Em dia de eleições alguém há de sair da crise | Benfica x Estoril Praia

Benfica
Primeira Liga, 25ª jornada: domingo, 10 de março, 20:30.

A ANTEVISÃO: O PAÍS VAI A VOTOS, MAS NESTE JOGO O RESULTADO DECIDE-SE EM CAMPO

Entre todas as diferenças, Benfica e Estoril Praia apresentam duas semelhanças: o distrito de residência e estarem mergulhados numa onda negativa de resultados. Falar em crise é, talvez, demasiado exagerado, mas o 1X2 fala por si. O Benfica não vence há três jogos, o Estoril Praia há quatro e ambas as equipas precisam de pontos para as suas lutas.

O Estoril Praia tem sido uma pedra no sapato do Benfica nesta temporada. Na primeira volta só um golo de António Silva nos descontos – seguido de um corte em cima da linha – deu a vitória ao Benfica. Na Taça da Liga foi a equipa da Linha que saiu a sorrir depois de uma sequência de grandes penalidades que transformou a Taça “dos Grandes” na Taça de toda a Liga. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, já dizia José Mário Branco. Mudam-se também contextos.

O Benfica chega à 25ª jornada no segundo lugar e com problemas coletivos para resolver. À esquerda, à direita e ao centro a equipa de Roger Schmidt apresenta lacunas que Sporting, FC Porto e Rangers conseguiram aproveitar. Por muito que as individualidades sejam ótimos bodes expiatórios, os problemas do Benfica são essencialmente coletivos.

Defensivamente as águias não dão garantias. Tem sido muito fácil entrar na defesa das águias e todas as coligações têm falhado. O Benfica tem dificuldades para defender a toda a largura e, em todos os jogos, alas, extremos ou médios aparecem ao segundo poste ou no coração da área para finalizar. Definir zonas de pressão tem sido outro dos calcanhares de Aquiles do Benfica. Cada vez que os encarnados procuram pressionar em cima, o jogo acaba por partir, os adversários encontram espaços para entrar (por dentro ou por fora) e a dupla de médios tem demasiado espaço para cobrir. A crise da habitação não se manifesta no Estádio da Luz com a dupla de médios do Benfica a ficar sozinha perante um T3 ou um T4.

Com bola – e aí sim – têm sido as individualidades a decidir. Quando estas não aparecem ao nível esperado, o Benfica ressente-se. Entre os padrões recentes implementados por Roger Schmidt, o sobrepovoamento do lado esquerdo (com Di María a ter liberdade de movimentos) tem permitido ao Benfica gerar vantagens numéricas. Se aproveitadas, o Benfica concentra jogadores com capacidade de combinar e de acelerar com bola no pé e está mais perto de criar perigo. Se não, João Neves e o parceiro no centro do terreno terão trabalho redobrado.

Pensando na equipa do Estoril Praia e fragilidades, o Benfica pode beneficiar da ação de Rafa. O português gosta de aproveitar o espaço entrelinhas e, com Jordan Holsgrove ainda de fora, o Estoril Praia costuma desproteger as costas dos médios. Havendo inteligência e critério no passe – Orkun Kokçu pede licença neste cenário – Rafa pode virar-se de frente para o jogo e aproveitar o espaço. Procurar ter David Neres e um lateral esquerdo com capacidade de projeção para aproveitar as costas de Rodrigo Gomes (um ala com pendor ofensivo) pode também ser proveitoso para a equipa de Roger Schmidt que, com espaços para acelerar, costuma criar perigo.

Pelos lados do Estoril, os quatro desaires consecutivos colocam os canarinhos no 16º lugar. Se tudo continuar a correr mal, na próxima jornada a equipa de Vasco Seabra pode cair para os lugares de despromoção direta e ver a situação piorar. O potencial que, em novembro, parecia estar a ser explorado, voltou a dar uns passos atrás e recuperar é palavra de ordem para o Estoril Praia.

Desde cedo se percebeu que o Estoril Praia seria uma das equipas que mais espetáculo traria. Ataca bem, defende menos bem e todos os jogos costumam ter muitos golos. A consistência defensiva é uma miragem distante e, independentemente da altura da linha, o Estoril Praia costuma sofrer. Quando defende alto, há jogadores com limitações no controlo à profundidade e com pouca velocidade para recuperar metros. Quando se resguarda junto da área a agressividade nos duelos é escassa, a reação lenta e qualquer bola despejada sem grande critério deixa no ar a sensação de uma oportunidade iminente.

Esta característica torna o Estoril Praia falível. Os canarinhos precisam de muitas oportunidades para marcar (não há propriamente um matador de serviço ou uma eficácia extrema) e qualquer bola na área do clube parece fazer estremecer toda uma estrutura defensiva. Esta dualidade impede o Estoril Praia de ser mais competitivo do que a qualidade dos jogadores e as dinâmicas coletivas o fazem adivinhar.

