Jupp Heynckes | O primeiro treinador alemão do SL Benfica

Se não era visível ainda o completo descalabro, espera-se cinco jornadas: à 15ª, derrota em Guimarães contra o Vitória de Quinito, que resulta em quatro pontos de distância para o FC Porto, que agora já era primeiro. O Sporting, que estivera a cinco, estava três acima. O Benfica era último do pódio em Janeiro.

Com a abertura do mercado, o Benfica reteve da eliminatória com o PAOK dois craques. Sabry, que marcara de livre na Luz, e Machairidis, médio de equilíbrios. Vieram os dois e veio João Tomás, uma promessa farta de acumular golos na Segundona.

Vinham juntar-se a um plantel no qual destoavam Nuno Gomes, João Vieira Pinto ou Poborsky, por terem tanta qualidade relativamente aos restantes colegas. O contraste era notório. E sim, as movimentações simularam, por instantes, um efeito positivo – entre a 18ª e a 22ª jornada, série de cinco vitórias consecutivas, que aguentavam o Benfica no comboio do título.

A 27 de Fevereiro, porém, o destino futebolístico orquestrou uma brincadeira dos infernos: e que tal meter Jorge Jesus – treinador do Estrela da Amadora – a atropelar o Benfica e a acabar com as esperanças patetas dum título impossível? 3-0 na Reboleira, com Gaúcho e Verona a dinamitarem a defesa encarnada. Acabava tudo ali.

Até final, mais três derrotas e um empate nas 11 jornadas restantes. O único momento válido de restituir parte da muita dignidade perdida foi o livre de Sabry a gelar Alvalade, numa noite em que o Sporting poderia ser campeão. O Benfica rejeitou o papel de bobo da corte e empurrou os festejos para a última jornada.

O final da época trouxe o erro histórico da dispensa de João Pinto e o definitivo choque entre massa adepta e o treinador alemão, remetido a moço de recados na disputa entre jogador e presidente. Ao treinador alemão faltou tino, faltou a identificação com a realidade benfiquista e assim tomou o lado errado. João Pinto dava a sua versão em 1999, no dia que anunciou ser jogador livre e que iria desempregado ao Euro 2000, uma situação inimaginável aos dias de hoje.

«Foram eles (Vale e Azevedo e Jupp Heynckes) que me dispensaram. O treinador julgo que disse á admnistração da SAD que prescindia dos meus serviços. Por isso..»

Quando questionado sobre se tinha falado com qualquer um deles, atirava um «Não. Porque o treinador não me disse pessoalmente isso, visto que teve oportunidade de o fazer. Disse previamente a todos os outros meus colegas que foram dispensados e no último dia que trabalhei no Benfica despedi-me dele, normalmente, e ele não teve a coragem de me dizer na cara que me dispensava».

Para um alemão, geralmente estereotipados como cautelosos e ultra racionais, foi um erro de palmatória ir contra o símbolo do balneário e ídolo dos adeptos. Foi um Verão dificil para Heynckes, que se manteve no cargo e tentou acautelar a saída do capitão e de Nuno Gomes com as chegadas de Van Hooijdonk, Marchena ou Fernando Meira.

O plantel era (pouco) melhor que o anterior, mas o inicio catastrófico impediu qualquer oportunidade de redenção na segunda época: primeiro, uma derrota frente a um semi-profissional Halmstads, na Suécia (1-2).

Depois, uma esforçada vitória em casa frente ao… Estrela da Amadora. Heynckes reagiu a quente no rescaldo à partida («Já não aguento mais isto neste clube. Se quiserem que vá embora, vou-me já amanhã») e no dia seguinte já não era treinador encarnado. Seria substituído por um tal de José Mourinho.

Foi um desencontro penoso. Lamentavelmente, um técnico da sua estirpe merecia um Benfica mais estável e mais capacitado de lhe conseguir fornecer o material para o sucesso – como teve no Bayern uma década depois, onde perdeu tudo primeiro para ganhar no ano seguinte, numa das histórias mais bonitas dos tempos recentes e que, ironicamente, o Benfica repetiu logo a seguir.

