Nacionais Ciclismo: Lição de Ivo Oliveira e superioridade de Cristiana Valente

modalidades cabeçalho

Depois do contrarrelógio nos Nacionais de Ciclismo, chegou o momento das provas de fundo! O primeiro dia ficou reservado para cadetes, juniores, sub-23 e elites femininas, bem como para os sub-23 masculinas. As categorias femininas correram ao mesmo tempo, com as juniores e as cadetes a percorrerem menos voltas. As cadetes faziam duas voltas, as juniores três e as elites, bem como as sub-23, passavam 4 vezes pela meta, num percurso com 22,6 quilómetros de extensão. Já os sub-23 masculinos iam realizar 6 voltas ao mesmo percurso.

Para os elites masculinos, o percurso era literalmente o inverso do ano anterior, com 6 voltas ao circuito de 23,6. Nas cadetes, Leonor Casimiro, líder da Taça de Portugal partia como a principal favorita; já nas juniores, Daniela Simão, da Academia Efapel de Ciclismo e Marta Carvalho, da Extremosul, eram as maiores candidatas, sendo que outros nomes da Extremosul podiam interferir na corrida, nomeadamente Margarida Teodósio ou Raquel Dias.

Nas sub-23, o trio de candidatas ao contrarrelógio partia com o mesmo favoritismo para  a prova de fundo: Beatriz Pereira, campeã de contrarrelógio, Beatriz Roxo e Mariana Líbano; já nas elites, Cristiana Valente, quase vencedora da Taça de Portugal, Ana Caramelo, campeã nacional de contrarrelógio, Vera Vilaça, da Massi Tactic e claro, Maria “Tata” Martins, primeira portuguesa de sempre a integrar uma equipa do World Tour (a Fenix-Deceunick).

Nos sub-23 masculinos, o duo da Hagens Berman Axeon (António Morgado e Gonçalo Tavares) e Daniel Lima partiam como os principais favoritos, depois da performance que os levou ao pódio do contrarrelógio, quando nenhum dos três tem mais de 19 anos. Também havia muita expetativa para o que a Credibom/LA Alumínios e a Kelly/Simoldes iriam fazer.

Nos elites masculinos, a UAE Team Emirates parecia ser, claramente, o alvo a bater. Para a prova de fundo, João Almeida e Ivo Oliveira tinham Rui Oliveira ao seu lado, sendo que a Glassdrive, a Efapel e até a Kelly ou a Tavfer tinham ambições realistas de sair com a vitória. Iúri Leitão da Caja Rural, corria sem colegas de equipa, mas caso chegasse ao último quilómetro na discussão, tinha tudo para sair com o título.

CICLISMO: O CAOS DITOU A ORDEM

A corrida feminina de Ciclismo ficou definida logo nos primeiros quilómetros. Primeiro, foi Isabel Caetano quem tentou a sorte, com a atleta da Cantanhede Cycling a distanciar-se das rivais, apenas para ser alcançada passados 12 km da partida real. E pouco depois, um grupo de 9 ciclistas arrancou e não seria apanhado, ainda com mais de 60 km para percorrer.

A constituição do grupo era a seguinte: Daniela Simão, Raquel Dias (juniores), Beatriz Pereira (sub-23), Cristiana Valente, Ana Caramelo, Liliana Jesus, Vera Vilaça, Melissa Maia e “Tata” Martins. Portanto, as principais categorias estavam praticamente todas na frente e as que estavam para trás estavam obrigadas a fazer a ponte, nomeadamente por terem uma colega na frente ou porque não tinham equipa para fazer a perseguição.

A partir desse momento a corrida foi uma prova de eliminação, sendo que o pelotão se foi partindo completamente, com um grupo de 14 ciclistas a aproximar-se e a reduzir a distância para 10 segundos, mas uma subida que marcava o circuito foi o suficiente para abrir de vez o espaço para as nove da frente.

VITÓRIA DISCRETA DE GONÇALVES E DEMONSTRAÇÃO DE FORÇA DE SIMÃO

A prova das cadetes foi, praticamente, aparte, uma vez que nenhuma corredora desta categoria se conseguiu meter no grupo da frente. Ainda assim, Bruna Gonçalves (Clube de Ciclismo de Tondela) conseguiu sagrar-se campeã nacional depois de um sprint a duas com Maria Santos, da Matos-Cheirinhos, sendo que Leonor Casimiro ficava no 3º posto a 2 minutos e 56 segundos de Gonçalves.

