UFC Fight Night 62: Maia vs LaFlare – Um abre-olhos para LaFlare

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    É em noites como esta que se percebe o verdadeiro valor de uma onda invicta: simultaneamente tudo e nada. Tudo para quem a carrega, nada para quem a enfrenta. LaFlare acusou o peso desta e das quatro vitórias seguidas por decisão, na UFC. Demian Maia mostrou indiferença ao recorde e que experiência pode valer mais do que um zero no registo de derrotas.

    O que o Fight Night 62 tinha em falta de nomes sonantes certamente compensou em espectacularidade. Dos seis combates, cinco terminaram por finalização, e em todos estes se viu uma finalização diferente.

    O começo do cartaz principal, com o combate entre Godofredo “Pepey” e Andre Fili, não poderia ter sido melhor. “Pepey” entrou frenético, com um pontapé saltado, a levar o combate a Fili. Eventualmente, consegue uma projecção. Fili recupera, levanta-se e encosta Godofredo à rede, no clinch. É nesta altura que o finalista do The Ultimate Fighter: Brazil, “Pepey”, tem um momento de génio. Fili levanta Godofredo para um slam, e este, usando a rede como apoio, propulsiona-se e prende as pernas em Fili, em preparação de Triângulo. Leva o combate para o chão, encaixa bem a manobra e, após o desgaste de Fili, faz com que este bata, aos três minutos e 14 segundos da primeira ronda. Esta finalização fez com que arrecadasse, merecidamente, um prémio de performance da noite, o terceiro seguido. Segue-se um combate contra um lutador do ranking para “Pepey”?

    Godofredo “Pepey” a preparar o triângulo que mais tarde lhe daria a vitória sobre Andre Fili Fonte: UFC
    Godofredo “Pepey” a preparar o triângulo que mais tarde lhe daria a vitória sobre Andre Fili
    Fonte: UFC

    Após um óptimo começo, Gilbert Burns e Alex Oliveira tinham a missão de manter o nível estabelecido por “Pepey”, algo que fizeram com sucesso. Na sua estreia pela UFC, Alex Oliveira mostrou toda a sua qualidade, entrando solto e com vontade de assumir as rédeas do combate, levando constantemente a luta a Burns, que ao final da primeira ronda já ostentava algumas “medalhas” na cara, atribuídas por Oliveira com um belíssimo trabalho de mãos. Na segunda ronda, apesar de algumas tentativas de derrube por parte de Burns, viu-se mais do mesmo. À entrada para a terceira ronda ouviu-se, do canto de “Cowboy” Oliveira, “Mais uma ronda e o mundo saberá quem tu és”. Mas foi nessa mesma ronda que Oliveira caiu. Não podemos saber se essas palavras o afectaram, mas a realidade é que Burns entrou forte, com uma projecção, e rapidamente conseguiu a montada. Tentou um Triângulo, que se tornou em Omoplata.

    Persistiu nesta manobra na maior parte da ronda, mas Oliveira ia defendendo com sucesso e acabou por se conseguir soltar. Burns rapidamente tentou outro Triângulo, mas Oliveira conseguiu, mais uma vez, impedir que Burns encaixasse a manobra. No entanto, e num erro que demonstra a falta de experiência em Jiu-Jitsu de Oliveira, este deixa o braço, oferecendo a Burns a oportunidade de um Armlock que não a desperdiçou, fazendo Oliveira bater aos quatro minutos e 14 da última ronda. Apesar da derrota de Oliveira no papel, neste combate, e pelo espetáculo que deram, ambos saíram vencedores. Burns ampliou o seu registo de invencibilidade para 10-0, e Alex Oliveira deu-se, apesar de tudo, a conhecer ao mundo.

    A única luta feminina do cartaz principal foi uma das mais curtas, mas uma das mais interessantes. Amanda Nunes e Shayna Baszler procuraram, neste domingo, mostrar que tinham valor para “voos mais altos”. Amanda Nunes, no entanto, foi a única que mostrou ter esse valor, derrotando uma das pioneiras do MMA feminino com relativa facilidade. Nunes fez bom uso da sua força, ao mesmo tempo que soube calcular e ser certeira, distribuindo alguns pontapés baixos a Baszler, que se encontrava estática. Uma sequência de socos na cara seguido de um pontapé frontal à barriga magoaram Baszler ainda mais, sem que esta mostrasse qualquer tipo de reacção.

    Ao minuto e 54 segundos, Amanda Nunes acerta outro pontapé baixo ao joelho de Baszler, que cede e fica de joelhos no octógono, à espera da paragem do combate, algo que o árbitro Mario Yamasaki rapidamente fez. Amanda Nunes, com esta vitória através de K.O técnico, reinseriu-se assim na lista de candidatas ao título de Ronda Rousey. Baszler, no entanto, ainda não conseguiu vencer na UFC.

