O que se passou no Estádio da Luz foi uma das maiores humilhações europeias da história do Benfica. Perder em casa contra o Qarabag, uma equipa avaliada em 24 milhões de euros, menos do que custou Richard Rios sozinho, não foi apenas um tropeço, foi um desastre que expôs a falta de ideias de Bruno Lage e a incapacidade da direção em perceber o rumo que o clube levava. O despedimento do treinador era, afinal, inevitável.
Bruno Lage preparava os jogos em função do adversário e não em função de uma identidade, uma identidade à Benfica. A explicação que deu antes do jogo sobre a titularidade de Sudakov foi paradigmática: «Ele joga porque o Qarabag tem três médios». Isto é tudo o que não se espera de um treinador do Benfica. A equipa encarnada tinha de impor o seu jogo, obrigar os adversários a adaptarem-se, não o contrário.

Mesmo depois de chegar ao 2-0, o Benfica nunca foi senhor do jogo. Baixou linhas, entregou a bola e deixou-se dominar. O Qarabag desmontava a pressão encarnada com dois ou três toques e parecia sempre mais confortável em campo. Defensivamente, a equipa foi um desastre, golos de bola parada com passividade gritante, transições fáceis concedidas e uma assustadora falta de agressividade.
As substituições de Bruno Lage também foram incompreensíveis. Richard Rios já não aguentava mais correr ao intervalo e só saiu perto do fim. Sudakov, que era o melhor entrelinhas, foi encostado à esquerda. Schjelderup saiu cedo demais.
Mais grave ainda foi a forma como Bruno Lage não soube controlar o grupo e separar-se do ruído exterior, preocupado mais com a comunicação para fora do que com o que transmitia para dentro. O bloco de notas nas conferências, declarações lidas quase à letra, demonstra alguém mais preocupado em segurar o barulho mediático do que em orientar os jogadores. A forma como perdia rapidamente o controlo no banco, reagindo aos adeptos, é outro sintoma de um treinador que não consegue liderar.

Lage alegava que o grupo estava bloqueado pelo ruído exterior, mas, na realidade, foi ele próprio que trouxe esse barulho para dentro do balneário. A insistência em mudar constantemente o sistema de jogo, ora com dois avançados, ora com um, nunca permitiu à equipa solidificar-se ou ter clareza do que pretendia apresentar em campo. A mensagem de Bruno Lage não passava.
Agora, com o despedimento oficial, tudo indica que Rui Costa percebeu que a liderança de Bruno Lage estava esgotada, as ideias não existiam e a identidade do Benfica estava perdida. A decisão era urgente e inevitável.