5 jogos marcantes na Liga dos Campeões | SL Benfica

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    Gigante no auge, protagonista em várias fases na história da competição, o SL Benfica não conseguiu replicar o palmarés glorioso atingido na Taça dos Clubes Campeões Europeus depois da modernização desta para Liga dos Campeões, transição que acontece precisamente quando os encarnados iniciam o declínio desportivo.

    Quando acordaram de novo, as diferenças financeiras e competitivas impostas pela Lei Bosman e pelos novos métodos de gestão das receitas televisivas e das competições europeias eram já enormes, impossibilitando a imediata reposição do estatuto de colosso que o Benfica detinha até finais dos anos 80.

    Mudando o formato em 1992-93, a Liga dos Campeões possibilitou a integração de outras potências do continente à disputa do troféu de maior clube europeu, retirando importância à Taça UEFA e à entretanto extinta Taça das Taças. Mais clubes, a experimentação de novos formatos competitivos (só consolidados em 2003-04, com fase de grupos a anteceder três rondas de mata mata) e a exponencial angariação de receitas com a entrada de inúmeros patrocinadores possibilitaram à competição elevar o nível do futebol continental e construir fosso inimaginável para o futebol sul-americano.

    O Benfica, conseguindo presença em 1994-95, só voltaria em 98. E depois em 2005, para voltar à UEFA em 2008. A eliminação frente ao PAOK, em 2020-21, interrompeu série de 10 edições (desde 2010) de presença consecutiva das águias na fase de grupos, mas qualificações para as rondas a eliminar contam-se pelos dedos das mãos: 2015-16, 16-17, 21-22 e a época vigente.

    Ao todo, em 17 presenças na Liga dos Campeões (em 30), o Benfica qualificou-se para a fase final em… sete, um registo tímido sobretudo se comparado com o alcançado na prova pré-1992.

    O Bola Na Rede, em jeito de preparação para o embate frente ao Club Brugge KV, da próxima semana, relembra aqui cinco dos mais marcantes jogos dos encarnados no seu percurso pela “nova” prova milionária.

    O primeiro jogo a eliminar, a eliminação do campeão europeu em título, grandes ambientes, revivalismos do pedigree internacional dos encarnados. Obviamente que não foram considerados jogos da actual temporada – assumimos que a memória dos nossos leitores está ainda demasiado fresca para não serem necessárias ainda quaisquer recordações.  

    1.

    AC Milan 2-0 SL Benfica (Quartos de final, 1994-95) – Ao longo de 1994-95, foi crescendo por entre as hostes encarnadas uma certa convicção de que essa época seria o culminar do fracasso desportivo propiciado pelo desequilíbrio financeiro que se vinha prometendo desde o fecho do Terceiro Anel, situação acentuada pela transferência de Futre em Janeiro de 1992. Damásio sucedera a Jorge de Brito e vendo Toni conseguir um título saboroso no pós Verão Quente frente a um Sporting nadando em dinheiro, dava machadada final nas ambições desportivas do clube: decidido a mudar de treinador por razões que nem o tempo ajuda a desvendar, vai a Paris resgatar Artur Jorge, o mesmo que fizera do FC Porto campeão europeu, mas já contestado no Parque dos Príncipes. Le Roi, a um plantel já sem Rui Costa, Schwarz ou Rui Águas, decide retirar os “russos” Yuran e Kulkov (que acabariam nas Antas)- e de forma a colmatar a perda destas peças fulcrais no campeonato ganho, decide investir em 14 contratações, a maior parte delas duvidosas. Preud’Homme, Cannigia, Paulo Bento ou Edilson vinham num contentor onde constavam outros nomes bastante menos atractivos e sem grandes promessas de competitividade – o que se confirmou, numa época para esquecer, com o terceiro lugar no campeonato a 15 pontos do campeão, uma saída sem brilho da Taça culpa do Vitória de Setúbal e uma campanha mediana na Liga dos Campeões, quatro anos depois de se atingir a final ou três anos depois de se ficar a um bom resultado com o Barça para repetir essa presença.

    Em 1992-93, na primeira edição da reformulada Liga milionária, o Benfica tinha competido na Taça UEFA – onde ficara pelos Quartos, perdendo por 4-2 no agregado com a Juventus de Trapattoni; e na época anterior a disputa tinha sido pela Taça das Taças, caíndo ingloriamente na segunda mão das meias-finais perante o Parma.

