Como Sven e Bruno | SL Benfica

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Chegar a um Dragão sedento de pontos e duma derrocada visitante para alcançar o primeiro lugar em grande estilo não é ambiente propicio para grandes contemplações ou gestos de amabilidade – nunca havendo grande hospitalidade para agradecer – e por isso ao SL Benfica interessava sobretudo focar-se no futebol jogado e na esperteza competitiva para segurar ânimos.

Desde César Brito em 91-92, o Benfica só tinha exemplificado como mais três vezes em jogos de Liga: Nuno em 2005-06, Lima em 2014-15, Lage em 2018-19. Um padrão descobria-se nesta estatística, invocando valores superlativos que fazem parte do folclore encarnado: a noção da vitória moral sobre a vitória desportiva, o saber ganhar e a elegância em todas as circunstâncias. Eriksson foi disso exemplo, Lage abraçou Luis Gonçalves para ganhar 1-2 na sua casa e saltar para a liderança daquele campeonato. Roger, já suspeitávamos nós, era da mesma casta.

Exigem os velhos códigos de etiqueta brio máximo no acolhimento de qualquer visitante. No desporto, ainda mais. Claro que no caso do anfitrião se fingir esquecido, caberá sempre aos que de fora vêm manter o nível – Schmidt entrou no relvado após as equipas, teve a iniciativa de se dirigir ao banco do FC Porto e só depois assumiu posição na área técnica oposta. 1-0.

Quentinho como de costume o Clássico, a 100 à hora e aos repelões – bola lá bola cá, Vlachodimos e Costa divertiram-se a manter o nulo oficial e os bancos foram-se animando atrás desse ritmo. Roger, ciente da responsabilidade inerente à sua imagem (como Sven e Bruno…), foi sempre o mais sereno dos dois lados. Braços cruzados, queixo apoiado no indicador e a mente ainda a gegenpressar inconsequentemente, que no campo o Benfica permitia ao FC Porto aventuras que nem Juventus FC, nem Paris Saint-Germain FC se dignaram a imaginar.

Eustáquio decide abandonar a meio e surge, nas bancadas e na braçadeira de capitão, a necessidade de se equilibrar a contenda. Alvos frágeis pela componente psicológica do outro lado: havia Bah, inexperiente e voluntarioso no seu jogo, tão à mercê do ambiente que Galeno e Otávio fitaram-no como um bombom; Enzo, pensou-se, assumiria rédeas na intermediária – errado, que desatou um chorrilho de más opções que puseram em causa a sua compostura. (E guinando a linha de pensamento só para investigar, percebe-se que afinal Enzo não jogou realmente nenhum CA Boca Juniores – CA River Plate de forma a estar habilitado ao ambiente do Dragão logo a frio: teve três oportunidades de Super Clásico, ficou no banco em duas e jogou outra, a contar para a… Taça da Liga argentina. Ajuda para perceber a inoperância.)

Alexandre Bah SL Benfica
Fonte: Paulo Ladeira/Bola na Rede

Definidos os alvos, foi um regabofe. A Bah é perdoada a expulsão, ao argentino pouco se viu, e qualquer treinador a que estamos habituados na portugalidade redobraria voto de confiança nos jogadores, expondo-os ao perigo óbvio pós-interregno pensando dar-lhes ânimo. Roger puxou da nacionalidade e do estereotipado pragmatismo e não precisou de raciocinar muito, afastando logo enxames de opiniões patetas sobre técnicos estrangeiros não terem manha suficiente para domar as mangas do cómico “Tugão”: tira os dois e João Mário – outro amarelado, ainda que mais calejado – e lançou Neres e Draxler para gritar que estava precavido contra chico-espertices e para contra-ataques. 2-0.

A equipa melhorou, tomou controlo, chegou à vantagem, mas por momentos deixou-se levar pelas circunstâncias e entrou no jogo adversário das tempestades emocionais e do choro fácil. Luisão, que melhor adaptado não podia estar a essa realidade, chegou a participar a partir da linha lateral, dando o corpo às balas. Mas como ficou perceptível, a Roger interessam-lhe pouco os artifícios de circo (como a Sven e a Bruno… ) e teve de paternalizar, admoestando prontamente o descontrolo do antigo central. Num gesto muito pronto, manda-o sentar-se, que já não tinha idade para tanta falta de juízo – e a imagem televisiva mostra-nos logo a seguir Luisão a acompanhar as parvoíces extra-jogo aconchegadinho ao lado dos adjuntos. 3-0.

A equipa do Benfica aguentou-se bem e venceu. A 18.ª vez de 117 tentativas em 90 anos. No final da partida, a preocupação de Roger foi abraçar os adjuntos que trouxe consigo de Eindhoven, beijar Javi Garcia e abraçar Luisão, como que a perguntar se tinha ou não razão. Antes de se dirigir aos mil heróis que se deslocaram ao Dragão para apoiar a equipa, é encharcado com uma última dose de ódio rival e impropérios. Saiu superioridade moral, compaixão para com os vencidos, o supremo reconhecimento cordial da fraqueza alheia: um fixe à Ronaldinho, sem olhar, a forma mais implacável de fechar um placard com 4-0, na moral. 1-0 no campo e seguem 19 jogos sem perder.

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Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

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