Três em vinte e duas | SL Benfica

    Benfica

    Entre marido e mulher não se mete a colher, diz o povo (com toda razão) mas o barulho das eventuais zaragatas atraem sempre a coscuvilhice da vizinhança. A Taça de Portugal, prova Rainha, continua a ter no Benfica o seu Rei, que pela força da galanteria mais competente lhe arrancou 26 beijinhos – títulos – mas a frequência dos mesmos tem vindo a diminuir (e com razão que o marido também deixou de ser o mesmo) e há outros pretendentes à espreita para meter a tal colher: marcamos como ponto fulcral da relação a bela tarde 1992-93, data que escolhemos por ser data de título encarnado (5-2 ao Boavista, na tarde de Futre) e por ser também a última final pré-aquilo a que se chama Vietname encarnado, que por norma se enquadra a partir de 1994.

    Antes dessa final, Águias contavam 22 títulos e sete presenças na final como vencidos – 29 idas ao Jamor (simbolicamente escrito, que nem sempre foi lá) em 55 edições (em percentagem para se entender melhor, 52% dos galanteios deram até ao último encontro). O FC Porto? Sete títulos e dez vezes finalista. O Sporting? 11 títulos, sete vezes esticou os lábios para o troféu.

    Tudo somado, era o Benfica quem mais vezes lhe tinha ido cantar à janela e a tinha feito corar: mais que os outros dois juntos. Era altura de assumir tudo, meter os papéis e juntar a malta para formar família. Casaram-se por fim nesse pôr de sol em 93, não prevendo porém que seria de aliança no dedo que tudo iria por água abaixo. Até hoje…  

    A história começa cedo, distante, mas é boa de se perceber portanto vamos apertar os cintos – e com ela talvez ganhemos uma nova perspectiva (esperança?) sobre o marasmo actual da relação. A primeira sedução é 1938-39 (antes disso fora Campeonato de Portugal, o Benfica tem três, portanto não foi à primeira vista, tiro e queda), a final é jogada com a Académica mas no derradeiro momento, a Rainha vira a cara: nada feito, que ficou 4-3 para os de Coimbra.

    Mas não faz mal, que ao fim de 12 edições, até ao final dos anos 40, a Águia já leva quatro beijos (títulos) e uma outra falhada tentativa. Anos 50 são mais seis (títulos) ,a mostrar que a relação estava de boa saúde: a auto-confiança do Rei era tanta que resulta em desleixo no dealbar dos 60’s, quando se vê a contas com uma paixoneta passageira – foram só duas vezes, ainda por cima era estrangeira e nunca mais a vejo – portanto beijinhos com a patroa foram só três (vamos em 13 títulos em 32 edições, apontem).

    Deu trabalho a reconciliação, que na década seguinte só dois e bate-chapas – ela a puxar da dignidade (com toda a razão) e fazê-lo sofrer. Mas sofreu tanto e deu tanto ao pedal na reconquista que acabou por a convencer das boas intenções: nos anos 80 foram seis! beijinhos, três deles seguidos (o recorde são quatro títulos de rajada, nos anos 50) e uma final: em dez ‘Jamores’, sete vezes o Benfica. Houve aquela final nas Antas em 83 só resolvida pelo monumental pontapé de Carlos Manuel, houve tripleta de 1984 a 87, vencendo numa delas o FC Porto, noutra o Sporting (a outra foi sobre o Belenenses, que teria a sua desforra em 88-89).

    Oh doce ternura, fartura de amor, o mel foi tanto que deixou diabética a mais ardente das relações. Casados os intervenientes, cansaram-se logo de seguida que o peso do matrimónio pôs azedume no trato, o stress tirou-os dos olhos um do outro e meteu-os de costas voltadas: desde 1993 (30 anos), quatro beijinhos (títu…, 96, 2004, 2014 e 2017) e cinco jantares que não deram em nada – nove encontros para 29 oportunidades (percentagens novamente, 31%, bem abaixo, lembram-se?).

    Nos entretantos houve 10 anos sem beijinho, um recorde negativo que deixa transparecer uma total ruptura do casal (o anterior recorde eram nove, entre 1971 e 1980).

    Mas se houve louca recuperação logo a seguir e um rejuvenescimento do prazer conjugal relembrando velhos tempos, está na hora, na década de vinte do século vinte e um de ressuscitar velhas paixões e meter mãos à obra para construir um novo amor, mais maduro, mas não menos leal – se já perdeu duas oportunidades de dar beijinho (tít….) em desfavor de FC Porto e SC Braga, ao Benfica cabe mostrar no jogo com o Vitória SC, tal como fez com o Varzim SC, que o Rei se quer mesmo voltar a entender com a Rainha: que desde o novo milénio só seduziu totalmente por três vezes, fazendo ambos corar de vergonha quando olham para trás e vêm a diferença de registo para os anos de maior fulgor.

    Sendo muito maiores os laços que os unem que a possível falta de profissionalismo e competência estrutural que separa o Rei da Rainha, há sempre hipótese de um recomeço. Agora é que é. E é essa a motivação primordial que pode obrigar Rei a pôr a mão na consciência e tomar juízo, levando a sério uma Rainha que nem sempre foi tida como nobreza.

    Agora, a tentar de novo… que sejam outros loucos anos 80. Em 2023 o 27ª, 2024 o 28ª e por aí fora. Beijinho ou título.

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.