

Os Dodgers e os Blue Jays acabaram de disputar o que poderá ter sido a melhor World Series de sempre, não só em termos do talento em campo, mas também em termos de histórias. Cada jogo, cada inning, cada pitch carregava com ele as esperanças de um país inteiro contra a coroação de uma das duas melhores equipas que o baseball já viu. Antes de poder analisar os jogos que fizeram deste o evento do ano, acho que é importante voltar exatamente um ano para trás e ver
Como é que chegámos aqui?
Os Dodgers acabaram o ano passado da forma como qualquer outra equipa pretende: ao ganharem o último jogo dos playoffs e a sagrarem-se World Series Champions. Uma vitória mais que merecida contra os Yankees, numa final poética entre os vilões do passado a serem derrotados em cinco jogos contra os vilões do presente.
Chamar os Dodgers de vilões não deve ser visto como um insulto. Talvez não seja muito simpático, mas este termo serve para apelidar o que foi uma equipa historicamente excelente e repleta de talentos fora deste mundo.
No início deste ano, já muitos tinham desistido da época e assumido mais uma vitória para a equipa de Los Angeles, principalmente quando durante a off-season estes adicionaram Blake Snell, um pitcher de 32 anos que dominou a liga onde quer que esteve, mas que devido a lesões afastou várias equipas de lhe oferecerem o contrato que ele merecia.
No entanto, não foi essa contratação que desanimou e devastou o mundo do baseball, mas sim a de Roki Sasaki. Também ele um pitcher, Roki tem apenas 23 anos e o jovem japonês era o grande prémio da off-season, com várias equipas interessadas. Mas no fim foram os Dodgers que juntaram Sasaki ao seu excelente arsenal de talentos japoneses, como Yamamoto e Shohei Ohtani.
Tal como qualquer outro vilão que parece indestrutível, os Dodgers passaram o ano a baixar a guarda de todas as equipas na liga e, com um recorde final de 93-65, alcançaram o terceiro lugar na National League.
Este recorde não conta a história do que foi um ano cheio de altos e baixos, onde os Dodgers voltaram a ser um dos melhores ataques da liga, ficando em segundo em termos de runs com 825 e homeruns com 244. Isto em grande parte graças a Shohei Ohtani, que marcou mais runs que qualquer outro jogador na liga e acabou o ano com 55 homeruns. Para além disso, a superestrela japonesa voltou a conseguir jogar como pitcher, e ao mais alto nível, a ceder apenas 2,87 runs por jogo.
O problema veio com o resto da equipa, que foi consistentemente inconsistente, como foi o caso de Mookie Betts, o MVP em 2018 que este ano, devido a uma doença que sofreu durante a off-season, acabou por ter uma época muito abaixo do seu nível.
De qualquer forma, os Dodgers entraram nos playoffs com as expectativas que palcos maiores iriam tirar o melhor dos seus jogadores não chamados Shohei Ohtani ou Freddie Freeman, e assim foi.
Os Dodgers ganharam a série à melhor de três em dois jogos, com vitórias esmagadoras de 10-5 e oito-quatro, com o Mookie Betts a ser o melhor jogador em campo no segundo e decisivo jogo, sendo responsável por três das oito runs que os Dodgers marcaram.
Na ronda seguinte, os Dodgers enfrentaram os Phillies no que só pode ser descrito como uma guerra de pitching. Três dos quatro jogos a serem decididos por duas ou menos runs, no que acabou por ser uma vitória dos Dodgers, com a série à melhor de cinco a acabar três-um. Os Phillies mostraram uma capacidade ainda não vista de branquear Ohtani, que acabou com apenas uma rebatida nos quatro jogos.
No entanto, foi o ponto talvez mais fraco dos Dodgers este ano que os levou à vitória: com um bullpen muitas vezes criticado, Dave Roberts, treinador dos Dodgers, confiou nos jogadores certos nas alturas certas, como foi o caso com Roki Sasaki. O jovem japonês teve um primeiro ano muito complicado com os Dodgers e na MLB, que viu o jogador a chorar no banco devido às suas más performances. Mas nos playoffs foi utilizado regularmente para fechar jogos, e foi o que ele fez nos dois primeiros jogos desta ronda, ambos vitórias para os Dodgers.
No final do que foi a guerra contra os Phillies, os Dodgers tinham mostrado um nível de perseverança e foco que não foi surpresa nenhuma quando eliminaram os Brewers, equipa com o melhor recorde na National League e na MLB, em quatro jogos.