    Tony Martin e Leonardo Santos continuaram a tendência do evento, protagonizando mais um combate com finalização. Os pesos leves ofereceram-nos uma primeira ronda algo apática, com muito jogo encostado à rede. A segunda ronda, no entanto, foi completamente diferente. A entrada foi, desta vez, mais agressiva por parte de ambos. Tony tentou a projecção de Santos, mas foi o último quem acabou por raspar, de forma fenomenal, diga-se, conseguindo a montada. Tony, em tentativa de defesa, dá as costas a Santos, que facilmente capitaliza, encaixando um Mata-Leão e submetendo assim Tony Martin, que leva agora três derrotas seguidas, aos dois minutos e 29 segundos da segunda ronda.

    No co-evento principal, Erick Silva e John Koscheck protagonizaram mais um combate rápido. Koscheck aceitou esta luta em curto prazo, disponibilizando-se assim para combater apenas três semanas depois de ter perdido contra Jake Ellenberger. O seu desejo era, obviamente, mostrar que ainda tinha valor enquanto lutador. No entanto, parece que o tiro lhe saiu pela culatra. “Kos” entrou, de facto, com vontade de ganhar cedo, agressivo. Rapidamente tentou uma projecção a Silva, acabando por encostá-lo à rede e desferir uma forte cotovelada de direita.

    Após separação do árbitro por empate do combate, Silva consegue desferir uma esquerda a Koscheck, que o abala mas acaba por conseguir controlar Silva na guarda, que aproveita para desferir mais alguns golpes. Com o combate de novo em pé, Silva passou a controlar. Após uma tentativa de projecção por parte de Koscheck, Silva aproveita a exposição do pescoço do americano para encaixar uma guilhotina, levando-o para o chão e fechando a guarda, não dando chance de escapatória a Koscheck, que acabou por bater. Após mais uma derrota, a quinta seguida, será certamente esta a altura certa para Koscheck se retirar e não manchar (mais) um legado incontornável na história da UFC. Erick Silva, esse, catapulta-se novamente para combates de perfil mais elevado, nos quais provavelmente espera conseguir afirmar-se de vez.

    O evento principal foi o único que não terminou com uma finalização. Isso, no entanto, não fez com que este combate se tornasse desinteressante, nem com que a sua espectacularidade diminuísse, antes pelo contrário. Damien Maia e Ryan LaFlare proporcionaram-nos um combate ao estilo “professor vs aprendiz”. Infelizmente para LaFlare, este teve que se contentar com o último papel. Podemos usar a mesma síntese para todas as rondas, à excepção da última: Damien Maia projecta LaFlare, controla-o no chão, seja nos 100 quilos, seja na montada. Por vezes procura uma submissão, por outras limita-se a distribuir alguns socos, até ao final da ronda.

    Todo o combate foi assim. Damien Maia (calções azuis) fez aquilo que bem entendeu e deu a LaFlare uma verdadeira lição Fonte: UFC
    Todo o combate foi assim. Damien Maia (calções azuis) fez aquilo que bem entendeu e deu a LaFlare uma verdadeira lição
    Fonte: UFC

    Maia venceu quatro rondas ao usar sempre o mesmo jogo. LaFlare só na última ronda se apercebeu daquilo que tinha de fazer: impedir que o jogo fosse para o chão, encurtar os espaços a Maia e levar-lhe a luta, não o contrário. Parece, de facto, incrível que só ao final de quatro rondas a ser completamente dominado por Maia no Jiu-Jitsu LaFlare encontrasse o rumo que tinha de tomar. Por essa altura, era tarde demais. Maia apercebeu-se de que a nova postura de LaFlare no combate representava um perigo, pelo que propositadamente se ia colocando no chão, como forma de queimar tempo e cortar o ritmo do combate. Já tinha ganhado por decisão, o combate já era dele. Foi uma verdadeira lição de Maia, que, aos 37 anos, mostra ter uma nova vida na categoria. Talvez não para combater pelo título de Robbie Lawler mas para servir de “gatekeeper” da divisão, onde só entra quem por ele passar. Quanto a LaFlare? Que a quinta ronda deste combate lhe sirva como ponto de viragem. Vai ter de voltar à tabula rasa para mais tarde poder bater novamente à porta.

    Foto de Capa: UFC

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    Gonçalo Caseiro
    Gonçalo Caseirohttp://www.bolanarede.pt
    Entusiasta de MMA e futebol, o Gonçalo apoia fervorosamente o Benfica e a ideia de que desportos de combate não são apenas socos e pontapés.                                                                                                                                                 O Gonçalo não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.