Fim de Linha para Jesus: Reinvenção ou acomodação?

    Confirmadas seriam as desconfianças dos adeptos e de Luís Filipe (o Vieira), que soube atempadamente renovar o projecto benfiquista com a inclusão de Rui Vitória. Este último alavancaria as prestações internas (88 pontos em 2015-16, recorde nacional de pontos) e a as rotinas de Liga dos Campeões – conseguindo duas passagens seguidas ao Oitavos, algo que Jorge Jesus não conseguiu em oito anos de Benfica (só passou uma vez).

    O histo-categó-trágico erro que representou o regresso de Jesus no verão de 2020 pesará tanto no currículo benfiquista como o da rejeição a José Mourinho. Não que Lage tenha conseguido ainda o mesmo impacto mediático ou desportivo, mas por toda a acumulação de circunstâncias histo-categó-trágicas que se originaram em catadupa e provocaram uma fractura quase geracional na massa adepta.

    Como aceitar de bom grado a sabotagem dum projecto de futuro que dera um título milagroso a favor do regresso de alguém que tiveram relação acalorada com o rival e que, sobretudo, se previa anacrónico tacticamente em contexto europeu?

    Os títulos no Rio [de Janeiro] que estimulavam o imaginário dos mais saudosistas serviam como base duma apoteótica fachada de recepção na Luz, ensombrada pela opinião dos mais cínicos que discerniam as futilidades inerentes. Nunca voltou consensual e o prazo de validade do seu 4-4-2 – ainda aquele engrenado em 2012-13 – expirou pouco depois.

    Os adeptos do CR Flamengo ainda pedem o regresso do “Mister” ao Rio de Janeiro

    A influência dum dos seus bombeiros táticos na primeira passagem de Benfica acentuou-se: Jesus cedeu à supremacia do 3-4-3 de Amorim e o Benfica conseguiu melhorar. Teve talvez o seu auge no 3-0 ao FC Barcelona – uma das únicas assinaláveis vitórias de Jorge Jesus contra equipas de igual ou superior valia (em confrontos contra FC Porto e na Liga dos Campeões ao comando dos encarnados, Jesus soma 20 vitórias em… 62 jogos), mas rapidamente se esgotou.

    Jorge Jesus voltou descontextualizado e continua assombrado pelo passado que o persegue e pelo futuro que não se desenvolve nas suas próprias previsões de elite europeia. Estagnado, custa-se a reinventar a sua identidade e a adaptar-se aos novos tempos.

    Num possível regresso ao Flamengo, vê a sua aura mística comprometida em parte pelo sucesso de Abel Ferreira. Assinar pelo Mengão será a desistência total de qualquer carreira numa grande liga europeia. A grande encruzilhada de Jorge Jesus implica o sucesso dos encarnados e quanto mais cedo decidir o seu futuro, mais celeremente poderá o Benfica reencontrar-se com o seu projecto interrompido. E, consequentemente, reconciliar-se com os seus adeptos.

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    Pedro Cantoneiro
    Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
    Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, o Benfica como pano de fundo e a opinião de que o futebol é a arte suprema.