A (demasiado) triste realidade do futebol português

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    Por esta altura, com mais ou menos razão, os adeptos do Sporting, do Benfica e do Porto discutem ferozmente qual dos três acordos é o melhor, ou, apenas para disfarçar, que, no final do dia, quem fica melhor é o futebol português. Pois bem, tudo isto é apenas e só mentira.

    Recordo, talvez seja importante que alguém o faça, que Pedro Proença foi eleito segundo algumas promessas, entre as quais vigorava a centralização dos direitos de transmissão dos jogos da liga portuguesa. Até ao momento em que escrevo este artigo não consegui descobrir qualquer declaração, seja de Pedro Proença ou de qualquer outro elemento da liga, que explicasse toda esta situação. Do meu ponto de vista, fica claro que o atual presidente da liga tem apenas e só uma solução: deixar-se de faits divers e pedir a demissão. Todavia, não é sobre Pedro Proença de que vos quero falar.

    Para se ter noção da dimensão irrisória dos negócios agora anunciados pelos três grandes, façamos uma comparação com os valores anunciados pela liga inglesa.

    No último leilão dos direitos televisivos da liga inglesa, ganho pela Sky e pela BT Sport, o aumento relativamente ao período de 2013 a 2016 foi de 71% – 4 mil milhões de euros pelo período de 2013 a 2016 para mais de 7 mil milhões para o período de 2016 a 2019.

    Sem Título
    O crescimento dos direitos televisivos da liga inglesa tem sido exponencial.
    Fonte: BBC SPORT

    Mas, e com toda a razão, dir-me-ão os acérrimos defensores dos negócios que Benfica, Porto e Sporting acabam de fazer, que a dimensão da liga inglesa é incomparável com a da liga portuguesa. Pois bem, isso é um facto incontestável. Contudo, uma análise séria passa por analisarmos o crescimento percentual dos montantes que cada clube português recebe pelos direitos televisivos e compará-los com os valores que cada clube inglês aufere por esses mesmos. Neste ponto, e como demonstra o quadro acima, a liga inglesa tem crescido sustentada e exponencialmente. Por sua vez, e apesar do crescimento dos montantes recebidos pelos clubes portugueses – a falta de clareza na publicação dos valores recebidos impossibilita uma análise 100 % correta – , o aumento é incomparavelmente mais curto.

    O que com isto quero dizer é que, independentemente dos aumentos que vão acontecer para todos os clubes, porque é certo que tal vai acontecer, o fosso entre os clubes grandes e os clubes pequenos vai continuar a aumentar. Desta forma, e contrariamente ao que acontece em Inglaterra, a possibilidade dos valores auferidos pelos clubes portugueses aumentarem num futuro próximo é menor, ou pelo menos o aumento será mais pequeno quando comparado com outras ligas.

    Porque é que tudo isto acontece? A explicação não poderia ser mais simples: se o fosso entre “ricos” e “pobres” diminuir, a tendência será para que a competitividade aumente e, naturalmente, o espetáculo seja de melhor qualidade. Logo, e peço desculpa se a explicação parece para crianças de primeira classe, se o espetáculo é de melhor qualidade, a audiência será maior e, consequentemente, os valores pagos pelos direitos televisivos serão também eles maiores. É precisamente isto que se está a passar em Inglaterra.

    A justa e equilibrada divisão dos direitos televisivos da liga inglesa referente a 2014/2015
    Fonte: Premier League

    Como o quadro acima demonstra – nota para os valores que estão em libras – o fosso entre os clubes mais ricos e mais pobres é muito menor do que aquilo que acontece em Portugal. Por exemplo, o Chelsea, clube que mais recebe, aufere mais de 134 milhões de euros, enquanto o Burnley, clube que menos recebe, ganha um total de mais de 88 milhões de euros. Se fizermos as contas, percebemos que o Burnley recebe aproximadamente menos 35% do valor do que a equipa de Londres recebe. Ora, se fizéssemos a comparação, por exemplo, entre o Benfica e o União da Madeira – volto a referir que tal análise não é 100% possível porque os valores não são claros – o fosso seria bem superior a 35%.

    Espero ter ficado bem claro que todos os clubes beneficiariam com a centralização dos direitos televisivos e que quem perde com os mais recentes negócios não são apenas os clubes mais pequenos, mas também, e sobretudo, o futebol português. Assim vai o futebol português.

     

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    Do ciclismo ao futebol, passando pelo futsal ou o andebol, quase todos os desportos apaixonam o Duarte. Mas a sua especialidade é o ténis, modalidade que praticou durante 9 anos.                                                                                                                                                 O Duarte escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.