    Portanto, 1994 marcava a estreia dos encarnados no novo formato. Na fase de grupos, desempenho a provar natural superioridade sobre Hajduk, Anderlecht e Steaua – primeiro lugar, com três vitórias e três empates. O sorteio ditava confronto com o Milão de Capello, o mesmo que um ano antes provocara a implosão do sistema de Cruyff, num 4-0 sem tréguas para os culés – e o Benfica chegava então a San Siro sem grandes optimismos, pensando que só por um milagre se faria resultado esperançoso para a segunda mão. Só que os adeptos, ainda habituados a um Benfica de gabarito colossal, enraivecidos ficaram pela falta de atrevimento da equipa, que se contentou apenas em defender o nulo até quando pode: o Milão foi paciente, foi levando o cântaro à fonte e Simone lá deu de beber aos tiffosi aos 63’, repetindo a dose aos 75. 2-0 e o mais frustrante fora a imagem pálida deixada pelos benfiquistas que necessitavam agora dum 3-0 em Lisboa – Preud’homme dizia que precisariam de «fazer um milagre».

    Em Lisboa, houve 0-0, galardoando ambas as equipas pelas suas qualidades – o Benfica tentou pressionar desde início, mas faltou arte e engenho para nem sequer fazer cócegas a uma impecável defensiva italiana, já de si tradicionalmente competente; Isaías, um dos poucos com nível, entraria só a 20 minutos do fim, numa daquelas decisões duvidosas que marcariam a temporada. Capello passava no teste sem problemas e conseguiria meses depois atingir novamente a final, desta vez perdendo para o AFC Ajax de Louis Van Gaal.

    2.

    SL Benfica 2-1 Manchester United FC (Fase de grupos, 2005-06) – A última presença numa fase de grupos tinha sido em 98-99, sem grande pompa. Sete anos depois, o Benfica jogava finalmente a hipótese de qualificação para a fase a eliminar da prova, repetindo feito conseguido em 1994-95 – há 11 anos. Poderia ser o final dos anos negros e o regresso do velho monstro aos palcos a que tanto se habituara num passado longíquo. Koeman era o responsável pela equipa que tinha chegado até ali de forma pouco brilhante, atabalhoada e quase ao pé coxinho, num grupo com Lille e Villareal, além do United. Na entrada para a 6.ª ronda, quem ganhasse na Luz passava juntamente com os espanhóis aos Oitavos – Alex Ferguson poucas vezes se vira naquela situação, o seu United era força pujante nessa Europa e tinha um plantel cheio de estrelas: Van der Saar, Gary Neville, Ferdinand, Scholes, Ronaldo, Rooney, Giggs e  Van Nistelrooy chegavam à Luz para defrontar um Benfica em cacos, sem Simão, Manuel Fernandes, Miccolli e Karagounis. O vídeo mostra bem o desenrolar das emoções do jogo e é pena que não traduza fielmente o ambiente vivido naquela noite, um glorioso regresso do Inferno da Luz a dar à equipa o boost motivacional que lhe permitisse fazer peito a um conjunto bastante superior em qualidade individual. 

    3.

    Liverpool FC 0-2 SL Benfica (Quartos de final, 2005-06) – Depois da estonteante vitória a garantir a passagem à fase seguinte, de Nyon veio a arrepiante notícia – em sorte, das bolas a rolar nos potes saíra o nome do Liverpool, treinado por Benítez e que, uns meses antes, sendo protagonista no episódio mitológico de Istambul, se tinha tornado  campeão europeu de clubes, depois de anular uma desvantagem de três golos ao intervalo.

    Na Luz, houve surpresa: já perto do fim, Luisão fora às alturas desfeitear Pepe Reina com uma cabeçada indefensável. Surpreendente, entusiasmante, mas… só melhor que nada, já que a viagem a Anfield era um pesadelo para o comum adepto da bola e muito mais para os benfiquistas, que lá nunca tinham sequer pontuado. Ou seja, olhando para a história do Benfica, nenhum resultado conseguido na terra dos Beatles permitia proteger aquele 1-0 – e isto com equipas muito mais preparadas, na teoria. O que esperar daquele Benfica, que ia caminhando no campeonato aos tropeções (e acabaria em terceiro)?

