Rugby: Penálti milagroso apura Portugal para o Mundial

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    O JOGO: O EMPATE MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA DO RUGBY PORTUGUÊS

    Portugal e Estados Unidos protagonizaram um jogo que se adivinhava decisivo desde que o grupo de repescagem para o Mundial foi conhecido. O confronto entre “lobos” e “águias” foi o prato principal num dia já marcado por uma vitória de Hong Kong sobre o Quénia. Estava intensa, a atmosfera, para o jogo grande da última jornada da repescagem para o Mundial de Rugby de 2023, em França.

    As contas eram simples. A equipa que ganhasse o jogo, avançava para o campeonato do Mundo. Só sete jogadores de Portugal repetiram a presença no 15 inicial treinado pelo francês Patrice Lagisquet. em relação ao Quénia. Já a seleção de Gary Gold fez apenas uma mudança em relação ao jogo frente a Hong Kong.

    A PRIMEIRA PARTE: JOGO FÍSICO VS JOGO EXPANSIVO

    Os Estados Unidos começam com uma intensidade clara, tentando que o jogo passe sobretudo por AJ MacGinty, médio de abertura que meteu os americanos em vantagem, graças a um penálti, logo aos 2 minutos.

    A resposta de Portugal foi um bocado errática com bastantes perdas de bola, sendo que os americanos também não estavam a ser capazes de lidar com a pressão dos “Lobos”. Foi um momento em que o jogo estava muito partido. Nuno Sousa Guedes, o defesa da seleção nacional, avançou desde a linha de 5 metros portuguesa até muito próximo da linha de centro na tentativa de lançar um ataque luso.

    O primeiro grande momento do jogo para a “Equipa das Quinas” chegou depois de Jerónimo Portela sofrer uma placagem muito forte por Nate Augspurger. O número 11 americano “arremessou” o jogador português, levantando-o do chão quando a bola já não estava perto do “10” lusitano. Portugal aproveitou muito bem a vantagem numérica, colocando rapidamente a pressão perto da zona mais recuada do meio-campo americano

    Construiu uma jogada a partir de Samuel Marques que passou para Guedes, com o defesa de 27 anos a colocar no ponta, Rafaelle Storti que fez o primeiro ensaio do jogo. Portugal passava a estar na frente do marcador e com uma conversão de Marques, estabeleceu o resultado em 7-3.

    Os Estados Unidos mantiveram uma pressão mais assente na força física e num jogo mais fechado. O jogo português estava muito marcado pela preponderância de Jerónimo Portela e Nuno Sousa Guedes. Por parte dos americanos, eram recorrentes as faltas sobre jogadores portugueses que não tinham a posse de bola. Um sinal de que os nervos do lado das “Águias”estavam muito fortes

    Os americanos reduziram o marcador de penálti aos 22 minutos, caindo para 1 ponto a diferença em relação à “Equipa das Quinas”. Os Estados Unidos apostavam no jogo físico, com avanços lentos, pelo que o domínio da posse de bola era fundamental para os norte americanos. Portugal apostou num jogo mais rápido, focado em passes e em transições rápidas em toda a largura do campo.

    Ainda com vantagem numérica, a equipa de Gary Gold perdeu a hipótese de passar para a frente do marcador, com um penálti falhado aos 30 minutos, por AJ MacGinty. Pouco depois, os americanos construíram uma jogada de ataque em que o avanço de Jamason Fa’anana-Schultz foi contido pela seleção lusa que recuperou a bola e lançou o contra-ataque. Aos 37 minutos, um novo penálti para os “lobos” permitiu que Samuel Marques aumentasse a vantagem para um 10-6.

    O golo do médio de formação português não ia ficar sem resposta. Antes do intervalo, AJ Macginty tornou a ter uma hipótese de penálti e desta vez não falhou. Nos segundos restantes, Portugal ainda tentou um ensaio antes do fim da primeira parte, mas sem sucesso. O resultado no marcador era de 10 pontos a 9, para os “Lobos”l que precisavam apenas de manter o resultado nos restantes 40 minutos para garantir a segunda presença num Mundial de Rugby.

    A SEGUNDA PARTE: A INSISTÊNCIA AMERICANA QUASE VOOU MAIS ALTO QUE O SONHO PORTUGUÊS

    Ao contrário do que se tinha verificado no início da primeira parte, os Estados Unidos começaram a segunda sob pressão de uma equipa portuguesa que parecia diferente, mais exposta ao confronto corpo a corpo. E com bons resultados para os homens comandados por Patrice Lagisquet. Os portugueses foram forçando mais erros por parte dos adversários, deixaram de jogar tanto em profundidade e mais com base na pressão campal que os americanos tinham adotado no primeiro tempo.

