Martínez pouco apareceu mas venceu: Os 5 momentos que marcaram a Volta ao Algarve

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    A 49ª edição da Volta ao Algarve disputou-se entre a última quarta-feira e domingo, com um pelotão de renome, como a “Algarvia” tem vindo a habituar. A prova de 2023 contou com a participação de João Almeida e Rui Costa, dois dos maiores nomes de todos os tempos do ciclismo português, assim como uma equipa de luxo da INEOS Grenadiers. Remco Evenepoel não defendeu o seu título, uma vez que irá correr o UAE Tour.

    A corrida mais importante de Portugal (no que à União Ciclista Internacional diz respeito) contou ainda com sprinters de luxo, como Fabio Jakobsen, mas sobretudo com os melhores contrarrelogistas do Mundo, com Filippo Ganna, Stefan Küng e o campeão do Mundo da especialidade, Tobias Foss. O contrarrelógio de 24,4 km em Lagoa tornou a corrida algarvia muito atrativa para os nomes grandes do ciclismo internacional.

    Uma prova marcada por vários momentos que definiram quem ia lutar pela vitória da corrida, ainda que o vencedor, Daniel Martínez, tenha passado despercebido na corrida.

    5. DOIS PORTUGUESES E NO FIM GANHA ASGREEN

    Os primeiros dois dias da corrida ficaram marcados pela presença de António Ferreira (Kelly Simoldes UDO) e Rafael Lourenço (A&P Resorts – Tavira) nas fugas. Os dois jovens ciclistas lutaram entre si pela liderança na classificação da montanha, caçando todos os pontos possíveis. Ferreira levou a melhor sobre Lourenço nos dois dias e foi líder da montanha até à penúltima etapa, a última que contou para a classificação da camisola azul.

    Todavia, Ferreira não perdeu a classificação da montanha para Lourenço, mas sim para Kasper Asgreen, dinamarquês da Lotto-Soudal, ciclista que conta já com várias presenças na Volta ao Algarve. Para vencer a camisola azul, Asgreen passou em primeiro lugar na subida à Picota, uma contagem de segunda categoria, logo na 2ª etapa. Dois dias depois, Asgreen colocou-se numa fuga que os dois rivais de equipas portuguesas não foram capazes de integrar.

    Ao fazer parte de uma fuga de 3 ciclistas na chegada ao alto do Malhão, Asgreen foi capaz de colher mais pontos, pelo que conquistou a única classificação que a Quick-Step não conquistou em 2022.

    4. O SILÊNCIO NAS MONTANHAS

    As duas chegadas em alto da Volta ao Algarve foram no Alto da Fóia e no Alto do Malhão, na segunda e na penúltima etapa, respetivamente. Numa prova com 24,4 km de contrarrelógio, eram as únicas hipóteses para os puros trepadores como Jai Hindley, vencedor do Giro d’Italia em 2022 e até Rui Costa que, não sendo um puro trepador, é um ciclista com o contrarrelógio como ponto fraco.

    A etapa da Foia não teve qualquer ataque na subida final. Foi uma subida feita ao ritmo do “comboio” da INEOS, formação que estava mais focada em colocar um ritmo que permitisse a Ganna minimizar quaisquer perdas de tempo e assim continuar na luta pela vitória. A iniciativa britânica não teve desafio e só o último quilómetro, é que Ilan Van Wilder se lançou ao ataque, com uma resposta de Rui Costa, num sprint para discutir a vitória da etapa, que seria conquistada por Magnus Cort Nielsen, um ciclista que não é especialista neste terreno. O grupo que chegou ao sprint final tinha cerca de 30 ciclistas.

    A etapa do Malhão foi mais movimentada, com Stefan Küng a ficar de fora da luta pela geral, mas a falta de aproveitamento da subida de Fóia acabou por ter mais impacto no pódio final e por refletir o que torna a “Algarvia” tão especial para os especialistas no esforço individual. Que o diga o bicampeão, Tony Martin.

    3. AS QUEDAS TIRAM PROTAGONISMO ÀS EQUIPAS PORTUGUESAS

    A Volta ao Algarve caracteriza-se como um dos poucos momentos do ano (agora em conjunto com a “Figueira Champions Classic”) que opõe as equipas portuguesas às formações do “World Tour”, o mais alto escalão do ciclismo mundial. Como tal, é mais difícil para as formações lusas conseguir o protagonismo e aguentar os ritmos tão elevados que estas formações colocam. A este fator, acresce o ponto alto da época para as formações nacionais: a Volta a Portugal, que só se realiza em agosto, condicionando a forma dos corredores nesta altura da época.

