Se por um lado é perfeitamente entendível o argumento mais corrente de que Federer (e também Nadal) têm de se poupar fisicamente, optando por jogar menos torneios escolhendo-os de forma estratégica e quase cirúrgica, por outro o critério do suíço é, digamos, pouco convencional – e talvez até, como explicarei, criticável em certa medida.
É conhecida a má relação dos courts de piso rápido (cimento ou materiais sintéticos semelhantes como o Rebound Ace) com os corpos dos tenistas de alta competição. Os movimentos dos jogadores e as sucessivas travagens abruptas que são obrigados a fazer são brutalmente agressivas para as articulações dos tenistas. Por contraste, o pó-de-tijolo não é tão abrasivo para o físico dos jogadores e, exatamente por isso, seria logicamente a superfície em que melhor se enquadraria esta lógica de “poupança física” dos craques mais velhos do circuito.

Fonte: ATP World Tour
Rafa opta exatamente por fazer pausa em alguns torneios de piso duro, apostando as principais fichas nos meses de Abril, Maio e Junho disputando os torneios de Monte Carlo, Barcelona, Madrid, Roma e claro, Roland Garros. Federer, pelo segundo ano consecutivo, decide ausentar-se da época de terra batida e reservar-se para a época de relva e piso duro.
No entanto, a clara superioridade do suíço face a toda a concorrência mundial na presente temporada, faz-me questionar o porquê de Federer não atacar a conquista do major que apenas conquistou uma vez.
E mais do que isso, o facto de Federer ter dito em conferência de imprensa aquando da antevisão do BNP Paribas Open que “sonhava com a vitória em Roland Garros” e que “a decisão de não jogar no ano passado foi dura, apesar de certa” não estava prevista naquele momento, para a presente época, reforça a ideia de que o maestro ficou realmente chateado com estes dois desaires recentes, e que isso pesou bastante na decisão anunciada ontem – tanto ou tão pouco que, pelos vistos, o suíço esqueceu o “sonho” de há duas semanas.
Foto de Capa: ATP