No final do quarto jogo, uma vitória tranquila dos Dodgers por cinco-um, muitos nas redes sociais já tinham coroado os Dodgers como campeões. E ainda mais tinham começado a expressar um sentimento que veio a crescer ao longo do ano, e isso é que os Dodgers são maus para o baseball. A quantidade de talento combinada com a abundância de dinheiro que os seus donos possuem cria, para muitos, uma situação e uma equipa impossível de bater, quer em campo quer na mesa de negociações.
É esta inevitabilidade que faz deles incríveis vilões. Os jogadores em si são carismáticos e muitos parecem ser boas pessoas, mas aquilo que eles representam para muitos é assustador e injusto, algo que até a própria equipa começou a assumir. O treinador, depois da celebração, proclamou um desafio para a própria equipa e aos pobres coitados que os terão que enfrentar na World Series:
Os Blue Jays, tal como o resto das equipas da liga, acabaram o ano no sofá a ver os Dodgers a celebrar mais uma World Series. Num ano que muitos consideraram um desapontamento, os antes jovens e promissores Blue Jays eram agora vistos como veteranos e medíocres. A única equipa canadiana da MLB acabou 2024 com o pior recorde da sua divisão e cheio de questões sobre as suas duas estrelas em Vladimir Guerrero Jr. e Bo Bichette, que falharam uma série de jogos por lesão e, mesmo quando estavam em campo, ambos estavam muito abaixo do nível que os fãs e a própria equipa esperavam deles.
Durante a off-season, os Blue Jays conseguiram um dos grandes jogadores disponíveis em Anthony Santander, que tinha tido uma época fenomenal pelos seus rivais Orioles, onde conseguiu 44 homeruns. Para além disso, Toronto arriscou com dois pitchers: Jeff Hoffman, que tinha sido fenomenal pelos Phillies mas que acabou por falhar vários exames médicos antes de rumar ao Canadá, e Max Scherzer, um dos melhores pitchers na história da MLB mas que, com 41 anos, já era visto como alguém muito longe dos seus melhores dias.
Os Blue Jays surpreenderam muitos com o seu arranque ao ganharem seis dos primeiros sete jogos, e de forma convincente. No entanto, o mês de abril foi um mês de regresso ao nível medíocre do ano passado, que viu a equipa a ganhar apenas 11 jogos e a perder 14. Este falso arranque e consequente desapontamento em abril podia ter afastado muitos dos adeptos e até alguns dos jogadores, e é por isso que é importante notar que foi nesse mesmo mês que Vladdy Jr. decidiu assinar um contrato de 14 anos com a equipa. Uma demonstração de confiança na equipa e um enorme empurrão para o resto da época do líder do balneário, que muitos achavam que estava pronto para abandonar o navio no final do ano.
Desde abril que a equipa pareceu completamente outra e os resultados demonstram isso, com 80 vitórias e apenas 52 derrotas o resto do ano, que lhes garantiu o melhor recorde na divisão que os esmagou o ano passado, mas também o melhor recorde na American League.
Nos playoffs, os Blue Jays despacharam rapidamente dos Yankees em três jogos, numa série que ficou marcada pelo início dos playoffs históricos de Vladdy, que teve uma rebatida em .529 das suas oportunidades, nas quais acertou três homeruns e foi responsável por nove runs.
Se os Dodgers contra os Phillies foi uma guerra, então a ronda seguinte entre os Blue Jays e os Seattle Mariners foi a guerra destes playoffs. Sete jogos, com a equipa da casa a perder os primeiros quatro e o sétimo e derradeiro jogo a ser decidido por apenas uma run. Não é preciso mencionar que Vladimir Guerrero Jr. foi mais uma vez decisivo, como por exemplo no terceiro jogo, onde a série ainda estava em risco para Toronto. A jogar fora, o dominicano acertou quatro rebatidas em quatro oportunidades e obteve um homerun no que foi uma vitória por oito-dois dos Blue Jays.
No entanto, esta série, também pela sua longa duração, foi um verdadeiro teste para o resto da equipa, e um teste onde a equipa passou convincentemente, com grandes jogos de George Springer, que produziu três homeruns e foi responsável por sete runs; Ernie Clement, que acabou os playoffs com o recorde de rebatidas nos playoffs e contribuiu para esse recorde com nove contra os Mariners; e Trey Yesavage, que dominou o sexto jogo da série ao controlar o ataque potente de Seattle, permitindo apenas duas runs em 5,2 innings.