Ainda assim, o Estoril Praia pode ferir o Benfica. À direita, a relação entre Rafik Guitane e Rodrigo Gomes cria problemas. Rodrigo Gomes chega de trás para a frente, ataca zonas de finalização e acelera em condução. Joga por fora e por dentro e o argelino – escolheu representar a seleção africana – aproveita para compensar os espaços. Quando recebe por fora foge à marcação e ganha ímpeto para driblar. À esquerda, Mateus Fernandes é especialista em identificar o melhor espaço para receber. Procura receber por fora, lateralizando à esquerda e obrigando o adversário a tomar decisões na pressão. Se procura condicionar o médio abre espaços para o passe entrar por dentro, se não é pressionado consegue conduzir ou acionar o passe de rutura. Quando Mateus Fernandes lateraliza, Tiago Araújo – ou o outro ala – projeta-se e João Marques (um médio a partir do corredor) pode receber por dentro. É o jogador com maior capacidade para receber nas costas dos médios do Benfica e aproveitar o espaço deixado pelo duplo pivô encarnado.

O Benfica procura evitar que, como cantava Zeca Afonso, “Venham Mais Cinco” outra vez. O Estoril Praia, por seu lado quer impedir que Fernando Tordo deixe entrar todos os participantes na “Tourada” pela sua defesa adentro. O dia 10 de março é dedicado a coisas mais importantes que o futebol, mas a bola a rolar não deixa de ser a mais importante de todas as não importantes.

10 DADOS RÁPIDOS

  1. À 25ª jornada o Benfica é segundo lugar com 58 pontos.
  2. Já o Estoril Praia está numa posição muito mais delicada na tabela. Os canarinhos são o 16º lugar com apenas 22 pontos conquistados.
  3. Esta temporada nenhum clube marcou mais de um golo num jogo entre Benfica e Estoril Praia.
  4. Em 2023/24 o Benfica venceu um jogo diante do Estoril Praia e empatou outro (ganho pelos canarinhos nas grandes penalidades).
  5. O Benfica venceu os últimos dois jogos no Estádio da Luz diante do Estoril Praia pela margem mínima.
  6. Tiago Gouveia é o único jogador do Benfica com passagem pelo Estoril Praia (na última temporada por empréstimo).
  7. Do lado do Estoril Praia, Tiago Araújo, Pedro Álvaro e Heriberto Tavares fizeram formação no Benfica.
  8. O Benfica não perde com o Estoril Praia há 44 jogos (desde 1977).
  9. Se a amostra for reduzida a jogos no Estádio da Luz, a última derrota do Benfica diante do Estoril Praia data de 1950.
  10. No Estádio da Luz, os resultados mais frequentes entre Benfica e Estoril Praia são 1-1, 2-1 e 4-0 (quatro vezes cada).

JOGADORES A TER EM CONTA

João Neves
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

João Neves – Quando tudo corre mal, João Neves emerge e agarra no espírito e na alma do Benfica. Quando tudo corre bem, João Neves é peça perfeita na engrenagem. Não há muitas palavras para a maturidade do médio benfiquista que, no ano passado, foi promovido ao onze no momento de maior aperto e agora continua a ser o principal destaque nos dias menos bons. Deixa a última gota em campo para cobrir espaços que não são os dele e, com bola, leva a equipa para a frente. Conduz, acelera e deixa pormenores de classe em todo o lado do campo. É superlativo.

Rafik Guitane
Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

Rafik Guitane Foi associado ao Benfica em janeiro e vai ter oportunidade de pisar um palco que, com todo o respeito ao Estoril Praia, condiz muito melhor com os pés do franco-argelino. Rafik Guitane tem no pé esquerdo uma régua, um esquadro e um compasso. Desenha lances como quem pinta quadros e tem cruzamentos e remates feitos com fórmulas matemáticas. Se o Benfica não tomar cautelas vai sofrer com o extremo do Estoril Praia que tem mago como nome do meio.

XI´s PROVÁVEIS

Benfica: Anatoliy Trubin; Alexander Bah, António Silva, Morato, Fredrik Aursnes; Florentino Luís, João Neves; Ángel Di María, Rafa, David Neres, Casper Tengstedt.

Treinador: Roger Schmidt

«Este ano os avançados são jogadores menos completos do que o que tínhamos no ano passado. Mas todos têm tentado cumprir. Eles são diferentes, como vocês reparam. Mas, para cada jogo, temos tido uma opção».

Estoril Praia: Dani Figueira; Rodrigo Gomes, João Basso, Bernardo Vital, Eliaquim Mangala, Tiago Araújo; Vinícius Zanocelo, Mateus Fernandes; Rafik Guitane, Alejandro Marqués, João Marques.

Treinador: Vasco Seabra

«Acreditamos na combatividade dos nossos jogadores e que vamos regressar aos bons resultados. Temos uma vontade muito grande de atacar a baliza do Benfica com a nossa mentalidade de cada jogo ser uma final».

PREVISÃO DE RESULTADO: Benfica 2-1 Estoril Praia

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O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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