Quem me conhece, sabe bem que o nome que mais bem ficaria após o título “Jogadores que admiro” seria o de Rafael Nadal – de quem sou fã indiscutível, e desde sempre. Porém, num rápido exercício de consciência dei por mim a decidir escrever sobre alguém que fez da sua carreira um feito heróico – e não por vitórias dentro do court.
Falo da checa Petra Kvitova, que celebra nesta quadra natalícia o primeiro aniversário daquele que foi, provavelmente, o episódio que mudou a sua carreira, e a sua vida. Mas recuemos então aproximadamente doze meses, até ao mês de dezembro de 2016. Kvitova, campeã de Wimbledon em 2011 e 2014 e campeã do WTA Championships encontrava-se num ano menos bom, situando-se no 16º posto da hierarquia do ténis mundial feminino. Aos 26 anos, a checa já se preparava para atacar a época 2017 numa tentativa de dar a volta à situação em que se encontrava, mas no dia 20 de dezembro a tenista recebeu na sua casa uma visita indesejada: um indivíduo tentou assaltar a casa de Kvitova e esta, numa tentativa de defender a sua integridade física acabou por confrontar o assaltante que, armado, cortou de forma brutal a mão esquerda da tenista…canhota. Petra Kvitova confessou-se chocada com a situação e assumiu mesmo que esta, devido à gravidade da lesão que causou, poderia colocar em risco a continuidade da tenista no circuito profissional.
A perícia dos cirurgiões fez aquilo que muitos achavam impossível, reparando os nervos da mão esquerda de Kvitova, brutalmente afetados pelos múltiplos golpes de que foram alvo e agora era uma questão de muita vontade, paciência e até alguma fé para que Petra conseguisse voltar a pegar na raquete – esse já seria um prémio para a atleta que pela altura do Natal desse ano confessou que “conseguir mexer a mão foi a melhor prenda que podia receber”. Conhecida pela raça e por se entregar em todos os encontros que disputa, a tenista checa fez o mesmo neste que pode considerar o seu mais longo desafio de sempre: cento e noventa e sete foram os dias que separaram Kvitova desde a última partida que havia realizado (na Final da Fed Cup 2016) até à emocionante primeira ronda de… Roland Garros. Aí a checa celebrou a maior vitória da carreira, sem margem para dúvidas, mostrando ao mundo do ténis que estava recuperada e tinha atirado para trás a tormenta pela qual passou. E mais boquiaberto ficou o circuito quando quinze dias após o seu regresso, Kvitova vence o torneio de Birmingham na relva de que tanto gosta e onde mais confortável se sente.
A checa passou a receber o estatuto de heroína, e mostrou que mais importante do que o resultado dos encontros, é o caminho que cada um faz para conseguir sair por cima. E Kvitova já não tem de provar nada a ninguém – saiu por cima do terror de que foi vítima, e vitórias dessas são únicas e não têm preço.
Foto de Capa: Sports Illustrated