No final, os Blue Jays acabaram por sair da guerra vitoriosos e, para muitos, uma ida à World Series teria sido mais do que suficiente. Mas para esta equipa e para estes fãs, a vitória era agora possível. Era possível sonhar e acreditar que esta equipa conseguia defrontar e ganhar ao Golias que são os LA Dodgers.
Na previsão dessa próxima e última batalha, Bo Bichette, que acabou o ano lesionado e falhou as duas primeiras rondas dos playoffs, foi entrevistado e deixou as palavras que todos os adeptos e colegas de equipa precisavam de ouvir antes de tentarem o impossível:
World Series
Com o primeiro jogo em casa, os Blue Jays usaram essas palavras e o entusiasmo do público para assegurar uma vitória por 11-4, num jogo onde começaram a perder dois-zero, mas em que mais uma vez o resto da equipa mostrou que era capaz de competir contra qualquer adversário. Addison Barger e Alejandro Kirk foram os heróis improváveis do primeiro jogo de uma World Series em Toronto desde 1993, com ambos a terem homeruns e a serem responsáveis por seis das 11 runs que Toronto marcou. No entanto, não foi só o ataque que apareceu no primeiro jogo para os Blue Jays, pois Trey Yesavage controlou o jogo durante quatro innings, permitindo apenas quatro rebatidas e duas runs, e depois Toronto utilizou cinco pitchers diferentes durante os restantes cinco innings, que só permitiram mais duas runs graças a um homerun por Shohei Ohtani, que tinha vindo a recuperar confiança desde a série contra os Phillies.
Para muitos fãs, esta vitória foi um sinal de que era possível. Os Blue Jays, que vinham exaustos da ronda anterior, tinham conseguido olhar os Dodgers nos olhos e tinham saído por cima. O segundo jogo acalmou algumas destas expectativas com uma vitória por cinco-um a favor dos Dodgers, num típico jogo dos Dodgers onde a equipa de Los Angeles conseguiu rebatidas nos momentos certos e tomou controlo do jogo sem dar hipóteses de uma remontada. Esta falta de hipóteses não é um exagero, pois foi neste jogo que uma audiência mundial foi talvez reintroduzida a Yoshinobu Yamamoto, que destruiu o ataque dos Blue Jays durante nove innings, permitindo apenas quatro rebatidas e uma run.
Para pôr este jogo em perspetiva, quando um pitcher completa nove innings isso chama-se um “complete game”. Este tipo de jogos são naturalmente raros, pois exige níveis altíssimos de resistência e uma enorme capacidade mental de manter o foco durante o jogo todo. Yamamoto fê-lo parecer simples. Yamamoto é um exemplo do que muitos se queixam sobre os Dodgers: o seu talento é indiscutível, mas a sua aquisição levou a inúmeros protestos na MLB, com o jogador a rejeitar propostas mais lucrativas dos Phillies para se juntar aos Dodgers e a Shohei Ohtani, uma escolha acertada dois anos depois, mas que para muitos destruiu a esperança e o entusiasmo de cada nova época desde a sua assinatura.
Se o primeiro jogo foi uma injeção de esperança e o segundo o nascimento de uma lenda, então o terceiro jogo foi a criação de uma obra de arte. Como qualquer obra de arte, esta demorou o seu tempo, para ser exato seis horas e 39 minutos, num jogo em que os Dodgers venceram os Blue Jays por seis-cinco. De dois-zero a favor dos Dodgers para quatro-dois a favor dos Blue Jays para cinco-cinco, os primeiros nove innings teriam sido suficiente para chamarmos este jogo de fenomenal. A única coisa que faltava era um vencedor.
Com o tempo e os innings a passarem, tornou-se mais uma luta contra o cansaço, quer para os jogadores quer para os espetadores, incluindo um espetador em específico que em Lisboa ficou acordado até às seis e meia da manhã para ver um jogo que se disputava a mais de nove mil quilómetros. Baseball é um desporto aborrecido. Não há grande razão para esconder este facto, mas é nesse mesmo aborrecimento que se encontra o verdadeiro segredo pelo qual ele é tão popular. Cada novo inning trazia com ele um novo pitcher que enfrentava um hitter que ainda não tinha enfrentado, e o suspense voltava a crescer. É um desporto em que pouco acontece durante muito tempo e muito acontece durante pouco tempo, e foi isso que aconteceu durante aquelas seis horas e 38 minutos. Mas ao minuto 39, Freddie Freeman, o herói da World Series do ano passado, destruiu um pitch de Brendon Little e a bola viajou 123 metros e acabou bem fora do campo. Homerun, vitória para Los Angeles, obra de arte concluída.