    Confirmaram-se as piores previsões de sufoco. Benítez foi com tudo: o fantástico Morientes junto a Crouch na frente, Kewell e Luis Garcia eram os marialvas á solta nos corredores, Gerrard começava como ‘8’ à frente de Xabi Alonso. Tracção à frente, pedal a fundo. O Benfica aguentou como pôde, Moretto lá foi defendendo uma e outra vez. Mas tanta ganância pelo golo expunha as fragilidades defensivas duma linha composta po Finnan, Carragher, Traoré e Warnock – foi fácil então a Nuno Gomes, Robert e Simão construir o primeiro, num lance clássico do ‘20’ português de receber na esquerda, puxar para dentro e metê-la em arco ao poste mais distante. O primeiro foi um golaço que tranquilizou a equipa e enfureceu ainda mais os ingleses – jogadores e dirigentes, que tinham passado os mercados de Verão e Inverno a tentar tirar Simão da Luz. Vieira, felizmente, não aceitara os 12 milhões mais o passe de Djibril Cissé, a proposta mais alta. O presidente encarnado pedia… 20 milhões.

     A partir daí, os da casa perderam a fluidez do seu jogo, precipitaram-se constantemente e, vendo o relógio passar, entraram em pânico. Quando Miccolli acabou com as dúvidas, em cima dos 90’, já se sentia no ar de Anfield o fair-play britânico de reconhecer méritos ao adversário – aceitava-se pelas bancadas adentro que o Benfica conseguira ter traquejo suficiente para ultrapassar o seu inferno. E por isso, palmas, muitas palmas, e um You Will Never Walk Alone ensurdecedor ao som do qual o árbitro apitou pela última vez.

    4.

    Manchester United FC 2-2 SL Benfica (Fase de grupos, 2011-12) – Jorge Jesus tinha falhado a toda a linha na época de estreia na Champions, com quatro derrotas nos seis jogos da fase de grupos 2010-11. As teimosias táticas que lhe tinham valido uma mão-cheia de vergonhas, lá fora e em contexto nacional, proporcionaram no Verão uma adição extraordinária a um plantel já recheado de bons valores: Axel Witsel, o dínamo que vinha atrasado na substituição de Ramires. Com o belga junto a Javi Garcia e com Aimar mais próximo de Cardozo, a equipa voou – e, finalmente, desde 1994-95, conseguia nova fase de grupos sem derrotas. Com Otelul e Basileia como outsiders, restava enfrentar novamente Sir Alex Ferguson pelo primeiro lugar do grupo: e novamente saiu o Benfica em vantagem, com empate em Lisboa e este empate em Old Trafford, lugar onde o Benfica só sabia perder, até aí e desde aí.

    Em 19 edições de Liga dos Campeões, o Benfica atingia pela… terceira vez a fase a eliminar.  

    5.

    Club Atlético de Madrid 1-2 SL Benfica (Fase de grupos, 2015-16) – A temporada não começava bem para o Benfica, com as divergências entre Jorge Jesus e direcção a levarem o técnico rumo a Alvalade. Rui Vitória tardou a entrar no ritmo a que os benfiquistas estavam habituados e até Dezembro a equipa deambulou entre o horrível e o aceitável: a única ocasião em que se viram ares dum Benfica competitivo como seria a partir de Janeiro foi no Vicente Calderón, na segunda jornada. Aquele Atlético era o auge Simeónico, tinha ganho a Liga e sido finalista da Champions em 2013-14 e seria, em 15-16, novamente finalista europeu – mas naquela noite, um Benfica competente conseguiu surpreender Griezmann, Koke e companhia, exibindo-se de forma arrojada num campo onde não perdiam para a Champions desde… 2009, quando o FC Porto lá ganhou por 0-3, há 13 jogos de distância – Gaitán primeiro, Gonçalo Guedes depois, impuseram a Simeone a primeira derrota milionária em casa (porque só tinha entrado para o comando técnico no final de 2011), ele que só voltaria a ser derrotado como anfitrião.. 12 jogos depois, em Setembro de 2017 perante o Chelsea. O Benfica qualificar-se-ia em segundo lugar, ultrapassaria o Zenit nos Oitavos e calharia em sorte a Guardiola e ao seu Bayern, nos Quartos. O jogo da Luz (2-2) era outro forte concorrente a integrar este top, não tivesse ele apenas cinco vagas…  

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.