Nas juniores, o ataque madrugador determinou que Daniela Simão e Raquel Dias iriam discutir a vitória entre si. A co-líder da Taça de Portugal, Daniela Simão, não desiludiu e distanciou a rival da Extremosul para ganhar com 1:32 de vantagem. Rita Tanganho, da 5Quinas fechou o pódio a 4:20 de Simão, que demonstrou um grande nível ao acompanhar as elites com apenas 17 anos.

BEATRIZ PEREIRA FAZ DOBRADINHA HISTÓRICA

Nas sub-23 de Ciclismo, a corrida não teve muita história, com Beatriz Pereira da Bizkaia-Durango a conquistar a dobradinha no escalão e a sagrar-se campeã nacional de fundo. Ainda assim, é importante destacar o nível da corredora de 19 anos, uma vez que para além do título de sub-23, Beatriz foi a segunda na “geral”, ou seja, apenas foi batida, na estrada, pela campeã nacional de elites, tendo mesmo superado Vera Vilaça no sprint. Dentro das sub-23, ganhou com mais de 8 minutos para Beatriz Roxo e mais de 16 para Nádia Henrique, que fechou o pódio.

A VALENTIA DE CRISTIANA COMPENSOU

Em elites, “Tata” Martins perdeu o contacto a 50 km do fim, sendo que a mulher da Fenix/Deceuninck foi capaz de fechar o espaço que chegou a ser de 50 segundos. Entretanto, Cristiana Valente rodava na frente do grupo, chegando a abrir uma pequena distância para demonstrar a sua capacidade física, mais concretamente, numa rampa próxima da meta e que marcava a prova.

Valente não tardou a isolar-se e entrou na última volta já sem rivais no encalço. Ana Caramelo, Melissa Maia, Vera Vilaça e Beatriz Pereira eram quem rodava na perseguição a 1 minuto e 20 segundos. Beatriz Pereira foi-se destacando na perseguição, sendo que apenas Vilaça seria capaz de se chegar à sub-23, para fechar no 2º lugar de elites, a 2 minutos e 35 segundos de Cristiana Valente, a nova campeã nacional.

Melissa Maia completou o pódio a 2 minutos e 52 segundos de Valente que entrega assim o título à Glassdrive no primeiro ano de existência da equipa. Aos 38 anos, Valente já representou Portugal em atletismo, tendo-se apenas dedicado (de forma profissional) ao ciclismo a partir de 2022.

A AXEON TEM DOIS DIAMANTES PORTUGUESES

A prova de Ciclismo dos sub-23 masculinos demorou muito mais do que a feminina para se definir. A corrida foi muito atacada desde o princípio, com várias tentativas de fuga. A Óbidos Cycling Team e a LA foram duas das formações mais ativas e não tardaram a lançar corredores ao ataque. Primeiro, foram João Oliveira, Miguel Correia e Bernardo Jorge a isolarem-se e a alcançarem uma vantagem de cerca de 35 segundos para o pelotão.

François Vie, colega de Oliveira, tentou fazer a ponte para a frente, mas quem lá chegou foram João Paulo Silva, vencedor da Volta a Portugal do Futuro, e Diogo Gonçalves, permitindo à Santa Maria da Feira/Segmentos d’Época/Reol colocar um homem na frente da corrida. Pouco atrás, tanto a Óbidos como a LA se faziam representar num grupo intermédio constituído por Manuel Marques, Diogo Narciso, François Vie e Afonso Lopes, da Porminho, que venceu a classificação da juventude no GP Abimota.

8 quilómetros depois, já era um grupo de dez ciclistas na frente, com alguns elementos dos grupos anteriores, bem como Afonso Eulálio (Feirense), Miguel Marques (Centro de Ciclismo de Loulé), Pedro Silva (Glassdrive) e Sérgio Saleiro (Fonte Nova-Felgueiras). Contudo, nunca se conseguiam distanciar completamente do pelotão e foram alcançados 4 km depois.

Após 50 km, chegou a hora das movimentações decisivas. Primeiro Alexandre Montez, Eulálio e Gonçalves lançaram-se ao ataque, apenas para pouco depois Duarte Domingues e João Macedo fazerem a ponte para a frente.

