Antonio Inoki: Adeus a um ícone

    3 – SUCESSO COMO LUTADOR

    Antonio Inoki, que tinha esse primeiro nome em homenagem ao lendário Antonio Rocca, atingiu a sua máxima popularidade na NJPW, onde influenciou o puroresu com a implementação do strong style, do qual Shinsuke Nakamura dizia ser o seu rei e que é hoje muito popular em lutadores como Bryan Danielson, Minoru Suzuki, Jon Moxley, Tomohiro Ishii ou Eddie Kingston.

    Em 1979, Inoki derrotou um certo Bob Backlund pelo Título da WWE, no entanto, a troca de títulos nunca foi reconhecida pela empresa. A desforra entre os dois terminou em “no contest”, Inoki recusou depois o título de campeão, que Backlund recuperou poucos dias depois num combate frente a Bobby Duncum. Mesmo assim, a WWE reconhece que Backlund teve um reinado ininterrupto como Campeão da WWE de 1978 a 1983.

    Curiosamente, na empresa que fundou, conquistou o título principal da mesma por três vezes – duas delas entre 1983 e 1987 (onde enfrentou um ainda jovem Hulk Hogan), mas esta era uma versão do IWGP World Championship que só durou quatro anos. Em 1987, Inoki foi o primeiro campeão da nova versão do título, com um reinado de 325 dias.

    A popularidade de Inoki devia-se muito ao seu “espírito lutador”, que este dizia que o guiava em todos os seus combates e lutas na vida. Inoki afirmava que poderia passar esse seu espírito a qualquer um através de um estalo na cara. O resultado? Filas de centenas de pessoas formavam-se para receberem um pouco do espírito de Inoki.

    A carreira de lutador de Inoki terminou em 1998, após uma tour de despedida de quatro anos, do qual destaco um combate brilhante com Big Van Vader em 1995. Inoki fez ainda uma aparição rara na World Championship Wrestling (WCW), onde enfrentou Steven (William) Regal. O último combate da sua carreira foi frente a Don Frye.

    Numa nota negativa, Inoki foi responsável por uma mentalidade que quase levava a NJPW à falência – o “inokismo”, que via o wrestling strong style como a melhor arte marcial de todas. Assim, no final do século XX, a NJPW passou a ter combates reais, sem nada planeado, entre lutadores de wrestling e de artes marciais.

    A ideia não agradou aos wrestlers, que abandonaram a empresa às dezenas e rumaram para a rival All Japan Pro-Wrestling; a NJPW perdeu muitos dos espetadores ao vivo e na televisão, onde o programa semanal passou para um horário mais noturno fruto das fracas audiências.

    A NJPW caminhava para a falência até que, em 2005, a produtora de videojogos Yukes comprou 51,5% das ações da mesma, removeu imediatamente Inoki da equação, assim como alguns dos lutadores de artes marciais que lá estavam, entre eles o campeão da altura… Brock Lesnar, que não aceitou baixar o seu salário.

    A NJPW começou depois a escalada rumo ao topo do wrestling japonês e atualmente está mesmo no pódio das maiores empresas de wrestling do mundo.

    4 – VIDA POLÍTICA

    Em 1989, Inoki foi eleito para a Câmara Alta do Parlamento Japonês pelo Partido Desporto e Paz (entretanto extinto). Enquanto legislador, viajou ao Iraque em 1990 para libertar reféns japoneses. Nessa mesma viagem, converteu-se ao islamismo e mudou o seu nome para Muhammad Hussain Inoki, algo que só revelou publicamente em 2012. Depois disso, Inoki dizia ser um convertido ao islão, mas também um budista.

    Deixou o parlamento em 1995, mas em 2013 voltou a ser eleito, desta vez para o Senado.

    Ao longo da sua carreira, estabeleceu laços de negociação com a Coreia do Norte, que visitou várias vezes para ajudar japoneses que haviam sido sequestrados por Pyongyang durante a Guerra Fria.

    Essa relação com a Coreia do Norte (território onde curiosamente nascera o seu mestre, Rikidozan, quando este estava sob o domínio japonês), resultou no maior evento de wrestling de sempre – o Collision in Korea, em abril de 1995.

    Foi um evento de dois dias, no estádio Rungnado May Day (ainda hoje, o maior do mundo), cujo main-event foi o único combate de sempre entre Antonio Inoki e Ric Flair. Alegadamente, terão assistido a esse combate cerca de 190 mil pessoas. No entanto, como expectável, todos esses espetadores estavam lá de forma forçada.

    Este evento é uma história fascinante do wrestling, e que merecerá a atenção num artigo futuro.

    5 – EPÍLOGO

    Inoki só terminou a sua carreira política em 2019; em 2020, revelou padecer de uma doença cardíaca e terá passado o último ano da sua vida confinado a uma cadeira de rodas.

    A sua imagem pública é parca nestes últimos anos, mas quem conviveu com ele, como Dave Meltzer, nota que o seu tamanho e altura reduziram bastante.

    Inoki faleceu na noite do dia 30 de setembro para um de outubro, vítima de amiloidose – uma doença que deposita proteínas insolúveis em órgãos e tecidos, causando neles danos.

    Após a sua morte, viu-se uma chuva de homenagens nas redes sociais vindas de inúmeros lutadores e de outras personalidades.

    Foi uma vida verdadeiramente memorável, influente a nível desportivo, de entretenimento e até político e social. Por isso é que o legado de Antonio Inoki viverá durante longos anos.

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    Afonso Viana Santos
    Afonso Viana Santoshttp://www.bolanarede.pt
    Desde pequeno que o desporto faz parte da sua vida. Adora as táticas envolvidas no futebol europeu e americano e também é apaixonado por wrestling.