
No arranque desta temporada 2025/2026, há um rugido que ecoa mais alto. Mas, ao contrário do que se pudesse acreditar, esse som tem origem em Oeiras, no pavilhão dos Leões de Porto Salvo, anunciando aquilo que pode ser mais do que um simples bom começo de campeonato. Cinco jogos, cinco vitórias, 27 golos marcados e apenas oito sofridos, rendem, neste momento, o primeiro lugar na classificação, ao lado do Benfica, que acaba de vencer o dérbi eterno frente ao Sporting. É verdade que a procissão ainda vai no adro, mas o que se tem visto nestas primeiras jornadas não é apenas um sinal de um começo promissor, mas sim uma afirmação de um projeto sólido e de futuro.
Os Leões de Porto Salvo estão a viver um dos melhores momentos da sua história recente. A equipa respira confiança, e essa confiança transborda para a quadra. Os números não mentem e, de facto, neste caso não podiam ser mais expressivos: só nos últimos dois encontros, vimos uma vitória por 10-4 sobre o Famalicão, marcada por uma avalanche ofensiva e uma taxa de concretização fora do comum, seguida do triunfo por 4-2 frente à Quinta dos Lombos, num dérbi sempre exigente (apesar do não tão bom momento da equipa da linha), no qual os Leões mostraram controlo, intensidade e serenidade de quem acredita no que faz.
Mais do que os números, impressiona a consistência. Os Leões de Porto Salvo não estão apenas a vencer, estão a convencer. A equipa tem mostrado um futsal bastante dinâmico e de grande capacidade de tomar conta dos jogos, sendo capazes de gerir ritmos e de se adaptar a diferentes estilos de adversário. A coesão defensiva, por sua vez, é fruto de um trabalho que já vem de longe e que combina organização tática com entrega e solidariedade entre setores. É este equilíbrio que leva a equipa de Claúdio Moreira ser considerada, já à quinta jornada, a grande sensação deste campeonato.
E como uma equipa é feita, também, das suas individualidades, há um nome que se destaca neste início de época. Ruan Silvestre, o número 10 brasileiro, tem sido o rosto da eficácia ofensiva dos Leões neste arranque. Apontou sete golos em cinco jornadas e lidera isolado a tabela de marcadores, em grande parte graças à sua forte presença física e técnica que causa desequilíbrios constantes nas defesas adversárias.
O segredo, no entanto, não é de todo uma fórmula instantânea. Já há vários anos que, em Porto Salvo, se prepara um projeto em que a palavra “crescimento” serve de mote para a implementação de uma cultura assente na formação e continuidade técnica. O clube foi subindo degrau a degrau, modernizando estruturas e apostando na formação de atletas. Por isso, hoje, colhe os frutos que semeou: uma equipa sólida, trabalhada em torno da valorização de talento próprio, plena de personalidade vencedora e conhecedora de toda uma estrutura que vem crescendo de forma bem sustentável.

Esse percurso faz lembrar o que o Braga vem fazendo. Uma ambição sustentada, longe dos orçamentos milionários dos “grandes”, mas sempre com armas apontadas aos quatro primeiros e, de vez em quando, na procura de levantar um troféu. Os Leões olham para esse modelo e seguem-no à sua maneira, com uma mistura saudável de prudência e fome de vitória.
Ainda assim, há que manter os pés assentes na terra. É verdade que os atuais líderes estão a viver um momento de afirmação, mas ainda não enfrentaram nenhum dos principais candidatos ao título: Benfica, Sporting e Braga. Esses duelos serão, inevitavelmente, o teste de fogo que permitirá perceber até onde pode ir este projeto. No entanto, o que se viu até agora é mais do que suficiente para garantir respeito e expectativa. Esta equipa dos Leões de Porto Salvo não é apenas uma equipa bem organizada. Joga com alma, com uma fé no seu processo que se sente a cada jogo disputado e apresenta-se com a confiança de quem sabe que está a construir algo importante.
O objetivo assumido é realista e passa por consolidar presença entre os quatro primeiros da Primeira Liga portuguesa e, possivelmente, tentar erguer um troféu nas competições de taça, onde as surpresas são mais prováveis e o fator emocional acarreta sempre algum protagonismo. Poucas certezas existem relativamente a quais serão os verdadeiros resultados desportivos, contudo restam poucas dúvidas quanto ao crescimento competitivo do clube e de que a distância para os melhores está cada vez mais curta.
No fim, o ímpeto dos Leões de Porto Salvo faz-se sentir não apenas nas vitórias, mas na forma como têm elevado o nome do clube e dado um novo interesse ao futsal português, quebrando (pelo menos num momento inicial) a dicotomia entediante a que os últimos anos nos têm habituado. Agora, resta-nos esperar que o novo rugido dos Leões ecoe um pouco por todos os pavilhões e faça vibrar, cada vez mais, uma liga que não se quer adormecida.