Cerca de 20 quilómetros depois, eram Macedo e Domingues que estavam na frente, com a companhia de um favorito à vitória final: Gonçalo Tavares, vice-campeão no contrarrelógio do dia anterior. O trio chegou a ter quase dois minutos para o pelotão, mas a vantagem foi caindo e chegou a mesmo a ficar inferior a 1 minuto, o que permitiu a outros ciclistas fazerem a ponte para a frente.

Foi o que Daniel Lima, João Silva e Alexandre Montez fizeram, assim como o trio de Tomás Bauwens, Diogo Gonçalves e António Morgado e depois o trio de Pedro Silva, Afonso Eulálio e Sérgio Saleiro. Desta forma, a antepenúltima passagem pela meta viu um grupo de 12 ciclistas na frente.

A penúltima volta foi a de todas as decisões! João Silva cedeu e Duarte Domingues teve uma avaria, o que deixou os dois ciclistas fora da luta pela vitória. E a menos de 50 km do fim, quem se lançava ao ataque era João Macedo, potencialmente para desgastar algum dos homens da Axeon. Mas Gonçalo Tavares não tardou a responder, sem medo de ir ao choque. Pouco depois, Tavares foi sozinho, não demorou a ganhar 1 minuto ao pelotão e fez o resto da corrida à vontade para se sagrar campeão nacional de sub-23, pela primeira vez na carreira.

Atrás, João Macedo fez uma excelente gestão de esforço que lhe permitiu ganhar o segundo lugar. O mesmo não pode ser dito de Pedro Silva. O corredor da Glassdrive parecia ter o pódio assegurado, apenas para que Alexandre Montez alcançasse e ultrapassasse o corredor de Barcelos para garantir que a Credibom/LA Alumínios colocava dois homens no pódio.

Gonçalo Tavares não teve um início de época exuberante, mas desde a Course de la Paix que tem estado em trajetória ascendente. Ficou em 11º na prova checa e em 2º no contrarrelógio de ontem. Sagrou-se campeão nacional de sub-23, um título que nunca venceu enquanto júnior e de forma dominante, com apenas 18 anos. Macedo ficou a 2:05 de Tavares e Montez a 2:48.

EMIRATES DÁ LIÇÃO DE CICLISMO

A prova de elites masculinos foi muito parecida com a prova de elites femininas: uma corrida que ficou definida numa fase muito madrugadora e que foi praticamente uma prova de eliminação.

 Todos os ataques foram importantes, a começar pelo que criou a primeira fuga do dia: Ivo Oliveira, Pedro Andrade (Feirense), David Livramento (Tavira), César Martingil (Aviludo-Louletano), Rodrigo Caixas (Credibom-LA Alumínios), Gaspar Gonçalves (Efapel), Rafael Reis (Glassdrive) Gonçalo Carvalho e António Barbio (Tavfer) e Bernardo Gonçalves (XSpeed United). Com isto, a Rádio Popular Boavista e a Kelly eram as únicas equipas continentais portuguesas sem homens na frente.

A equipa de Oliveira de Azeméis não adotou uma postura de perseguição coletiva por muito tempo, lançando Luís Gomes ao ataque, com Rafael Silva, Fábio Costa e Rui Oliveira, pelo que a frente da corrida passava a ter 14 elementos e uma vantagem que não tardou a ultrapassar os quatro minutos de vantagem para o pelotão.

A menos de 70 km do fim, Luís Fernandes e Tiago Leal abandonavam, um claro sinal de que o Boavista já não acreditava na vitória. Francisco Campos ainda tentou atacar, mas sem sucesso, pelo que a Fonte Nova-Felgueiras também ficava sem aspirações a lutar pela vitória. João Almeida acabou a corrida, mas não fez nada de relevo, com todo o protagonismo a passar para os dois colegas da Emirates.

A mais de 50 km para o fim, Ivo Oliveira atacou! Parecia um mero engodo para desgastar a Glassdrive e a Efapel, mas a situação mudou quando Gaspar Gonçalves perdeu o contacto e deixou Rafael Silva sozinho, com a formação de Águeda a ficar a única com dois ciclistas na frente, obrigada a sacrificar Rafael Reis, rolador capaz de ganhar corridas como esta, ou Fábio Costa, um ciclista com uma excelente ponta final. Para além disto, Rui Oliveira continuava no grupo, pelo que a Glassdrive podia muito bem acabar por levar, sem intenção, a que o título fosse para o outro gémeo.