Los Angeles tinha agora tomado controlo da série com uma vantagem de dois-um em jogos e com os próximos dois jogos em casa e com Shohei Ohtani e Blake Snell como pitchers para esses jogos decisivos. Daí a surpresa quando Toronto ganha o primeiro seis-dois e o segundo seis-um, resultados não só surpreendentes mas acima de tudo justos, com os Blue Jays mais uma vez a contarem com esforços de cima a baixo do plantel, mas principalmente de Vladimir Guerrero Jr., que teve um homerun em cada um dos jogos e marcou a sua presença como o hitter mais assustador no mundo.
História não se repete, mas muitas vezes rima, e foi esse o caso com o sexto jogo, onde agora era Toronto que tinha a vantagem e que jogava em casa, mas foram os Dodgers que conseguiram a vitória por três-um, graças a quem mais do que Yamamoto, que permitiu a única run de Toronto e dominou durante seis innings com seis strikeouts e apenas cinco rebatidas.
As duas melhores palavras no mundo do desporto esperavam agora as duas equipas. Uma tinha um encontro com a imortalidade, com a possibilidade de ser a primeira equipa a ganhar World Series em anos consecutivos desde os Yankees no final dos anos 90, e a outra tinha a possibilidade de fazer o impossível, de não só ganhar ao Golias mas fazê-lo por um país e uma cidade que espera por este momento desde 93. E tudo isto seria decidido num jogo derradeiro, jogo sete.
Com o apoio das bancadas no Rogers Center, os Blue Jays saltaram para uma liderança por três-zero graças a um homerun magnífico de Bo Bichette, que ainda lesionado conseguiu encontrar força suficiente para destruir um pitch menos conseguido de Shohei Ohtani. O entusiasmo em Toronto era enorme e nas bancadas o apoio era incomparável e crescente com cada minuto que passava. E mesmo quando os Dodgers no inning seguinte marcaram para fazer o resultado três-um, Toronto levantou-se mais uma vez e respondeu com uma enorme ovação a Max Scherzer. O veterano de 41 anos começou o jogo pelos Blue Jays e deu-lhes tudo o que tinha, com quatro innings e apenas uma run contra.
Os Dodgers, no entanto, recusavam-se a desistir e voltaram a marcar dois innings depois. Três-dois a favor dos Blue Jays, mas o momento de celebração parecia estar-lhes a fugir e o crescente entusiasmo do início era agora contraposto pela sensação de horror que se adivinhava. Andrés Giménez, que tinha tido uma World Series muito abaixo do nível que era esperado para ele, recusou-se a seguir esta sensação de uma derrota inevitável e voltou a trazer otimismo e paz para os fãs em Toronto ao acertar uma rebatida que foge pelo campo fora e que permite a Ernie Clement marcar e voltar a criar uma vantagem de duas runs com três innings para o fim.
Até o fã mais cínico conseguia agora ver que a vitória dos desafiadores era uma realidade não só possível mas mesmo provável. E mesmo quando Max Muncy no oitavo inning reduziu a vantagem para uma run com um homerun, os fãs e jogadores de Toronto sabiam que para o nono inning podiam contar com Jeff Hoffman, o homem que acreditou neles durante a off-season e em quem a equipa confiou de volta ao ignorar uma série de problemas físicos na esperança que ele conseguisse recuperar a sua melhor forma em Toronto. E foi isso que aconteceu nestes playoffs, onde até aquele momento Hoffman tinha apenas permitido duas runs em 10 jogos e apenas um homerun.
Hoffman fez rápido trabalho do primeiro hitter que enfrentou e em apenas quatro pitches arrumou Kike Hernández para conseguir o primeiro dos três outs que precisava para concluir o jogo e a época. De seguida veio Miguel Rojas, o último jogador na ordem de batedores de LA e alguém que está incluído na equipa pela sua defesa. Talvez foi a distração de ter que enfrentar Ohtani a seguir ou apenas a pressão do momento, mas Hoffman falhou uma série de pitches contra Rojas de uma forma preocupante até que ao sétimo pitch deixou uma bola demasiado fácil, mesmo para um batedor menos reconhecido como Rojas, que se aproveitou da situação para lançar um laser para o seu lado esquerdo que nunca parou de descer até chegar às bancadas do estádio. Homerun, cinco-cinco.
