À Conversa Com o Jovem Tenista – Entrevista a Alexandre Ribeiro

    BnR: Focando-nos agora no tema principal, o ténis, explica-nos, 1 ano depois de estares a treinar e competir numa das maiores “fábricas” de tenistas de topo do mundo, qual é o balanço que fazes dessa experiência?

    AR: Bem, um ano depois, uma das certezas que tenho é que o meu nível tenístico aumentou, visto que sou obrigado a treinar e competir com jogadores de topo, todos aqui jogam muitíssimo bem e digo mesmo que aqui, se não quisessem continuar a estudar, muitos atletas estariam ou estão prontos para jogar torneios ATP. Joguei, por exemplo, contra um rapaz [Carl Soderlund – atual 439º ATP] que está no 1º ano universitário como eu, e que no ano passado defrontou o João Sousa no ATP250 de Bastad. A nível de condições também é completamente diferente, temos 6 courts outdoor e 6 cobertos o que faz com que possamos treinar bem quando chove ou faz muito frio. Temos também disponíveis para nós salas de fisioterapia mesmo muito grandes e bem equipadas, sempre cheias de pessoal especializado pronto para nos ajudar e posso garantir que nunca ficamos mal tratados. Neste verão, a universidade tem o projeto de alargar o centro de ténis, o que demonstra um pouco a dimensão da universidade e também a mentalidade que existe, pois mesmo que as condições sejam boas, sempre que se pode melhorar alguma coisa, não hesitam.

    BnR: De forma breve, consegues explicar o sistema de competição universitário americano? Achas que é possível um dia existir algo semelhante em Portugal?

    AR: O campeonato universitário está dividido por conferências e a nossa equipa tem jogos dentro da conferência, em que jogamos contra as equipas das universidades que estão mais próximas em termos geográficos e que são os jogos “mais importantes”. Para além desses jogos temos outros, contra equipas fora da conferência, que são marcados entre treinadores que se conhecem e têm boas relações, se acharem que é benéfico para os atletas defrontarem-se. Depois, tendo em conta os resultados que tivermos frente a todas as equipas da conferência, podemos ou não ser apurados para o torneio nacional (NCAA Championship). Na nossa conferência competimos, por exemplo, contra as equipas das universidades de Wake Forest, North Carolina ou Virginia – que acabaram de se sagrar campeões nacionais. Relativamente a Portugal, pessoalmente acho que seria possível existir um sistema de competição semelhante, não do tamanho americano obviamente pois em Portugal há muito menos universidades e muito menos pessoas, mas para isso era necessário existir uma organização à altura e, não querendo entrar muito no campo da política, acho que isso não existe em Portugal infelizmente. Acho que é também um pouco por isso que o ténis português não vai mais longe e que alguns países nos ultrapassam com alguma facilidade.

    BnR: Como olhas para o apoio que as universidades dão aos atletas que as representam? Estás satisfeito?
    AR:
    Sim, completamente. A universidade apoia-nos a todos os níveis, quer a nível desportivo quer a nível pessoal, e tenho a sorte de contar com uma bolsa de quase 100%. Eles [Virginia Tech] cobrem todas as despesas sempre que viajamos e preparam todos os jogos com o máximo de condições, basta pedirmos bebidas energéticas, equipamentos, sapatilhas ou qualquer outra coisa que eles oferecem na hora. Chegaram inclusive a pagar-me as despesas de um torneio Future que fiz individualmente, por isso não me posso queixar do apoio da universidade.

    BnR: Na equipa da tua universidade os americanos estão em maioria? E ao chegar aos EUA, deparaste-te com uma grande diferença de nível tenístico (técnico, competitivo) para os teus colegas e adversários?

    AR: Por acaso não, a minha equipa, para além de mim, é constituída por 3 americanos, 2 australianos, 1 dinamarquês, 1 lituano e 1 ganês. A nível técnico, eu não diria que eles são muito melhores, mas que se destacam principalmente pela sua organização e pela intensidade que imprimem cada vez que pisam o court. Esse creio que é o fator que mais os faz diferenciar-se, pois o ritmo é muito elevado, e jogar contra jogadores de topo quase todos os dias obriga-nos a subir o nível, dar o tudo por tudo e nunca baixar os braços.

    BnR: Para além do orçamento, na tua opinião há algum fator metodológico, cultural, que justifique a grandeza dos EUA no ténis – o que não acontece em todos os desportos (como por exemplo o Futebol – soccer)?

    AR: Por acaso não sei o que está na origem de eles não ligarem tanto àquilo que nós europeus chamamos Futebol. Nota-se sim que eles são “loucos” por Futebol Americano e Basquetebol, e é muito por causa destes desportos que as universidades têm tanto dinheiro para investir nas restantes modalidades através de doações dos adeptos, patrocínios significativos ou claro do público que assiste aos jogos (por exemplo, o nosso próprio estádio de Futebol Americano esgota sempre a sua capacidade, 68 mil lugares, quando a equipa da universidade joga). Relativamente ao sucesso do país, penso que é um pouco como o caso da China, tendo tantos milhões de pessoas é mais provável que haja mais gente com talento para o jogo, pelo que o facto de eles treinarem de forma tão organizada, tão concentrada e tão intensa é o que os faz, a meu ver, distinguirem-se do resto do mundo.

    BnR: Visto de longe, tens acompanhado o ténis em Portugal? Como vês o seu desenvolvimento e até onde achas que pode chegar?

    AR: Não tenho acompanhado muito os torneios nacionais mas sei que temos alguns bons juniores a fazer bons resultados, o que é ótimo para o futuro. Apesar disso tenho-me apercebido que há cada vez mais interessados em sair do país e vir jogar para os EUA, como o Duarte Vale que deve vir quase de certeza. Temos o exemplo também do Nuno Borges que teve uma época muito boa aqui nos EUA, o que é muito bom para ele, e apesar de não conseguir jogar tantos torneios ATP como outros, de certeza que quando acabar o curso irá tentar apostar no ténis tendo em conta os resultados que tem tido que deixam boas indicações para o futuro. De resto, é pena que o João Sousa não esteja a atravessar o seu melhor momento de forma, espero que melhore agora para Roland Garros, ao contrário do João Domingues que está a um nível muito bom, tal como o Pedro Sousa e o Gastão Elias. Por isso acho que apesar de não termos tantos jogadores novos a aparecer, os que temos têm mostrado que podem vir a ter sucesso no futuro.

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    Henrique Carrilho
    Henrique Carrilhohttp://www.bolanarede.pt
    Estudante de Economia em Aarhus, Dinamarca e apaixonado pelo desporto de competição, é fervoroso adepto da Académica de Coimbra mas foi a jogar ténis que teve mais sucesso enquanto jogador.                                                                                                                                                 O Henrique escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.