
TUDO VALE A PENA, QUANDO A ALMA NÃO É PEQUENA
O Portugal dos pequenitos tornou-se novamente o Portugal dos Gigantes. Numa final de arrepiar, a seleção das quinas conquistou o bicampeonato europeu de futsal Sub‑19, superando a Espanha por 3‑2 após prolongamento. A Chisinau Arena vibrou durante os 50 minutos de jogo, com emoção, intensidade e momentos de pura tensão, enquanto os jovens lusos escreviam mais um capítulo de ouro da escola portuguesa de futsal.
Desde o primeiro minuto, Portugal entrou determinado a impor o seu ritmo. Eurico Cunha, Martim Castela, Renato Almeida, Tiago Rodrigues e Rodrigo Monteiro alinharam de início com o objetivo claro: controlar o jogo, dominar a posse e criar oportunidades. A Espanha, por sua vez, adotou uma postura mais reativa, procurando explorar o contra‑ataque e ferir a defesa lusa com transições rápidas e incisivas. O equilíbrio foi a nota dominante da primeira parte, mas Portugal sentiu a pressão da competitiva equipa espanhola à medida que o intervalo se aproximava. Erros individuais e perdas consecutivas de bola deram espaço a Miquel González e Ruano para ganharem confiança, obrigando o guarda redes português a brilhar em diversas ocasiões.
Aos 15 minutos da primeira parte, a agressividade espanhola deu frutos. Javi Bule, o guarda-redes espanhol, subiu na construção, serviu Miquel González na esquerda, que cruzou rasteiro, surgindo Ruano, que rematou com potência para inaugurar o marcador: 0‑1. Apesar de Portugal ter mostrado maior perigo em transições rápidas e ataques organizados, a eficácia espanhola e a qualidade do seu guardião fizeram a diferença.
O segundo tempo trouxe ainda mais drama. Portugal iniciou pressionado a reagir e a criar várias oportunidades de golo, mas a finalização continuava a faltar. Rodrigo Monteiro, em destaque, rematou por cima após um grande passe de Tiago Rodrigues aos 12 minutos, e Renato Almeida acertou na barra aos 29 minutos, num lance de transição rápida. Mas, no minuto 10 da segunda parte, Nacho Olivares aproveitou um passe incisivo de Miguel González e rodou sobre a defesa lusa, aumentando para 0‑2 a vantagem. “Nuestros hermanos” era cada vez mais uma expressão com pouco sentido na história deste encontro e foi então que Portugal vestiu o fato-macaco e foi à luta.
Apesar do desperdício, os nossos jovens nunca perderam a fé. Não foi preciso muito tempo até haver sinais de força lusitana. Simão Cordeiro reduziu a desvantagem para 1‑2, ao aproveitar uma recarga dentro da área após luta intensa entre dois defesas espanhóis. A equipa lusa apostou então no 5×4 nos instantes finais. Tiago Rodrigues, assumindo o papel de guarda‑redes avançado, igualou a partida aos 48 minutos: recarga de Rodrigo Monteiro e golo decisivo do próprio Rodrigues, 2‑2! A emoção era palpável, e ambas as equipas passaram os minutos finais a medir forças, preparando-se para o prolongamento.
No prolongamento, o ritmo abrandou, reflexo do cansaço acumulado. Na primeira metade, as oportunidades foram escassas, mas Portugal mostrou ligeira superioridade, controlando a posse e evitando erros fatais. Na segunda parte, a Espanha cometeu a sexta falta, dando a Portugal a oportunidade de um livre de 10 metros, defendido por Iker Adad, que ainda impediu o triunfo imediato. Mas o melhor estava guardado para os últimos segundos. A 14 segundos do fim, Renato Almeida cruzou rasteiro da esquerda e Tchuda, oportuno, encostou para o 3‑2 final. Portugal segurou a vantagem até ao apito final e ergueu o troféu, revalidando o título europeu Sub‑19 e igualando o palmarés histórico da Espanha.
A CAMINHADA ATÉ À FINAL
A campanha portuguesa foi quase perfeita. Na fase de grupos, Portugal destacou-se pelo equilíbrio entre ataque e defesa: 21 golos marcados e apenas 1 sofrido. Vitória expressiva sobre Itália (7‑1) e Moldávia (10‑0) demonstrou o talento coletivo e a maturidade desta geração. Nas meias-finais, Portugal reencontrou a Eslovénia, adversário da última edição, e confirmou o favoritismo com um triunfo seguro, cimentando o estatuto de grande candidato ao título. A Espanha, maior vencedora histórica com dois títulos, assumiu a autoridade que lhe é reconhecida, enquanto outras seleções como a Ucrânia surpreenderam e marcaram presença nesta fase decisiva.
HERÓIS EM CHISINAU
A final teve figuras que se destacaram de forma inequívoca. Tiago Rodrigues o protagonista da reviravolta, marcando o golo do empate e mostrando coragem e precisão nos momentos decisivos. Simão Cordeiro também brilhou, apontando o seu primeiro golo no torneio e dando esperança à equipa lusa quando tudo parecia perdido. Eurico Cunha e Renato Almeida desempenharam um papel decisivo em todos os momentos críticos, oferecendo solidez defensiva, criatividade e soluções ofensivas que mantiveram Portugal no caminho certo.
O bicampeonato europeu Sub‑19 de futsal consolida Portugal como potência emergente e mantém viva a tradição de excelência da escola lusa. Igualar a Espanha em número de troféus reforça a competitividade entre as duas seleções e sublinha a qualidade desta geração, que promete levar o nome do país ainda mais longe no futsal internacional. O triunfo é também um exemplo do espírito de equipa, resiliência e crença que caracterizam o desporto português, e uma inspiração para futuros talentos que sonham com glória nos palcos europeus.
Portugal chega ao fim deste torneio com a certeza de que, mais uma vez, fez história. O sonho europeu renasceu em Chisinau, e os jovens lusos mostram que a escola portuguesa de futsal não só forma vencedores, como também escreve histórias de coragem, raça e talento, que serão lembradas durante muitos anos.