O Benfica regressou esta semana aos relvados e logo em dose dupla. Ainda com algumas das principais figuras ausentes, o conjunto encarnado deslocou-se a Águeda para enfrentar Farense e Celta de Vigo consecutivamente. Sob o olhar atento dos presentes e dos que acompanham à distância, o regresso das águias à ação foi notoriamente positivo.
Entre experimentações e cenários hipoteticamente inconcebíveis durante a temporada, as notas retiradas dos dois jogos de preparação entusiasmam, e muito, os adeptos do Benfica.
Benfica x Farense
No primeiro encontro, como o choque não podia ser tão instantâneo, Roger Schmidt bem à sua imagem, colocou uma dose q.b. de novidades na primeira equipa lançada. Com Tiago Gouveia a lateral direito, Samuel Soares na baliza, face à ausência do habitual Trubin, e Leandro Barreiro e Pavlidis nas suas estreias, foi o 4-4-2 um dos aspetos mais notáveis a abordar.
Uma tática raramente utilizada pelo técnico alemão, colocou Marcos Leonardo em zonas de apoio ao principal ponta de lança (Pavlidis), e permitiu que o brasileiro procurasse mais espaços de apoio e de construção recuada. Algo que não foi muito visto na última temporada, mas que deixou bons indícios para possíveis ocasiões de necessidade no decorrer da temporada. Já Tiago Gouveia, que rendeu Aursnes no papel de lateral adaptado, não desiludiu e mostrou feliz ou infelizmente que o treinador pode contar com ele para a posição requerida.
É perceptível a falta de habituação do extremo à posição, contudo, em jogos de grande superioridade dos encarnados, onde a equipa se encontra maioritariamente no meio-campo adversário, a utilidade de Tiago Gouveia naquele papel é inegável. No que diz respeito aos estreantes Barreiro e Pavlidis, pouco de negativo há a apontar.
Apesar do curto espaço de tempo que se encontram integrados no grupo, os novos reforços do Benfica mostraram uma completa tranquilidade e leveza dentro de campo, como se conhecessem os colegas e o estilo de jogo há muito. Algo que acaba por não ser surpreendente, pois são atletas contratados por se enquadrarem num ideal estilo de jogo e dispensam largos períodos de habituação para apresentarem rendimento. Desde já, uma melhoria face à última temporada.
Ainda assim, foi na segunda metade do encontro que as expectativas subiram a pique. Com a mudança completa dos 11 jogadores, podia esperar-se alguma queda no nível exibicional, no entanto, o fenómeno foi mesmo o oposto.
A segunda equipa apresentou um grau ainda superior e, à boleia do nível altíssimo apresentado por jogadores como Rollheiser ou Prestianni, as águias voaram sobre o Farense nos restantes 45 minutos.
Rollheiser principalmente, foi o principal responsável pelo sucesso encarnado na segunda metade. Ele que ocupou terrenos mais interiores, ao ser utilizado como segundo médio, mais ofensivo, mostrou classe e categoria em cada ação.
Na temporada passada não teve oportunidades contínuas para se exibir verdadeiramente, mas agora, desde cedo tem mostrado uma enorme qualidade na conexão com os colegas, na ligação entre espaços, na capacidade de rematar e ter o maior aproveitamento possível em pequenos espaços.
Com estas exibições, o Benfica ganhou mais um médio para a temporada. Prestianni simultaneamente, também marcou presença depois de rumores que o apontavam à saída, antes que fosse possível mostrar o que fosse. Se for verdadeiramente aposta, a joia argentina vai mostrar a capacidade e qualidade incomum que detém.
Benfica x Celta de Vigo
Ao contrário do primeiro jogo, foi no primeiro tempo que os encarnados encantaram. Roger Schmidt optou por juntar um pouco das duas equipas lançadas no jogo anterior e atingiu certamente o futebol pretendido.
Se 23/24 fez esquecer o futebol apresentado em 22/23, estas pequenas demonstrações em 24/25 fizeram relembrar os primeiros tempos do alemão em Lisboa. Os encarnados mostraram um jogo associativo, de pressão, de conexão, de pura qualidade. Ainda que seja apenas uma amostra da longa época que se avizinha, é já uma amostra verdadeiramente positiva. Uma que convence aqueles que a observam.
Quer a nível coletivo, quer a nível individual, as águias estão a mostrar capacidade de atingir um nível superior ao da temporada passada. Aursnes na meia esquerda, ocupando também espaços interiores, mostrou que é ali o espaço onde consegue ser mais produtivo e mais útil à equipa. É um dado adquirido e sabido que o norueguês é o Joker da equipa, ainda assim, Aursnes faz questão de o demonstrar a cada oportunidade dentro das quatro linhas. Faz de tudo um pouco na equipa e vai ser, mais uma vez, uma peça fulcral para o bom funcionamento do conjunto.
Também a nível individual, Pavlidis foi um dos que se destacou em grande plano. Depois de se ter estreado a marcar no dia anterior, bisou na segunda partida e elevou a concorrência para a posição número 9 do clube da Luz. Para além dos golos, o avançado grego oferece mais aos colegas noutras zonas, quer a apoiar, quer a libertar espaços. É um avançado completíssimo, como se previa, e é certamente o que tem mais condições para agarrar a posição e o protagonismo.
Nos segundos 45 o rendimento caiu, de forma natural, mas sem espaço para fazer soar os alarmes. O lançamento de tantas peças diferentes e inexperientes de forma simultânea traz naturalmente algumas complicações colectivamente.
No entanto, face a tudo aquilo que foi demonstrado no conjunto dos dois jogos, as primeiras impressões são claras: o futebol de qualidade está de volta.