Quem pensa que José Mourinho foi para o Benfica numa espécie de D. Sebastião a aparecer numa manhã de nevoeiro, tire o cavalinho da chuva e comece a refletir de maneira diferente.
Com isto, não estou a duvidar das qualidades do special one, que muito admiro e ainda o considero como o melhor treinador português de sempre. Bem podem dizer que já não é o mesmo, ou que lhe falta ambição por ter ganho (quase) tudo, mas a verdade é que se não tiver jogadores com qualidade à sua disposição, de nada lhe vai valer as suas competências. Se compararmos o futebol praticado por Bruno Lage, com o futebol que José Mourinho tem vindo a apresentar nas últimas semanas, percebemos que não houve uma melhoria significativa.
Apesar do Benfica estar a somar vitórias em alguns jogos, o futebol apresentado pelos encarnados tem sido pobre, o que já provocou alguns dissabores, sobretudo na Liga dos Campeões, competição onde ainda não pontuou. O que falta então ao Benfica para conseguir aliar boas exibições com resultados expressivos? Será este plantel mais fraco que o anterior?


É bom não esquecer que os reforços desta época, que custaram cerca de 136 milhões de euros, não foram escolhidos por José Mourinho. E logo aí a responsabilidade das contratações pode ser de muita gente, menos dele. E fazendo um Raio-X ao plantel, podemos claramente ver que há sectores que podiam estar melhor apetrechados, e não estão.
O corredor esquerdo que na época passada funcionou às mil maravilhas com Álvaro Carreras e Kerem Akturkoglu, agora é uma preocupação. Samuel Dahl não faz esquecer nem de perto nem de longe o atual lateral esquerdo do Real Madrid, e Rafael Obrador ainda não sujou a camisola.
No ataque há quem já tenha saudades do Harry Potter turco, ele que iniciou a temporada de águia ao peito, mas regressou ao seu país depois de ter “dado” de bandeja 18,62 milhões de euros aos encarnados. Andreas Schjelderup tarda em convencer, e muitas das vezes é Sudakov, um médio criativo, a jogar como extremo esquerdo. Falta também um homem no meio-campo, capaz de transportar a bola para a frente e criar desequilíbrios no último terço do terreno. Há quem ache que Richard Ríos pode desempenhar essa função, mas até ao momento tem mostrado pouco em relação ao forte investimento que os encarnados fizeram no médio colombiano.


Na linha mais avançada, Vangelis Pavlidis continua a não ter um concorrente à altura para lhe tirar o lugar. Franjo Ivanovic é um ponta-de-lança mais móvel, e falta um jogador com as mesmas características do atual melhor marcador das águias. Um avançado mais fixo na área, possante e que seja um matador. Henrique Araújo é o único que mais se aproxima de Pavlidis, mas não tem o andamento do grego. Quanto ao desempenho da equipa dentro de campo, pede-se mais objetividade na hora de atirar à baliza.
O Benfica até é uma equipa que chega com alguma facilidade à área contrária, mas depois perde-se em rodriguinhos e os ataques tornam-se inconsequentes.
A concentração defensiva é outro dos aspetos a melhorar. Esta época o Benfica já perdeu quatro pontos em casa para o campeonato, com golos sofridos nos descontos. A má abordagem dos defesas em alguns lances já levou muitos adeptos a terem um ataque de nervos. De um modo geral, faltam limar algumas arestas nesta equipa para que possa ser considerada um caso sério.
José Mourinho está há um mês na Luz, mas não podemos afirmar ainda com clareza que já se vê algo de special neste Benfica. O tempo vai passando, e é urgente mostrar alguma evolução no futebol apresentado com o seu novo timoneiro. O mercado de inverno vai com certeza trazer novidades, quem sabe colmatar as lacunas que já referi, e resta saber também qual vai ser o resultado da segunda volta das eleições.
O futuro do Benfica e de Mourinho começa já em novembro.

