Vingegaard VS Pogacar VS Os Outros: A antevisão do Paris-Nice

    O PERCURSO

    São 1201 quilómetros distribuídos por 8 etapas. A primeira liga começa e acaba na cidade de La Verriére. Uma etapa bastante acidentada, mas apenas com duas subidas categorizadas, mas com o destaque do dia a ir para o Côte de Dis-sept tournants, uma subida não categorizada, com 1,5 e uma pendente média de 4,7%.

    O alto fica a 6 km da meta, mas é um dia em que é difícil fazer diferenças entre os favoritos a não ser que existam cortes no pelotão, ou então que um ciclista como Pogacar, com perfil (não puro) de “puncheur” tenha intenções de surpreender. Ainda assim, a iniciativa deve partir de ciclistas como Luís León Sanchez ou Magnus Cort, puncheurs puros sem  ambições de lutar pela geral mas que procuram uma vitória e a possibilidade de vestir a primeira amarela da prova é sempre tentadora. Caso a eventual movimentação não ocorra ou seja mal sucedida, uma decisão ao sprint vai marcar o primeiro dia do Paris-Nice. O pelotão, ainda assim, deve chegar “aos bocados”, devido ao “sobe e desce” que marca este dia inaugural a afastar os ciclistas (incluindo alguns sprinters) que não aguentem o terreno inclinado. A colocação promete ser chave, num dia em que muitas equipas vão ter a única oportunidade de vestir a camisola amarela.

    A segunda etapa vai ser completamente tranquila. Ligação entre Bazainville e Fontainebleau. É um dia com muito pouco desnível e o expectável é uma chegada ao sprint. A terceira etapa é o contrarrelógio por equipas, a primeira hipótese mais séria de fazer diferenças na geral. Um circuito de 32,2 km em Dampierre-en-Burly. Um percurso algo acidentado, mas que não deve afetar quem beneficia de um percurso mais técnico. Um dia perfeito para equipas como a INEOS,  e a Jumbo-Visma ganharem tempo aos adversários, permitindo deixar mais do que um ciclista bem colocado na geral. Uma jogada que se pode revelar essencial para o primeiro dia de alta montanha que chega já na etapa 4.

    O contrarrelógio coletivo desta edição do Paris-Nice apresenta a particularidade de marcar o tempo da equipa a partir do  primeiro ciclista a cruzar a meta em vez de ser assinalado o tempo do terceiro ciclista a cortar a meta, como é habitual nas outras corridas em que se realiza este tipo de jornada

    À 4ª etapa, é dia da primeira de duas chegadas em alto no Paris-Nice. Uma etapa de 164,7 km liga Saint-Amand-Montrond a La Loge des Garde, numa chegada coincidente com o alto de uma contagem de 1ª categoria, com 6,7 km de extensão e 7,1% de pendente média. A subida caracteriza-se por um único km em que a pendente baixa dos 5% apenas para voltar aos 6,8% para os últimos 800 metros da corrida. Entre o segundo e o quarto quilómetro da contagem, a pendente nunca baixa dos 7%.

    Uma etapa que promete fazer diferenças sérias na geral, com ciclistas que precisem de recuperar terreno perdido no dia anterior, a poder atacar na fase inicial da subida  á Lodge des Gardes. Antes dessa contagem, todavia, estão três subidas bem menos duras, mas que servirão para os blocos executarem o habitual trabalho de desgaste. A existência de um sprint bonificado no topo do col de Bealouis subida que termina a pouco mais de 10 km da contagem final, faz a subida não categorizada ser o ponto-chave para perceber a urgência dos homens da geral em fazer grandes diferenças no dia.

    Segunda metade da prova chega com uma etapa de transição, propícia á vitória de uma fuga, mas dadas as poucas hipóteses para vencer etapas, os sprinters não quererão deixar esta hipótese passar ao lado. Etapa mais longa do Paris-Nice, são 212,5km a ligar Saint-Symphorien-sur-Coise a Saint-Paul-Trois-Châteaux. Uma etapa que arranca com duas contagens de segunda categoria e uma de terceira, um dia muito importante para quem estiver a lutar ou queira lutar pela classificação da montanha da prova. Tendo em conta o perfil plano que a segunda metade da etapa apresenta, será normal ver esses ciclistas a deixarem-se reintegrar no pelotão, caso uma ou mais equipas controlem a distância para o grupo da frente.

    Se há dia para atacar de longe é na etapa 6. A jornada abre com o Côte de la Roquebrussanne, uma subida de 3,6 km e com 4% de pendente média. Apesar de não ser uma contagem muito dura, vai ser interessante assistir á criação de uma fuga em que os respectivos elementos se colocam numa boa posição para discutir a classificação da montanha.

    O que mais chama a atenção são duas contagens, uma de segunda e outra de terceira categoria, ultrapassadas de forma quase consecutiva: o Côte de Caillan, em que os últimos 500 metros são a quase 10% de inclinação, seguido do Côte de Cabris, uma subida que não tem pendentes tão elevadas como o Caillan, mas que se estende por 5,3 Km e apela a ataques ou a uma última iniciativa de desgaste. Isto porque, depois de uma descida e de um pequeno vale, chega o Côte de la Colle-sur-Loup, com 500 metros a 15% de inclinação média, o local onde é mais provável ver os principais ataques acontecerem, até porque depois de uma pequena descida, os ciclistas enfrentam uma subida não categorizada, com um sprint bonificado no topo da Tourretes-sur-Loup(meio quilómetro com 12% de pendente média, subida muito explosiva).  O final é na Colle-sur-Loup, numa pequena inclinação, perfeita para ciclistas mais explosivos como Pogacar ou Romain Bardet.

    A etapa 7, a penúltima do 90º aniversário do Paris-Nice, é a típica etapa de montanha num Tour de France. Tem apenas duas subidas, caracterizadas mais pela sua extensão do que pelas suas pendentes. São duas primeiras categorias, mas a distância entre ambas (mais de 50 km) encoraja os ciclistas a guardar energias para o Col de la Couilolle, uma 1*categoria com 15,7 km de extensão. Uma subida muito consistente que nunca chega aos 10% de pendente mas que também não baixa dos 7,5%.

    Não é a melhor etapa para fechar grandes diferenças e os ataques, em condições normais, só devem surgir bem dentro da segunda metade da subida.

    A etapa 8, a última da corrida, é quase sempre um dos melhores dias de ciclismo do ano. São 5 contagens de montanhas, todas muito próximas entre si. A última é uma 1* categoria, o Col d’ Eze, com 6,1 km a 7,6% de pendente média, com 1 km a mais de 10% de inclinação. O alto do Eze fica a 16 km do fim, seguindo-se uma descida até á Praça dos Ingleses, local onde é tradicional assistir á conclusão da “Corrida do Sol”. Uma etapa que historicamente faz grandes alterações á corrida, remontando aos ataques de Alberto Contador (em 2016 e 2017) e de Marc Soler (em 2018), com este último a levar mesmo a amarela para casa.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.