Vai mesmo apostar em João Sousa?

No entanto o ténis é muito mais do que lógica, e João foge a qualquer lógica que se lhe tente aplicar. Primeiramente olhando para o seu estilo de jogo, vemos que João Sousa é um jogador que se baseia na eficácia de duas pancadas fundamentais: o serviço e a direita. Estas características fazem com que se sinta confortável em pontos mais curtos, nos quais bate forte, chapado e, num dia inspirado pode ousar a defrontar jogadores mais cotados com um estilo de jogo semelhante. Por outro lado, sente enormes dificuldades frente a jogadores que conseguem consistentemente jogar a alta velocidade, acrescentando efeitos como o top-spin, ou que variem a profundidade da bola e a posição em court, subindo à rede com frequência. A juntar a tudo isto, está um estado de espírito altamente temperamental e explosivo – que o pode ajudar a encontrar motivação e apoio em encontros tensos, ou mesmo a jogar em casa mas também pode ditar o descontrolo em momentos em que se exige concentração máxima. Certo?

Ora, comparemos então a lógica e a História. Afinal, qual é a superfície em que João Sousa é melhor? Os pisos mais rápidos ajudam o seu ténis mais explosivo, certo? Talvez não, visto que é em terra batida que tem maior percentagem de vitórias (50,4% em terra, 38% em relva e 46,8% em piso duro). Ou será que os pisos rápidos são mesmo os melhores para o português? Em 8 finais de torneios ATP disputadas pelo vimaranense, João venceu 2, ambos disputados… em piso duro, indoor. Aqui está João a fugir à “lógica” desportiva.

Mas há mais. As duas melhores vitórias da sua carreira foram obtidas no ano de 2013, no torneio de Kuala Lumpur (que acabaria por vencer) frente ao então 4º classificado do ranking David Ferrer, e em 2016 em casa do japonês Kei Nishikori (5º ATP, à época). Não só duas vitórias obtidas em pisos bem rápidos, mas também frente a dois mestres na arte do top-spin e da consistência do fundo do court. Kei Nishikori é, inclusive, um dos jogadores que mais alto ritmo consegue impor com as suas pancadas spinadas. Mais uma vez, João mantém-se longe de uma linha de análise lógica.

Fonte: Facebook Oficial de João Sousa
Fonte: Facebook Oficial de João Sousa

Por fim, podemos analisar as suas prestações naquele que é o mais importante torneio ATP disputado em Portugal – o Estoril Open. Certamente leram acima que o temperamento quente de João Sousa poderia ajudá-lo a encontrar motivação para desenrolar o seu melhor ténis quando joga em casa. Pois desenganem-se mais uma vez. Dispute-se o torneio português no Jamor ou no Estoril, o mau desempenho principal representante português em prova é uma constante. Ao longo de 9 anos de carreira profissional, João disputou por 6 vezes o quadro principal da prova ATP portuguesa. 4 dessas vezes disputou-a dentro do top-50 (estando mesmo na sua classificação máxima – 28º – no ano de 2016) tendo, dessas 4 mesmas vezes, perdido na ronda inaugural. Curiosamente – ou não – foi nas edições de 2012 e 2011 (sendo 135º e 219º respetivamente) que conseguiu vencer encontros no quadro principal. Parece que afinal João acusa mais pressão do que consegue obter apoio e energia positiva daquele que é o público que mais quer que ele ganhe.

Em jeito de conclusão, podemos então dizer que pouco ou quase nada conseguimos concluir sobre o tenista português senão uma enorme irregularidade que tem vindo a demonstrar ao longo dos anos em que se tem vindo a exibir no circuito profissional. Aos 28 anos nada está perdido para o vimaranense, pelo que um melhor planeamento de época e quiçá umas férias mais prolongadas possam fazer o nosso melhor tenista de sempre recuperar a alegria pelo ténis e, consequentemente, o seu melhor ténis – que provou que está ao nível de muitos dos bons jogadores do circuito mundial masculino.

Vamos esperar para ver, pois é mesmo a única coisa que podemos fazer. Vamos João!

Foto de Capa: Facebook Oficial de João Sousa

Henrique Carrilho
Henrique Carrilhohttp://www.bolanarede.pt
Estudante de Economia em Aarhus, Dinamarca e apaixonado pelo desporto de competição, é fervoroso adepto da Académica de Coimbra mas foi a jogar ténis que teve mais sucesso enquanto jogador.                                                                                                                                                 O Henrique escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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