No jogo do Benfica que honra o eterno camisola 10, Eusébio da Silva Ferreira, foi posto em causa o número que o ícone carregou nas costas de águia ao peito durante tantos e tantos anos. Não por desonra ou afronta ao seu significado, muito pelo contrário até.
Face àquilo que se tem vindo a registar na realidade encarnada, quem é o protagonista em melhores condições para assumir não só a camisola, como principalmente, a posição associada ao próprio número, a posição 10.
Na temporada passada era Rafa o principal ocupante da posição, ainda que não fosse o jogador com as características usuais para tal, mas era. Kokçu, a opção anteriormente mais viável para assumir o cargo, apenas o fez numa fase mais avançada da época, e mostrou um rendimento notório. No entanto, a pré-temporada, a que o turco não compareceu até há pouco, por estar a descansar do Euro, foi palco para outra estrela brilhar. Estrela essa que soube aproveitar todo o espaço concedido para tal. Falo de Prestianni.
O diamante argentino, que há uns jogos atrás ainda não sabia com toda a certeza se iria permanecer sequer no clube ou não, passou de possível dispensado a indispensável. Ou pelo menos anda lá perto.
O jovem de 18 anos, nos cinco jogos realizados até ao momento esta temporada foi, a seguir ao novo avançado das águias, aquele que mais se destacou até ao momento. Não tirando o mérito a atletas como Leandro Barreiro ou Marcos Leonardo, é importante destacar o fator surpresa aqui presente.
O tal fator não se prende à sua qualidade, porque essa é incontornável, mas sim à forma como foi capaz de a aplicar tão rapidamente e com tanto impacto. Para além de encantar com a bola nos pés, encanta mais o facto de o fazer apenas com apenas 18 anos. Neste sistema, atrás do principal avançado, o argentino mostrou-se completamente capaz e diferenciado no exercício das funções. Sendo essas funções a pressão alta, a ligação entre espaços, a capacidade de rutura, a capacidade de conexão e a capacidade de finalização. Aspetos que Prestianni enfatizou sempre com um pouco de rebeldia e classe, próprio da idade.
Neste contexto, como se encontra a situação da posição atrás do ponta-de-lança do Benfica? Certamente que estes jogos não chegam para entregar a titularidade definitiva a ninguém, contudo, ajudam a projetar, pelo menos, um esboço inicial para as primeiras jornadas.
Nos testes anteriores Roger Schmidt também já havia lançado de início, na mesma posição, Marcos Leonardo. Ainda assim, o brasileiro apesar de se encontrar sensivelmente nos mesmos espaços, acaba por ter um rendimento diferente, derivado das características que carrega. Marcos Leonardo acaba por se assumir mais como um segundo ponta-de-lança e não como um segundo avançado, se é que seja possível distinguir por completo as duas posições. Neste caso, o aspeto mais relevante é a percepção de que aquilo que podem fornecer é diferente e isso pode ser positivo na abordagem a diferentes adversários.
No entanto, há um fator que pode tornar todo o plano numa autêntica incógnita. Isto porque jogadores como Kokçu ou Di María, habituais e possíveis titulares, podem mudar as dinâmicas até agora testadas. Foquemo-nos no caso de Kokçu e naquilo que pode passar pela cabeça do técnico alemão neste momento.
Assumindo os dois como titulares, será possível encaixar Kokçu e Prestianni no mesmo onze? Para isso acontecer Kokçu teria de baixar um pouco no terreno e esse cenário, por força da experiência, não é propriamente o ideal. Isto porque, como duplo pivô, o turco acaba por não conseguir extrair da melhor forma todo o seu potencial e, à semelhança do que aconteceu na temporada passada, existe todo um descontentamento em torno disso. A verdade é que olhando para um sistema de pressão alta, Kokçu não se consegue inserir nas ideias a partir daquela posição. Como Leandro Barreiro tem mostrado, a carga de trabalhos é bastante elevada e a atenção entre os dois momentos do jogo acaba por ter de ser redobrada, algo que Kokçu não consegue corresponder no momento defensivo.
A toda a esta questão no universo do Benfica ainda se junta Rollheiser que, tendo chegado como extremo na temporada passada, já mostrou que pode ser muito útil em posições mais anteriores, seja como “8” ou “10”. Adicionando mais hipóteses à questão também se pode equacionar o recuo de Aursnes para “8” libertando mais espaço para as posições dianteiras. A profundidade e qualidade do plantel atual do Benfica permite uma larga liberdade de pensamentos. Posto isto, e olhando para o facto de que a uma longa época ainda não começou sequer oficialmente, somam-se hipótese e cenários que apenas um indivíduo poderá verdadeiramente com o tempo decidir: Roger Schmidt.