Foi um treinador geracional, que quebrou recordes recorrendo a um 4-4-2 de vertigem que tentou implementar na Luz – mas a matéria prima disponível estava longe de conseguir replicar as suas ideias. Era como treinador o que foi como ponta-de-lança: incisivo, voluntarioso, criterioso mas com um feitio difícil. Que, olhando de relance pelas muitas peripécias da carreira, foi o que o impediu de ser ainda maior.

Sabe Mais!

Sabe mais sobre o nosso projeto e segue-nos no Whatsapp!

O Bola na Rede é um órgão de comunicação social de Desporto, vencedor do prémio CNID de 2023 para melhor jornal online do ano. Nasceu há mais de uma década, na Escola Superior de Comunicação Social. Desde então, procura ser uma referência na área do jornalismo desportivo e de dar a melhor informação e opinião sobre desporto nacional e internacional. Queremos também fazer cobertura de jogos e eventos desportivos em Portugal continental, Açores e Madeira.

Podes saber tudo sobre a atualidade desportiva com os nossos artigos de Atualidade e não te esqueças de subscrever as notificações! Além destes conteúdos, avançámos também com introdução da área multimídia BOLA NA REDE TV, no Youtube, e de podcasts. Além destes diretos, temos também muita informação através das nossas redes sociais e outros tipos de conteúdo:

  • Entrevistas BnR - Entrevistas às mais variadas personalidades do Desporto.
  • Futebol - Artigos de opinião sobre Futebol.
  • Modalidades - Artigos de opinião sobre Modalidades.
  • Tribuna VIP - Artigos de opinião especializados escritos por treinadores de futebol e comentadores de desporto.

Se quiseres saber mais sobre o projeto, dar uma sugestão ou até enviar a tua candidatura, envia-nos um e-mail para [email protected]. Desta forma, a bola está do teu lado e nós contamos contigo!

Pedro Cantoneiro
Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

Subscreve!

Artigos Populares

Gabri Veiga, 12 jovens da B e 7 ausências: o resumo do treino do FC Porto desta sexta-feira

O FC Porto voltou a treinar esta sexta-feira, com vista à preparação para o Mundial de Clubes 2025. Gabri Veiga foi a grande novidade.

Gabri Veiga fez o 1º treino pelo FC Porto: «Este grande grupo recebeu-me muito bem»

Gabri Veiga completou o primeiro treino pelo FC Porto, depois de assinar pelos dragões. Médio mostrou-se muito feliz.

Nemanja Matic suspenso por 2 jogos após tapar bandeira LGBTQIA+ do equipamento

Nemanja Matic foi suspenso por duas partidas. Em causa, jogo em que o médio tapou a bandeira LGBTQIA+, símbolo da luta contra a homofobia.

FC Porto viu ser recusada proposta de 10 milhões de euros por central ucraniano em 2024

O FC Porto tentou contratar Taras Mykhavko no verão de 2024. O Dínamo Kiev recusou os 10 milhões de euros.

PUB

Mais Artigos Populares

PSG exige 20 milhões de euros para vender jogador que não entra nas contas de Luis Enrique

Marco Asensio está de saída do PSG em definitivo. Os parisienses querem receber 20 milhões de euros com a transferência.

Giorgos Kyriakopoulos é reforço do Panathinaikos de Rui Vitória

Rui Vitória recebeu um reforço de peso no Panathinaikos. Giorgos Kyriakopoulos chega ao clube proveniente do Monza.

Inter Milão sondou José Mourinho e decidiu não avançar para o regresso do português devido aos milhões de euros

O Inter Milão já encontrou o sucessor de Simone Inzaghi, mas teve vários treinadores referenciados. José Mourinho esteve na lista nerazzurri.