Apesar de o Dakar ter sido uma etapa muito importante da sua carreira, o percurso do piloto tem muita mais história por trás.
A paixão pelas motas surge desde cedo, graças ao seu pai e à sua oficina. Talentoso, as suas capacidades rapidamente foram reconhecidas. Inicia então nas corridas de motocross, tendo sido um pequeno passo no que viria a ser a sua carreira.
Foi no motocross e no supercross que teve os seus primeiros sucessos, conquistando vários títulos nacionais. Nesta época, Joaquim Rodrigues Jr. era o seu maior adversário e, quis o destino que, mais tarde, aquele com quem disputava títulos, se tornasse seu cunhado.
A alcunha de “Speedy” Gonçalves advém da sua rapidez e da sua baixa estatura (1.68 metros) comparado com os adversários, que haveria de se tornar a sua imagem de marca, à semelhança dos desenhos animados de “Speedy González”. Mas, apesar da referida baixa estatura, o piloto compensava com a sua agilidade e capacidade atlética.
No início da década de 2000, acumulou o motocrosse com o Enduro, onde conquistou quatro títulos na categoria e um absoluto.
Foi na edição de 2006 que que se estreou no Rally Dakar com a vinda da competição para Portugal. Essa mesma edição do Lisboa-Dakar 2006 mostrou a fibra e tenacidade reconhecida ao piloto português. A sua determinação era tão grande que chegou a falar-se que, na altura, vendeu o seu Audi TT que tanto gostava para o ajudar no financiamento da sua primeira participação no Dakar. Uma queda logo na primeira etapa em Marrocos danificou bastante a mota. Acabou por passar parte da madrugada a tentar segurar as peças em cima da mota para conseguir chegar ao acampamento.
Nesses dois anos em que a prova passou por território português, os resultados não foram brilhantes (25.º e 23.º), mas aprofundou o seu gosto pela competição e foi acumulando experiência até chegar a realizar a prova na América do Sul.
A experiência acumulada começou a dar frutos e, em 2013, tornou-se no segundo piloto português a sagrar-se campeão mundial de ralis de cross-country.
Em 2015, conseguiu o seu melhor resultado no Dakar, ao terminar em segundo, tendo vencido uma especial.
Paulo Gonçalves era um benfiquista assumido e chegou a ser patrocinado pelo seu clube. Em 2019, trocou a Honda pela Hero onde encontrou o seu cunhado e grande rival de início de carreira, tornando-se seu companheiro de equipa.
Este ano enfrentou o Dakar com a mesma garra de sempre. Na terceira etapa, voltou a ter um ato de resiliência. Com o motor partido, o piloto esperou seis horas pelo camião de assistência e trocou o motor em plena etapa.
On one of the Dakar’s saddest days, Portuguese rider Paulo Gonçalves left us.
Present throughout the Dakar’s history, everyone in the Dakar family will forever hold him in their hearts.
Rest in peace, Paulo#Dakar2020 pic.twitter.com/b1bEudE9Li
— DAKAR RALLY (@dakar) January 12, 2020
Paulo Gonçalves foi o 25.º concorrente a morrer em prova nas 42 edições do Rali Dakar. A morte do português causou uma enorme perturbação no mundo do desporto e não só. Muitas lágrimas foram derramadas no seu país por ter partido, muitas cerimónias e discursos em sua homenagem.
A sua morte levou, inclusive, Stephane Peterhansel, também piloto a competir no Rally Dakar, a questionar se a competição vale a pena o risco. Dúvida que fica no pensamento, não só de Peterhansel, mas de muitos desportistas, de muitos portugueses…
Após tantas quedas, tantos entraves a grandes vitórias, consecutivos problemas mecânicos e após tantas soluções muitas vezes criadas com as suas mãos, o pior aconteceu. Paulo da Silva Gonçalves deixa-nos aos 40 anos, enquanto um dos melhores pilotos de sempre do motociclismo português.
Que a sua alma descanse em paz.
Ficarás para sempre na nossa memória. O mundo do desporto motorizado ficou mais pobre. Até sempre, Campeão. Até sempre, “Speedy”.
Foto de Capa: Dakar Rally
Artigo revisto por Diogo Teixeira