Finalmente, terminou o pesadelo. E agora, Professor?

Finalmente chegou ao fim uma das temporadas mais pobres da História do Sport Lisboa e Benfica. Como sócio – mas, acima de tudo, como fervoroso adepto que sou –, sinto-me totalmente envergonhado com a perfomance que tivemos ao longo destes meses de competição.

Já muito se debateu sobre os culpados desta temporada. Já se chegou à conclusão que a tão famigerada Estrutura não quis ganhar este campeonato e dar-nos o desejado Penta. Aliás, a Estrutura está tão à frente dos rivais (dez anos, para ser mais preciso), que decidiu atacar uma época – que poderia ser histórica – sem reforçar os sectores que tiveram perdas de qualidade abruptas. Refiro-me, claro está, às posições de guarda-redes, lateral-direito e central. Segundo se sabe, a Estrutura decidiu não avançar para a contratação de Ezequiel Garay em Agosto passado, por exemplo, apesar deste ter aceitado reduzir drasticamente o seu salário! Ora, a qualidade paga-se e os profissionais do SL Benfica assim o deveriam saber.

Ainda que esta perda de qualidade, face à epoca 2016/2017, pudesse ter dificultado, de alguma forma, o trabalho a Rui Vitória, o que é facto é que este tampouco se mostrou muito incomodado com o desenrolar dos acontecimentos. Desde bem cedo se percebeu que as perdas não iriam ser colmatadas e, da parte do treinador, não houve em algum momento uma reacção. Bem pelo contrário. A conversa de Rui Vitória foi sempre de que estava ali para arranjar soluções e não para chorar as perdas. E é aqui que lhe incuto responsabilidades, pois não foi capaz de mostrar exigência e dar um verdadeiro murro na mesa. Caso não se recordem, Jorge Jesus, na pré-época de 2013/2014 – e em plena conferência de imprensa – “ameaçou” que, caso saisse mais algum jogador, ele próprio sairia também. Todos nós conhecemos Jorge Jesus e todos nós sabemos como ele é, mas o que é facto é que ninguém mandava mais na equipa do que ele.

Na minha opinião, mesmo com a perda de qualidade em alguns sectores, o SL Benfica tinha um plantel mais do que suficiente para ganhar o campeonato, disputar as taças domésticas até ao fim e fazer melhor figura na Europa. Pelo contrário, a temporada que passou foi um autêntico desastre, onde assistimos a erros gravíssimos por parte de Rui Vitória, não só no capítulo táctico e técnico, mas também no que toca ao discurso.

A desvalorização da eliminação de algumas competições – nomeadamente da Champions League – foi uma total falta de respeito para com a História do Sport Lisboa e Benfica. Tendo em conta que os seis jogos nesta competição terminaram com um saldo de seis derrotas, um golo marcado e 14 sofridos, o mínimo que haveria a fazer por parte da equipa técnica era um pedido de desculpas aos sócios e adeptos. No fundo, um pedido de desculpas à Instituição. Pelo contrário, Rui Vitória decidiu sacudir a água do capote e dizer que havia “vida para além da Champions”. Inconcebível.

Por outro lado, a montanha que foi preciso Rui Vitória escalar para perceber os jogadores que tinha no plantel só veio atrasar ainda mais a nossa corrida. Foi preciso chegar a Novembro para que o treinador percebesse o jogador que Filip Krovinovic era. Até aí, jogadores como Filipe Augusto – que, a meu ver, não têm qualidade para jogar no SL Benfica – eram os preferidos para ocupar posições no meio-campo. Adicionalmente, o facto de o croata ter ficado de fora da lista da Champions é outro erro que não se consegue desculpar tão facilmente. Mas há mais, para além da questão Krovinovic. Ruben Dias só foi aposta após a lesão de Luisão (o que vem contrariar a teoria da aposta de Rui Vitória nos jovens), a gestão de Svilar foi totalmente irresponsável, Rafa e Zivkovic foram alternando a sua presença entre o 11 titular, o banco de suplentes e a bancada e Diogo Gonçalves, que foi visto como uma solução, entrando no 11 de repente e sem que alguém o prevesse, simplesmente eclipsou-se.

Ao nível do futebol apresentado, época após época tem sido sempre a descer. Mesmo após a mudança de sistema táctico, do 4x4x2 para o 4x3x3, a equipa sempre dependeu das suas individualidades. Foi carregada às costas pelo super-jogador que é Jonas e, se andámos perto da conquista do título, a ele muito temos que agradecer.  Assim que nos vimos sem o “Pistolas”, rapidamente voltámos ao registo da primeira metade da temporada, com jogos sofridos, sem qualquer processo colectivo e substituições completamente aleatórias. No fundo, nada disto me admira, tendo em conta que temos à frente da equipa um treinador que diz que “a hora e meia de treino é, talvez, o menos importante” e que acredita que a melhor forma de dar a volta a um ciclo negativo é vestindo o mesmo fato que vestiu na última vitória conquistada ou dando duas voltas a uma rotunda com o autocarro da equipa.

As conferências de imprensa – que eram o que distinguia Rui Vitória – têm-se tornado enfadonhas e cheias de lugares comuns
Fonte: SL Benfica

Finalmente, a questão do discurso. As conferências de imprensa de Rui Vitória eram o que de melhor o treinador ribatejano conseguia oferecer. Actualmente, até isso se tornou insuportável. O discurso tornou-se repetitivo, enfadonho e cheio de lugares comuns. Pouco se fala de Futebol, pouco se fala sobre estratégia ou sobre o comportamento em campo esperado pelo adversário.

Eu não gosto de cuspir no prato onde já comi e sou mesmo muito grato a Rui Vitória pelo que conquistou no SL Benfica, ao longo destas três temporadas que por cá passou. No entanto, não consigo aceitar as péssimas decisões que foram sendo tomadas ao longo destes meses, não consigo aceitar a desvalorização da perda de competições que deveriam servir para engrandecer o Clube e , por fim, não consigo aceitar que, após uma vergonhosa temporada, o treinador venha puxar dos galões, como se não tivesse culpas no cartório. Rui Vitória diz que assume as suas responsabilidades, mas ainda não houve qualquer lamento pelos sócios e adeptos que tiveram de assistir a uma das piores épocas de que há memória.

Tenho saudades de ver o SL Benfica jogar à bola. Custa-me ter de assistir a jogos de outras equipas para poder ver um pouco de bom futebol. Não podemos ser resultadistas ao ponto de aceitar ficar com um treinador que não apresenta um processo de jogo consistente e que entrega o destino da partida à qualidade individual dos seus jogadores. Se houver um dia mau e a qualidade individual simplesmente falhar, não será o papel do treinador o de arranjar soluções? Ou vamos continuar a substituir um lateral por um avançado?

Finalmente, o pesadelo desta temporada terminou. Agora, Professor? De minha parte, obrigado e até sempre.

Foto de Capa: SL Benfica

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