    Portugal chegou mesmo a estar perto de um novo ensaio quando ganhou uma mêlée. Tomás Appleton foi capaz de furar a defesa americana, mas um erro de Jerónimo Portela permitiu aos homens de Gary Gold restaurar as posições na defesa. Porém, Portugal acabou por receber um novo penálti na sequência desta jogada.  Mas desta vez, Samuel Marques não foi capaz de converter com sucesso.

    O tempo passava e os americanos continuavam com dificuldades em subir e em contrariar o trio defensivo de Rafaelle Storti, Rodrigo Marta e José Lima (que cumpria neste jogo a 50ª internacionalização da carreira). Para dificultar a vida aos Estados Unidos, estava em campo também um Nuno Sousa Guedes, que por mais do que uma vez na primeira parte e na segunda, foi capaz de romper a formação americana. Pouco depois, novo penálti, mais 3 pontos para Portugal, com o resultado a chegar aos 13-9.

    A vantagem podia ter sido ampliada para 7 pontos aos 54 minutos, mas Samuel Marques tornou a falhar um penálti. Aos 57 minutos, os americanos chegam finalmente à zona de 5 metros lusitana, conseguindo construir uma jogada em profundidade. Os três minutos seguintes ficam marcados por uma pressão muito intensa dos Estados Unidos que com vários jogadores tentam usar a musculatura à vez para romper pela defesa lusitana, avançando aos poucos.

    Aos 60 minutos, Kapeli Pifeleti consegue mesmo o ensaio que coloca os EUA na frente. Em seguida a conversão colocou os americanos a ganhar por 16-13. A 20 minutos do fim, Portugal estava fora do Mundial.

    A partir do minuto 60, parecia que tudo estava a correr mal à seleção portuguesa. Depois do ensaio norte americano, Francisco Fernandes, o pilar fechado dos portugueses levou um cartão amarelo. A seleção ficava com menos um homem na frente durante 10 minutos.

    Portugal não estava a ser capaz de criar verdadeiras oportunidades de perigo. Lagisquet até deitava a mão à cabeça. Aos 67 minutos, mais uma demonstração dos americanos que, enfaticamente pararam uma saída de ataque por parte de um dos “lobos”.

    Contudo, Nuno Sousa Guedes mostrou que Portugal tinha argumentos mais criativos para intercetar o contra-ataque norte americano. Guedes fez a interseção com um toque de calcanhar direitinho para as mãos do número 10 português.

    A menos de 10 minutos do fim, a pressão portuguesa começava a ser mais eficaz. Um passe em profundidade de Vincent Pinto ia sendo aproveitado pelo próprio para concretizar o ensaio. A menos de 3 minutos do final, Portugal recupera a bola e lança o ataque a 95 metros da área de conversão do EUA. Portugal aproximava-se cada vez mais do ensaio que significaria o apuramento para o Mundial de França. Um passe em profundidade de Storti impulsionou o ataque dos “Lobos”.

    Os americanos só afastavam a bola, já só se preocupavam em defender. O último minuto de jogo foi muito semelhante à construção do ensaio das “Águias”. Portugal tentava de todas as formas e feitios enganar a defesa americana, uma vez que a superioridade física não estava do lado dos lobos. Vários pedidos de penálti pelos portugueses surgiram, mas não foram atendidos pelo árbitro da partida até ao fim do tempo regular.

    Jerónimo Portela tentou desesperadamente um “drop-goal” que bateu na trave mas em seguida, a equipa das quinas conseguiu mesmo o penálti. O cenário não podia ser mais dramático e simples: se Portugal marcasse, estava qualificado para o Mundial 2023; caso contrário, falhava o apuramento em prol dos EUA. A solução estava nos pés de Samuel Marques. O número 9 da seleção Portugal converteu o penálti e garantiu à seleção nacional o empate e o apuramento para o campeonato do Mundo de rugby em 2023.

    O resultado final foi 16-16. Ambas as equipas terminaram o grupo com 12 pontos, mas a vantagem na diferença de golos ditou o apuramento histórico de Portugal.

    A nível de exibições individuais, destaque para Nuno Sousa Guedes, defesa que mostrou grande criatividade e capacidade de construção de jogo tanto ao ataque como à defesa; para Rafelle Storti, também responsável por um excelente trabalho defensivo e na impulsão de ataque; e ainda para Samuel Marques, o responsável pelo penálti histórico que foi também um dos principais responsáveis pela construção do jogo português.

    É a segunda vez que Portugal chega a um Mundial, depois de também ter estado em França no ano de 2007. Vai estar no grupo C com Austrália, Ilhas Fiji, Polónia e Geórgia. O Mundial decorre entre 8 de setembro e 28 de outubro de 2023.

    Foto de Capa: Federação Portuguesa de Rugby 

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.