Volta a Portugal’2015: Senhora da Graça seleciona, Torre definirá?

    Cabec¦ºalho ciclismo

    Passados mais três dias da Volta a Portugal em bicicleta, a dupla Gustavo Veloso e Délio Fernandez, da W52-Quinta da Lixa, cimentou ainda mais a sua posição no pódio, e a vitória está cada vez mais perto de ir para um deles.

    A terceira etapa trouxe-nos uma típica chegada ao sprint mas onde todo o cuidado era pouco, visto que, ainda assim, não era um final muito fácil. Para além da vitória indiscutível do melhor sprinter nesta competição, Davide Vigano, é preciso destacar o facto de Gustavo Veloso estar a tentar aproveitar quase todas as oportunidades para conseguir as conhecidas bonificações (não vá acontecer algo menos bom na Torre). Fez 2.º lugar nesta etapa, inclusive à frente de um puro sprinter como Manuel Cardoso, que também esteve muito bem e apareceu pela primeira vez em bom plano nesta Volta a Portugal. Nota para mais um top5 por parte de José Gonçalves e a presença de alguns favoritos à geral nos melhores da jornada, visto que esta era uma etapa que se previa que fosse a um sprint compacto entre os especialistas dessa modalidade, mas a verdade é que o final não era “amigável”.

    Apenas um aparte: neste dia, também houve a Clásica de San Sebastian, e há que destacar que Adam Yates a venceu de forma espetacular. Fez um grande ataque, esteve muito bem na descida e conseguiu controlar tudo da melhor forma até ao fim, sendo que, ao passar a meta, nem sabia que tinha ganhado. Incrível. Pelos vistos, houve alguma falha de comunicação, e o irmão gémeo de Simon Yates não se apercebeu de que era mesmo o primeiro a cruzar a meta. É de notar o pódio de Gilbert e Valverde em mais uma clássica. O belga volta aos grandes resultados, e o espanhol mostra que continua com a boa forma do Tour – será muito importante para a Vuelta que assim seja. Em relação ao top10, tem de haver um destaque para a presença de Alaphilippe – é realmente das maiores promessas do ciclismo (o mesmo se pode dizer do próprio Yates, que venceu, e do seu irmão gémeo, e isto só referente a esta corrida em específico, porque existem mais alguns de que já falei e que irão animar o ciclismo nos bons próximos anos – um deles, Caleb Ewan, fez ontem 2.º lugar na Volta à Polónia, apenas atrás do consagrado Marcel Kittel).

    Voltando à nossa Volta, à quarta etapa chega-nos a mítica subida à Senhora da Graça, e temos, até agora, o dia mais espetacular da nossa corrida. Os ciclistas e a própria etapa não desiludiram e, não fosse a prova ser menos reconhecida do que muitas outras, poderíamos ter aqui uma das melhores vitórias deste ano por parte de Filipe Cardoso, o grande vencedor do dia (claro que para nós será uma das melhores, mas em termos internacionais provavelmente terá pouco impacto). O “Sagan português” esteve na fuga do dia, fez uma excelente descida – mostrou imensa técnica (outra semelhança para com o próprio Sagan) – e conseguiu tirar proveito disso para ganhar a vantagem suficiente para encarar a dificílima subida da melhor forma.

    No quilómetro final, ainda era possível acreditar na vitória de Filipe Cardoso, apesar de os principais favoritos estarem a poucos segundos do português. Os metros finais vieram provar-se muito emocionantes, visto que, de entre os homens da geral, Joni Brandão (companheiro de Filipe) ataca – talvez mais para conseguir as bonificações e, também, caso Filipe não aguentasse, tentar a vitória na etapa. A verdade é que Filipe aguentou e deu o tudo por tudo para vencer. Muito bom, o gesto de Joni, dado que se assegurou de que não ultrapassava o seu colega e não lhe tirava uma justíssima vitória. Um sprinter/puncher a vencer na mítica subida à Senhora da Graça é algo para recordar nos “livros” do ciclismo português e, claro, para o próprio Filipe Cardoso. Esse dia serviu, igualmente, para comprovar que a W52-Quinta da Lixa (aproveitando as comparações, a “Sky portuguesa”) é mesmo a equipa mais forte da nossa Volta.