    Esta “luta” das equipas portuguesas só ficou mais difícil com as diversas quedas que ocorreram ao longo das etapas, a começar pela que ocorreu logo na etapa de abertura, em Lagos. Esse percalço colocou logo de fora o norte-americano, Barry Miller da ABTF Feirense, que esteve em grande na última “Grandíssima” e Fred erico Figueiredo, um ciclista que por mais do que uma ocasião se conseguiu intrometer em lutas pelo top 10 da geral e por vitórias de etapa nas chegadas em alto.

    Na 3ª etapa, foi a vez de Mauricio Moreira, vencedor da Volta a Portugal, desistir, assim como Tiago Leal, da Rádio Popular – Boavista. O também boavisteiro César Fonte esteve envolvido numa queda na penúltima etapa, mas concluiu a corrida. O melhor ciclista de equipas portuguesas foi Joaquim Silva, da Efapel Cycling, que terminou na 32ª posição.

    Os múltiplos abandonos, sobretudo o de Frederico Figueiredo, que tinha dado boas indicações na corrida da Figueira da Foz da semana anterior, ditaram a participação menos bem sucedida das equipas portuguesas, com as exibições da Kelly, e em particular de António Ferreira, a ser o que mais chamou à atenção na participação das equipas lusas.

    2. O “BIS” INESPERADO DE MAGNUS CORT NIELSEN

    O ciclista dinamarquês de 30 anos conta já com 8 vitórias de etapa em grandes voltas, sendo que por mais do que uma ocasião, ganhou mesmo etapas ao sprint, pelo que é um corredor que sempre se destacou pela ponta final. Essa característica veio ao de cima na chegada ao alto da Fóia, quando uma subida feita a ritmo pouco seletivo permitiu ao ciclista dinamarquês lutar pela vitória na etapa.

    A 3ª etapa foi a mais longa da corrida e tudo indicava que seria um dia para os sprinters puros, tal como a etapa inaugural com chegada a Lagos. Um sprint com bonificações de tempo alterou os destinos do dia, com a equipa da INEOS a assumir a corrida, com uma mudança de ritmo imposta por Ganna que levou Pidcock na roda. Com os dois seguiram Rui Costa, Valentin Madouas e o próprio Magnus Cort que vencia esse sprint e o número máximo segundos de bonificação.

    O duo da INEOS e o camisola amarela foram quem mais liderou a perseguição. No grupo de trás, quem perseguia era a Soudal Quick-Step e  a BORA. As duas formações foram capazes de fechar o espaço já na longa reta da meta em Faro. O líder da classificação geral ainda teve forças para lançar um sprint que se revelou inalcançável para a concorrência direta, com o dinamarquês a alcançar duas vitórias seguidas numa Volta ao Algarve de alto rendimento por parte da EF Easy Post.

    1. “SHOW” DE CONTRARRELOGISTAS DÁ VITÓRIA À INEOS

    A última etapa foi o dia de todas as decisões na geral da Volta ao Algarve. Os três primeiros (Pidcock, Van Wilder e Almeida) estavam separados por apenas 7 segundos com Ganna e Foss a pouco mais de meio minuto.

    24, 4 quilómetros em Lagoa deixavam a corrida num grande suspense. No que á etapa diz respeito, a vitória foi para o favorito e antigo campeão europeu, Stefan Küng, num dia em que apenas 4 ciclistas fizeram o percurso em menos de meia hora.

    Thymen Arensman esmagou o tempo de Nils Politt com meio minuto de vantagem. Um dia que parecia estar a sorrir para a INEOS nos pontos intermédios, ainda que não por muito tempo. Rémi Cavagna não demorou a baixar dos 30 minutos, apenas para que o Suíço da Groupama FDJ fizesse o tempo vencedor.

    Nas contas da geral, os homens do top 3 fizeram um contrarrelógio que ficou aquém das expectativas. Uma saída de estrada ainda complicou um dia que já não se mostrava de bom agoiro para o camisol a amarela. João Almeida também teve um dia “não”. O português perdeu mais de um minuto para Filippo Ganna e ficou fora do top 5 na geral. Pidcock seguiu o mesmo caminho. Van Wilder foi quem melhor se defendeu, caindo para o terceiro posto.

    Quem passou por entre os pingos da chuva foi Daniel Martínez. O colombiano passou praticamente despercebido até ao último dia da corrida, em que uma “performance” de elite no contrarrelógio, sendo um dos quatro ciclistas que baixou da marca da meia hora. 29 minutos e 50 segundos foi a marca que deu a Martínez o triunfo final na “Algarvia”, o primeiro colombiano a conquistar a prova.

    A classificação dos pontos sorriu a Magnus Cort. Já a da montanha foi para Asgreen, com Oscar Onley a levar a camisola de melhor jovem e a INEOS a ser a melhor equipa da prova.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.