As eleições do Sport Lisboa e Benfica revelaram, mais uma vez, a complexidade emocional e institucional que envolve o maior clube português. Rui Costa e João Noronha Lopes foram os protagonistas de uma disputa que, durante quinze dias, pareceu mais uma crónica de agravos do que um debate sobre o futuro. O que se esperava ser uma campanha de ideias e visões transformou-se num campo de trocas sucessivas de acusações, num duelo de palavras em que se perdeu o essencial: a reflexão sobre o rumo e a identidade do Benfica. Entre promessas, suspeitas e slogans, o valor construtivo do diálogo ficou irremediavelmente diluído.
Na noite eleitoral, o desfecho foi inequívoco. A Lista G, liderada por Rui Costa, conquistou uma vitória expressiva, com uma maioria esmagadora de votantes e votos. O recorde de participação foi prontamente celebrado e tornou-se o símbolo imediato da jornada.


Contudo, há algo de inquietante nesse enfoque quase eufórico sobre o número, como se a força democrática do momento se esgotasse na estatística. As eleições do Benfica não são um campeonato de participação, são um ato de consciência coletiva, um instante de solenidade máxima em que se decide mais do que um presidente: decide-se a forma como o clube se vê a si próprio. O recorde, por mais impressionante que seja, não deve eclipsar o silêncio necessário à ponderação, nem substituir o gesto de humildade que a vitória impõe.
Ainda assim, entre o ruído e o fervor, houve sinais de nobreza que importa sublinhar. Rui Costa, ao convidar os candidatos para a tribuna no jogo frente ao Casa Pia, mostrou a face mais digna do benfiquismo: a que reconhece no adversário a partilha de um mesmo amor, de uma mesma fé encarnada.


Nesse gesto de cortesia, o presidente mostra a vontade de unir o que as semanas anteriores haviam fragmentado. E se há algo que permanece após meses de tensão e incerteza, é precisamente esse sentimento de pertença comum, essa ideia de que todos, independentemente da lista ou da narrativa, servem um mesmo ideal. João Noronha Lopes, Cristóvão Carvalho, Luís Felipe Vieira, Martim Mayer e João Diogo Manteigas, este último com mais de um ano de entrega visível, deram corpo a essa devoção silenciosa que transcende o resultado eleitoral.
O Benfica vive do seu povo, e é nele que reside tanto a sua grandeza como o seu risco. Por isso, mais do que celebrar recordes, importa compreender o peso do que foi escolhido. Porque, nas palavras de Salgueiro Maia, um grande benfiquista, “se o povo quiser ir para o inferno, é para o inferno que iremos”.
Viva o Sport Lisboa e Benfica.

