
Na deslocação à Reboleira, apenas os primeiros minutos custaram ao Benfica. À boleia da bicicleta de Arthur, as águias foram capazes de contornar as dificuldades causadas pelos anfitriões e mantiveram a mudança imposta pelo brasileiro até ao final do encontro. Se em tempos o ritmo de Arthur parecia não acertar, o ponta de lança tem mostrado nos últimos jogos que só agora está a colocar o pé no acelerador. A juntar ao bom momento de forma do número 9, surgiu também um novo elemento que traz curiosidade e competitividade ao futuro da posição mais adiantada no terreno dos encarnados.
Além disso, o dia de ontem ficou também marcado pelo regresso de Alexander Bah aos relvados, pela estreia de Rollheiser de águia e ao peito, e pelo regresso de David Neres às assistências. Posto isto, Roger Schmidt tem à sua disposição o plantel na sua melhor condição em muito tempo, o que pode facilitar o ataque ao resto da temporada, ou não? Isto porque a qualidade que se sobrepõe posição atrás de posição pode suscitar algumas complicações na gestão do plantel, como já vimos anteriormente. Aprofundemos essa questão.
Na frente de ataque, como temos vindo a assistir, Arthur Cabral passa pelo seu melhor momento de forma desde que chegou ao Benfica, no entanto, Marcos Leonardo, que chegou somente há umas semanas, já leva três golos em apenas 85 minutos de utilização. Se de um lado Arthur Cabral precisou de algum tempo para se adaptar e se ajustar à equipa, do outro, Marcos Leonardo tem mostrado que cada oportunidade vale ouro e pode vir a conquistar terreno. Colocando frente a frente cada um dos avançados podemos perceber aquilo que cada um pode trazer de diferente ao jogo. Arthur Cabral, à semelhança do que mostrou no jogo de ontem, pode ser mais útil frente a equipas que joguem com o bloco baixo, em situações que se requeira mais a presença dentro da grande área e a resposta a cruzamentos, fazendo uso da sua boa finalização. Por outro lado, Marcos Leonardo é um avançado mais móvel que oferece, por sua vez, mais soluções no último terço. Para além de oportunista dentro da grande área, tem mais capacidade de criação e conjugação de jogo noutros terrenos. Não se destaca pelo porte físico, mas sim pela versatilidade e inteligência que oferece de outra forma na frente.

Com a saída iminente de Musa do plantel do Benfica, os avançados brasileiros competem agora apenas com Tengstedt que, apesar de se encontrar lesionado neste momento, era o avançado titular da equipa antes da lesão e vinha a mostrar uma evolução bastante notável na frente de ataque, sobretudo no que diz respeito à fluidez ofensiva que proporcionava face às suas fortes desmarcações e combinações com os colegas. Se há uns jogos atrás o dinamarquês foi a alavanca que solucionou grande parte dos problemas na frente de ataque, agora, pode voltar e ver o seu lugar e o seu progresso em risco. Apenas nos próximos jogos seremos capazes de perceber se a escolha se baseará em mérito individual ou na adaptação às condições impostas pelos jogos a abordar.
Olhemos agora para os três jogadores que se encontram atrás do avançado, usualmente João Mário, Rafa e Di María. Jogadores que somam minutos atrás de minutos esta temporada, são titularíssimos para Roger Schmidt, contudo, face às recentes adições ao plantel do Benfica, surge a dúvida sobre a gestão desta área. Aursnes, que ocupava anteriormente o lugar agora ocupado por João Mário, serviu como solução à lesão de Bah que deixou a ala direita livre, no entanto, com o regresso do dinamarquês aos relvados, onde é que se posicionará o número oito das águias no campo? Supondo que não tenha ganho lugar cativo como lateral, Aursnes deverá voltar às áreas onde consegue ser mais produtivo, ou seja, como médio ofensivo ou como médio centro. Para que isso aconteça o treinador alemão terá de sacrificar João Mário ou mesmo Orkun Kockçu, um cenário que se avizinha difícil de prever. Além de Aursnes, Roger Schmidt tem também de gerir a utilização de David Neres, Tiago Gouveia e Rollheiser. Serão estes jogadores suplentes para o resto da temporada, ou assistiremos a uma renovação do onze que teima em não mudar?
Por fim, na defesa, assistimos ontem também à continuação da utilização de Morato, que tem vindo a servir de lateral esquerdo há algum tempo, e se esperava que deixasse o onze no dia de ontem, mas acabou mesmo por fazer os 90 minutos na Reboleira. Apesar desse facto, Álvaro Carreras, que ainda não se estreou como titular, não tardará em entrar no onze inicial. Quando isso acontecer, uma das principais lacunas do sistema encarnado ficará, à partida, solucionado, e essa questão deixará de ser um problema na gestão de Roger Schmidt.
Face a todo este envolvimento, e à quantidade de jogadores de qualidade no plantel do Benfica coloca-se a questão se isso servirá como um ponto positivo para os encarnados ou não. Por vezes, o excesso de virtudes pode proporcionar problemas no que diz respeito à gestão das mesmas. Assistiremos a uma maior rotação do plantel a partir deste momento ou terá o técnico dos encarnados ideias diferentes para o resto da temporada? A exigência dos próximos tempos certamente ditará a resposta.