    O momento final de uma vitória que Filipe Cardoso certamente nunca esquecerá Fonte: Facebook da Volta a Portugal
    O momento final de uma vitória que Filipe Cardoso certamente nunca esquecerá. Fonte: Facebook da Volta a Portugal

    Gustavo Veloso voltou a estar bem e manteve o seu 1.º lugar; Alejandro Marque esteve melhor; Amaro Antunes voltou a fazer uma grande etapa (achava que seria Hernâni Broco a estar melhor, mas Amaro tem mostrado ser quem está mais em forma dos dois líderes da LA Antarte); Ricardo Vilela continua na discussão por um dos melhores lugares na nossa Volta, sendo que Rui Sousa (costuma estar muito melhor na etapa da Torre) e principalmente Ricardo Mestre poderiam ter feito melhor. O português da Tavira ainda tem todas as condições para terminar no top10, mas um pódio e essencialmente uma vitória estarão praticamente fora do alcance dele – por muito bom CR que possa fazer na penúltima etapa. Além disto, não podemos esquecer o trabalho muito bom de António Carvalho em prol dos seus líderes e o facto de ainda ter conseguido terminar no top10, bem como mais uma excelente prestação do Délio Fernandez. Se Veloso se mostrar menos forte, por exemplo, na etapa da Torre, acredito que Délio não terá problemas em atacar e ficar com o 1.º lugar (a vitória estaria à mesma na equipa da W52-Quinta da Lixa; provavelmente Gustavo Veloso conseguiria na mesma um lugar no pódio, e o facto de o próprio camisola amarela ter ganhado no ano passado poderá tornar-se numa vantagem para Délio, se alguma situação menos boa ocorrer).

    Por fim, a quinta etapa teve um final digno da clássica Paris-Roubaix. Foram três quilómetros de piso empedrado e onde José Gonçalves pôde finalmente levantar os braços e festejar uma justa vitória, de quem tanto tem tentado animar a nossa Volta e vencer exatamente uma etapa. O português parece estar mesmo “a fazer pela vida” para ir à Vuelta (tal como o seu companheiro Ricardo Vilela) com a Caja Rural. Délio Fernandez voltou a estar perto da vitória, mas perdeu no sprint para José. Ainda assim, tanto ele como Gustavo conseguiram, novamente, segundos de bonificação.

    Até agora, dá para perceber que o top5 final irá contar (além dos dois espanhóis), provavelmente, com Joni Brandão – cada vez mais parece que irá ser o melhor português desta Volta a Portugal – e Alejandro Marque (sendo que o espanhol ainda recuperará, em princípio, muito do tempo no tal contrarrelógio). O último elemento deste top5 será difícil de dizer, visto que ainda existem alguns ciclistas a lutar por isso, mas, neste momento, o já referido Amaro Antunes é o melhor colocado para tal.

    Por fim, destaco mais uma entrada na fuga do espanhol Alberto Gallego e, desta vez, apesar de não ter vencido, conseguiu o prémio da combatividade. Curiosamente, amanhã poderá ser mesmo uma etapa para a fuga vingar; veremos. A verdade é que metade da Volta a Portugal já foi cumprida (o dia de descanso é na Quarta) e, na Quinta, poderemos vir a ter, no final da etapa, muito da Volta definido na subida a Seia, a mítica etapa da Torre.

    Foto de capa: Facebook da Volta a Portugal

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    Nuno Raimundo
    Nuno Raimundohttp://www.bolanarede.pt
    O Nuno Raimundo é um grande fã de futebol (é adepto do Sporting) e aprecia quase todas as modalidades. No ciclismo, dificilmente perde uma prova do World Tour e o seu ciclista favorito, para além do Rui Costa, é Chris Froome.                                                                                                                                                 O Nuno escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.