Os seus ensinamentos permitiram estreitar as linhas do passado e do futuro. A eles se deve, em grande medida, o orgulho e a alegria espelhados nos rostos dos nossos jogadores, notórios da saída à entrada para os balneários, sempre que envergam a camisola e o símbolo do Benfica – e que torna este clube tão único e especial, como a relação entre o adepto e o jogador, que motiva este último a ficar ou a regressar, e a tornar-se, com paixão involuntária, outro benfiquista para a vida. A ele se deve, em grande medida, o sentido de dever de todo o plantel, esteja quem estiver, jogue quem jogar; a noção de responsabilidade perante o peso da história e os milhões que, espalhados pelo mundo, aguardam ansiosos por novos capítulos.
Luisão conquistou, por mérito próprio, um lugar exclusivo na história do Benfica – e na história do futebol português –, a par de outros grandes “capitães”. Um percurso marcante e inesquecível, ainda mais raro no futebol moderno, onde a convivência entre profissionalismo e amor é, no mínimo, algo de singular. O Benfica tem muito a agradecer a Luisão, o que, por si só, é suficientemente revelador. Apenas por ele ser quem é, por ser quem foi nos 477 jogos pelo Benfica, pelos 44 golos que marcou pelo Benfica, pelos 17 títulos que conquistou pelo Benfica.
Desconheço se Luisão partirá, agora, como se tem vindo a anunciar nos últimos dias. Teve, anteriormente, muitas oportunidades para o fazer, ao longo da sua carreira, propostas consideradas por outros como irrecusáveis. No entanto, em todas essas ocasiões, optou por seguir de águia ao peito, envergando a nossa braçadeira. A confirmar-se, desta vez, a transferência, resta-nos festejar, já no próximo domingo, na nossa casa, a sua carreira notável, que transcendeu, em muito, os simples pontapés na bola – uma despedida à sua altura, com estádio cheio! Será estranho ver o Benfica sem Luisão; mas confesso: já sentia saudades de sentir saudades. Luisão permitiu-o novamente. Não temo o futuro. Sei que o seu legado estará assegurado pelos que ficam – muito graças aos seus ensinamentos. E sei, também, que a sua ausência será apenas temporária, que, em muito em breve, estará de volta para ocupar o seu lugar e continuar a tornar o Benfica cada vez maior.
P.S.: aqueles 26 minutos em Tondela foram já suficientes para Luisão. Assim sendo, reencontramo-nos em Maio, no sítio do costume.