
“É dia de jogo”, cantam os adeptos do Sporting, com um entusiasmo que nem a ausência de rulotes e cafés esfria. “Toda a gente sabe que eu vou”, continuam. E quem se atrevia a faltar? O Barcelona tinha ficado para trás, numa eliminatória épica. Em pleno Palau, o 22 vezes campeão da Europa em patins havia sido incapaz de contrariar uma turma verde-e-branca que ali estava não para passear Ramblas acima e Ramblas abaixo, mas para defender a vantagem da primeira-mão.
Depois de Barcelona, eis o Porto. Sem Ramblas, mas com muito para ver. De novo, o Sporting não veio passear. Ao meio-dia há jogo. O FC Porto é o último obstáculo antes da final. Depois do maior campeão, o campeão em título. O caminho não podia ser mais difícil. Mas, como escreveria numa qualquer rede social uma adolescente que acredita estar a viver o momento mais depressivo da sua vida, os caminhos difíceis são os que levam a finais felizes.
Ao cabo de 50 minutos, o Sporting chega ao fim do penúltimo troço de caminho e… vem mesmo aí uma final. Ainda não se sabe se será feliz. Pouco importa agora, o 6-5 sobre o rival azul-e-branco é para ser saboreado enquanto se olha atentamente o confronto entre UD Oliveirense e OC Barcelos. Os adeptos na bancada do Pavilhão Rosa Mota avisam: “E p´rá semana cá estou outra vez”.
O cântico precisa de um ajuste: a final é já amanhã. Sabe-se agora que frente à UD Oliveirense, que após um 3-3 eliminou nos penaltis a equipa de Barcelos. O dia de amanhã, sabemo-lo, vai ser histórico. Uma vitória unionista dá o título europeu inédito ao clube de Oliveira de Azeméis. Uma vitória leonina – a quarta na prova – dá ao Sporting o estatuto de clube português mais vezes campeão da Europa.
É domingo. É, ouve-se de novo, dia de jogo. E que jogo. Edo Bosch, treinador da UD Oliveirense, joga hoje a terceira final consecutiva da Liga dos Campeões. Perdeu as duas anteriores. Controlo emocional, dizia ontem. É preciso controlo emocional. Na verdade, citava Alejandro Dominguez, técnico do Sporting. Sê-lo-á até final da temporada. Edo, diz-se, vai ocupar o lugar. É dia de jogaço a todos os níveis.
São 15h00. A bola começa a correr na pista, ao som de bruaás altíssonos intercalados de silêncios ainda mais ensurdecedores vindos das bancadas. As claques dão o mote de um lado e do outro. Marca o Sporting. Marca a UD Oliveirense. Marca o Sporting. Não marca mais ninguém. O rei da selva é rei da Europa. Os irmãos Platero abraçam-se. Matias consola o irmão mais novo, Franco felicita o irmão mais velho.
A cera da pista mistura-se com as lágrimas que caem de todos os rostos. As de felicidade são abafadas intermitentemente por saltos e cânticos, as de desilusão não cessam. Ainda não é desta que a UD Oliveirense levanta o caneco. Até levantar a cabeça está difícil. Torna-se mais fácil agora: “quem bate palmas é União”, cantam para dentro da pista os adeptos oliveirenses. O pavilhão é deles.
Mas o Sporting é campeão e os adeptos leoninos não deixam tal facto no olvido. É isso que cantam agora. “Campeões, campeões, nós somos campeões”. Ninguém o pode contestar: é um facto. Consumado e justificado. Agora materializado: está levantada a taça! Amanhã é dia de trabalho. Hoje é dia de jogo. Hoje é dia de festa. Amanhã logo se vê.