A vantagem de Ivo Oliveira, que fez um autêntico contrarrelógio, chegou aos 3 minutos para o grupo perseguidor. Oliveira ainda quebrou um pouco, mas apenas no final. Ainda assim, a vitória para o ciclista de Vila Nova de Gaia não escapou e Ivo Oliveira sucede a João Almeida como campeão nacional de fundo. Aos 26 anos, junta esta vitória ao título nacional de contrarrelógio, conquistado em 2020 e à vitória de etapa no contrarrelógio inicial da Boucle de la Mayenne.

O dia ainda ia melhorar para os gémeos Oliveira, com Rui a garantir o 2.º lugar, depois de um ataque nos últimos km com Luís Gomes, que garantiu um lugar no pódio que chegou a parecer improvável para a Kelly/Simoldes/UDO. A UAE Team Emirates acaba como a grande vencedora do fim de semana de Ciclismo, ao envergar as duas camisolas de campeã nacional. Já na vertente feminina, os dois títulos ficam dentro de portas.

Sabe Mais!

Sabe mais sobre o nosso projeto e segue-nos no Whatsapp!

O Bola na Rede é um órgão de comunicação social de Desporto, vencedor do prémio CNID de 2023 para melhor jornal online do ano. Nasceu há mais de uma década, na Escola Superior de Comunicação Social. Desde então, procura ser uma referência na área do jornalismo desportivo e de dar a melhor informação e opinião sobre desporto nacional e internacional. Queremos também fazer cobertura de jogos e eventos desportivos em Portugal continental, Açores e Madeira.

Podes saber tudo sobre a atualidade desportiva com os nossos artigos de Atualidade e não te esqueças de subscrever as notificações! Além destes conteúdos, avançámos também com introdução da área multimídia BOLA NA REDE TV, no Youtube, e de podcasts. Além destes diretos, temos também muita informação através das nossas redes sociais e outros tipos de conteúdo:

  • Entrevistas BnR - Entrevistas às mais variadas personalidades do Desporto.
  • Futebol - Artigos de opinião sobre Futebol.
  • Modalidades - Artigos de opinião sobre Modalidades.
  • Tribuna VIP - Artigos de opinião especializados escritos por treinadores de futebol e comentadores de desporto.

Se quiseres saber mais sobre o projeto, dar uma sugestão ou até enviar a tua candidatura, envia-nos um e-mail para [email protected]. Desta forma, a bola está do teu lado e nós contamos contigo!

Filipe Pereira
Filipe Pereira
Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Bayer Leverkusen contrata avançado camaronês por 5 milhões de euros

O Bayer Leverkusen fechou a contratação de Christian Kofane. O avançado camaronês está ao serviço do Albacete.

Alverca tenta contratar guarda-redes do Pau FC

O Alverca está interessado na contratação de Bingourou Kamara. O guardião está em final de contrato com o Pau FC.

Barcelona de Kika Nazareth conquista Taça da Rainha

O Barcelona venceu este sábado o Atlético Madrid por 2-0 e conquistou assim a final da Taça da Rainha de Espanha.

Portugal x Espanha: Antevisão, Estatísticas e Dica de Aposta para a Final da Liga das Nações

Portugal e Espanha enfrentam-se este domingo, 8 de junho de 2025, na Allianz Arena, em Munique, numa final histórica da Liga das Nações.

PUB

Mais Artigos Populares

Mauro Xavier e Martim Mayer adiam possível candidatura à presidência do Benfica: «Tenho estado a estudar o caso com seriedade»

Mauro Xavier e Martim Mayer, possíveis candidatos à presidência do Benfica, adiaram decisão de avançar para as eleições.

Península Ibérica focada no ‘caneco’ da Liga das Nações | Portugal x Espanha

276 dias após a jornada inaugural da quarta edição da Liga das Nações eis que esta caminha oficialmente para o seu final.

João Diogo Manteigas e a próxima época do Benfica: «Ameaçada pelo mandato insatisfatório de quatro anos»

João Diogo Manteigas é um dos candidatos à presidência do Benfica. Advogado deixou críticas ao mandado atual.