
Há jogadores que marcam épocas. Poucos, porém, redefinem um desporto inteiro. Tom Brady é esse caso raro: um quarterback que entrou na NFL pela porta dos fundos, sendo a escolha n.º 199 da sexta ronda do Draft de 2000, e saiu dela como o mais vitorioso de todos os tempos. Aos 45 anos, depois de 23 temporadas, sete títulos de Super Bowl e recordes que dificilmente serão alcançados, Brady tornou-se mais do que um atleta: é uma lenda.
A sua carreira começa como uma história de underdog. Sem um físico impressionante, sem estatuto universitário de estrela, sem holofotes. Mas foi precisamente essa falta de expectativa que moldou a sua mentalidade: uma obsessão pelo detalhe, uma disciplina inabalável e a convicção de que, em momentos decisivos, a vitória não depende apenas do talento, mas da resiliência.
Brady transformou a desconfiança que tinham nele, numa missão. Ele acreditava que o impossível era apenas um obstáculo temporário, e provou isso vezes sem conta.
Tom Brady não foi o quarterback mais atlético, nem o mais espetacular. Mas foi, de longe, o mais confiável. O que o distinguia era a capacidade de manter a calma quando todos já viam o jogo perdido. Vê-lo jogar era quase como ouvir poesia num ambiente completamente caótico e agressivo (como é o futebol americano).
Foi em 2002, no Super Bowl XXXVI, que o mundo percebeu que estava a nascer uma estrela. Os Patriots, até então irrelevantes, derrotaram os Rams, o poderoso “Greatest Show on Turf”. Brady não só venceu, como inaugurou uma nova era. Nascia, nesse dia, a dinastia que dominaria a NFL por duas décadas.
Depois desse momento, os sucessos foram seguidos.
O maior exemplo decorreu no Super Bowl LI, quando estava a perder por 28-3 contra os Falcons, e acabou por liderar a mais improvável recuperação da história, provando que, enquanto houvesse relógio, havia esperança.
Mas também o quase 16-0 perfeito, de 2007, travado no último instante pelos Giants e o regresso em 2015, contra os Seahawks, num dos Super Bowls mais dramáticos de sempre, decidido por uma interceção de Malcolm Butler.
Foi nesse instante que deixou de ser apenas um campeão para se tornar o The Goat.
Claro que a sua carreira não esteve imune a polémicas (o que seria de uma estrela sem dramas). O escândalo “Deflategate”, em 2015, levantou suspeitas sobre bolas menos infladas nos Patriots, que faziam com que fosse mais fácil de agarrar e lançar, oferecendo, assim, uma vantagem ao QB, que na altura era Tom Brady, e resultou numa suspensão de quatro jogos.
No entanto, o The Goat regressou com ainda mais força, levantando outro troféu Vince Lombardi pouco depois. Transformou a desconfiança em combustível, a adversidade em triunfo.
O seu percurso tem ainda outro traço notável, que poucos se podem gabar de ter: a longevidade. Aos 43 anos, quando a maioria dos atletas já abraça a reforma, mudou-se para Tampa Bay, e venceu o Super Bowl LV pelos Buccaneers, derrotando Mahomes, a nova estrela da NFL. Foi a consagração definitiva de que o seu sucesso não dependia apenas de Bill Belichick ou do sistema dos Patriots. Era mérito dele, da sua obsessão, da sua liderança discreta, mas exigente.
Em 2025, com uma estátua de 17 pés inaugurada em frente ao Gillette Stadium e o número 12 oficialmente retirado, Brady está agora num patamar reservado a lendas que transcendem o jogo.
Não é apenas o jogador mais vitorioso da NFL. É um ícone cultural, um exemplo de longevidade, disciplina e superação.
O que torna Tom Brady verdadeiramente especial não são apenas os recordes ou os anéis no dedo, nem as 7 Super Bowls, 3 MVPs ou os 649 touchdowns.
É a forma como transformou a narrativa do improvável numa epopeia. É a capacidade de inspirar tanto os que acreditam no talento nato como os que acreditam na força do trabalho. O futebol americano teve grandes nomes antes dele e terá outros depois. Mas será sempre contado em duas eras: antes de Brady e depois de Brady. Porque, no fim, Tom Brady não foi apenas um jogador. Foi a prova viva de que acreditar é a maior arma que um atleta pode ter.