Despertou para a política em Coimbra: para a luta estudantil; para a luta contra a colonização; contra o regime; contra a ditadura – predicados históricos de academistas e benfiquistas. Às margens do Mondego, partilhou a “República” com Almeida Santos; ao Tejo, casa com Agostinho Neto. Um revolucionário de tom agradável, sem nunca levantar a voz grossa e pausada, feita de palavras humildes, simples e divertidas (como são sempre as mais inteligentes). Uma estranha e hipnotizante capacidade de comunicar com os homens; de uma força impressiva que só a mais pura honestidade pode conter.
Em 1975, com 46 anos, chegaria, finalmente, ao Benfica, o seu outro grande amor, o de nascença, o que não havia sido ensinado. No Glorioso, seria campeão em 1975/1976 – tornando-se no primeiro treinador português campeão pelo Benfica – e venceria a Taça de Portugal em 1979/1980 e 1995/1996. Foi, ao longo de várias épocas, “bombeiro” do clube, substituindo, interinamente, o treinador principal nos momentos mais difíceis; a última vez aconteceu em 1996/1997, na fase de transição entre Paulo Autuori e Manuel José.
Além de Académica e Benfica, treinaria ainda Belenenses, Vitória de Guimarães, Boavista, Estoril-Praia, Cova da Piedade, Louletano, Torreense, Olhanense, Águeda e FAR Rabat, de Marrocos. A sua última experiência, com quase 70 anos, aconteceria no Alverca, presidido por Luís Filipe Vieira, na época de 1998/1999.
Um percurso notável: no futebol e na vida. Mário Wilson partiu fisicamente, mas a sua herança, a sua inestimável sabedoria, jamais nos deixará. Hoje, através das suas eternas palavras, compreendemos melhor; somos melhores. Resta-nos, por isso, e por tudo o resto, mostrar a nossa gratidão. Não haverá, por certo, homens perfeitos por todos os tempos – mas se alguém chegará a estar perto de o ser, esse alguém é Mário Wilson.
Foto de capa: SL Benfica