Hoffman ainda foi capaz de se recompor e garantiu que o jogo não acabava ali ao despachar Ohtani e Smith para concluir o inning. E mesmo depois do desapontamento para Toronto, a equipa foi capaz de se recompor e colocou jogadores nas três primeiras bases com apenas um out e com Daulton Varsho a precisar de apenas uma rebatida para concluir o jogo. Mas infelizmente já estava em campo Yoshinobu Yamamoto, o destruidor de sonhos, que conseguiu que Varsho acertasse na bola com pouca força, que permitiu à defesa dos Dodgers assegurar o outro out e garantir que o jogo não acabava ali.
Sobe para bater a seguir Ernie Clement. Ernie passou os primeiros anos da sua carreira como um jogador medíocre em Cleveland e Oakland, e não foi até chegar a Toronto dois anos antes que começou a crescer como jogador e como uma presença no balneário. Nestes playoffs, para além de Vladdy, não havia ninguém em quem os fãs de Toronto pudessem confiar mais do que o jogador de 29 anos que no início deste jogo conseguiu uma rebatida que fez dele o jogador com mais rebatidas na história dos playoffs com 30. Portanto, não foi uma surpresa quando ele conseguiu conectar com um pitch de Yamamoto e fê-lo voar para a esquerda, onde parecia que Kike Hernández não ia conseguir chegar e o jogo ia acabar ali nas mãos do jogador medíocre virado peça-chave de uma equipa. Mas não foi esse o caso, com Andy Pages a correr desde o centro do campo até onde estava Hernández e a usar o seu tamanho superior para apanhar a bola e evitar uma colisão, garantindo que o jogo fosse decidido em extra innings.
Yamamoto, apesar de ter jogado a noite anterior, ficou mais no jogo e branqueou Toronto no 10.º inning antes de se sentar e ver Will Smith a dar a vantagem aos Dodgers no início do 11.º inning com um homerun que matou a vida em Toronto e fez explodir com emoção Los Angeles.
Com apenas três outs para acabar o jogo, Toronto ainda tinha esperança graças a um double por nem mais que Vladimir Guerrero Jr., mas Los Angeles tinha permanecido com Yamamoto. Apesar do cansaço que o japonês sentia, ele recompôs-se depois da rebatida inicial de Vladdy e, com jogadores na primeira e terceira base, Yamamoto precisava de uma bola que chegasse à segunda base e depois à primeira, e Toronto precisava de apenas uma rebatida para empatar o jogo ou um homerun para o ganhar.
Alejandro Kirk enfrenta Yamamoto com estes cenários firmes na sua cabeça, e mesmo assim Yamamoto é capaz de provocar uma bola batida de forma fraca que encontra a segunda e a primeira base antes que Kirk. Cinco-quatro, vitória dos Dodgers e mais uma vez campeões da World Series.
Nas celebrações e no choro, para mim há duas imagens que ficarão para sempre. A primeira de Vladimir Guerrero, que ficou colado ao seu banco minutos depois do jogo já ter acabado, em lágrimas. Um jogador que deu tudo o que tinha pela sua equipa e pela sua cidade adotada de Toronto, mas que no fim fica apenas com a consolação de saber que esteve mais perto do que o resto da liga, mas que mesmo assim o seu melhor não foi suficiente. A segunda é de Yamamoto, que quando vê a bola a chegar à primeira base antes de Kirk levanta os seus braços exaustos e olha para o céu, segundos antes de ser abraçado pelos seus colegas. Segundos em que ele sabe que acabou de ser imortalizado.
A história desta World Series é uma cada vez mais preponderante no mundo do desporto: as equipas com mais dinheiro ganham mais e histórias de superação e de vencedores improváveis tornam-se raras e distantes. Mas não deixa de ser importante mencionar as vezes em que David não ganha a Golias, as vezes em que o seu esforço e perseverança servem como exemplo de que no final das contas nenhum de nós começou a amar este desporto pelos troféus brilhantes que são entregues no final de cada ano, mas sim pela possibilidade de poder competir por eles com pessoas que admiramos e contra pessoas que respeitamos. E eu, por ora, acho que é isto que fica desta World Series.

