Eu só quero saber do Benfica

    Mas entendam bem onde eu quero chegar: durante um jogo de futebol, eu torno-me num gajo embrutecido. Quando o jogo de futebol acaba, a sociedade, o senso comum e, naturalmente, a minha mãe, esperam que eu volte a ser um tipo que é capaz de ouvir a analisar a acusação de que o seu clube tem defeitos ou cometeu crimes.

    Eu sou esse tipo. Até porque não é o Benfica que tem defeitos ou comete crimes. O Benfica é perfeito. Quem comete crimes, ou tem defeitos, são, quanto muito, as pessoas que, num dado momento, mandam no Benfica. E essas não são o Benfica, porque o Benfica é muita gente, vivos e mortos, o Benfica são memórias felizes, são famílias inteiras, são muitos anos de história e muita coisa. Não são presidentes, nem comentadores, que esses passam.

    O Benfica é a maior instituição portuguesa no mundo. Isso merece-lhe o nosso amor mas traz-nos também muitas responsabilidades.

    Um benfiquista sério não pode admitir que o seu clube esteja envolvido em negócios obscuros, como por exemplo o do Roberto, que entrou no clube por 8 milhões de euros, jogou mal, saiu por 8 milhões de euros, mas afinal não saiu e de repente já não é do Benfica e ninguém sabe por quanto, nem quem pagou ou recebeu por ele. Como este, poderia dar trinta outros exemplos.

    Um benfiquista sério não aceita que o nome do clube esteja envolvido em pressões sobre árbitros, sobre delegados ou sobre seja quem for, sem querer apurar se há fundamento na acusação.

    Um benfiquista sério não concebe que se pague um euro a um bruxo para ganhar jogos. Quem ganha jogos são os jogadores, o treinador e o manto sagrado. É o suor, o sacrifício, o público nas bancadas. Pagar a bruxos para ganhar jogos é negar o Benfica e cobre-me de vergonha.

    São 36 e mais se seguirão no futuro Fonte: SL Benfica
    São 36 e mais se seguirão no futuro
    Fonte: SL Benfica

    Se algum sportinguista anafado e com voz de flausina alcoólica acusa o Benfica de pagar vouchers de valores ilegais a árbitros, eu quero saber se é verdade, porquê e quem é o responsável.

    E se um pseudo-cruzado portista, armado em gajo sério mas engraçado, lê e-mails onde responsáveis do Benfica têm condutas impróprias de um benfiquista, a minha reação não é insultar o portista nem mandar-lhe as escutas do presidente dele. O Porto interessa-me zero. Ouviram bem? ZERO.

    O Benfica é que me interessa, e muito.

    A nossa reação deve ser exigir a verdade dos líderes do nosso clube. A verdade, a todo o custo. Ser do Benfica não é só defender o Benfica do Porto e do Sporting. É defender o Benfica de quem manda nele, se for preciso, mesmo quando ganhamos.

    Concluo, para não vos agastar mais: ser um doente a ver a bola é, para mim, completamente aceitável. Adoro ser um doente pelo Benfica. Mas ser um doente pelo Benfica não é ser um doente mental contra os outros clubes ou contra os seus adeptos, sobretudo quando criticam o nosso. Ser do Benfica é gostar mais de discutir o Benfica do que o Porto ou o Sporting, é estar mais preocupado com o comportamento e integridade de quem manda no Benfica do que com o comportamento e integridade de quem manda no Porto ou no Sporting.

    Há bandidos em todos os clubes, mas eu só estou preocupado com os que poderão existir no meu.

    Foto de Capa: SL Benfica

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    João Marecos
    João Marecoshttp://www.bolanarede.pt
    Houve uma altura em que o João não foi do Benfica, que foi antes de nascer. Ainda hoje se arrepende desses dias. Para o João, a metafísica foi inventada pelo Luís Piçarra e só começa com os primeiros acordes do hino. É advogado e lisboeta.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.