna uma lenda do ciclismo mundial, mas o seu potencial também é tremendo.

    Girmay assemelha-se a Wout Van Aert, no sentido de ter boas capacidades para corridas em pavê e de ser um dos melhores para chegadas ao sprint, sobretudo em subidas explosivas e em grupos reduzidos. Todavia, como se pode ver nas duas primeiras etapas do Tirreno-Adriatico, em que esteve perto de vencer num pelotão com Fabio Jakobsen, Jasper Philipsen, Dylan Groenewegen e o próprio Van Aert. ´

    Girmay vai estrear-se no Tour em julho e as duas primeiras etapas, no País Basco, são boas hipóteses para que o eritreu continue a fazer história. Biniam Girmay é capaz de ser o melhor ciclista africano da atualidade, o que lhe vale a liderança desta equipa africana, uma formação que acaba por ser construída em seu redor para que possa discutir todas as chegadas que encaixam no seu estilo.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.