1. Maldição de Béla Guttmann
Que é uma construção de final dos anos 80 e que ficou sobretudo cimentada pela presença de Eusébio junto do túmulo do “Feiticeiro” antes da final do Prater, em 90 – numa tentativa de redenção. O King era muito supersticioso.
A frase que suporta a convicção desses, dos mais afetos à superstição – “Nem daqui a 100 anos uma equipa portuguesa será bicampeã europeia e o SL Benfica jamais ganhará uma Taça dos Campeões sem mim” – foi desabafo que teimou, durante muito tempo, em descobrir-se-lhe a origem: mas em 2018, o jornal A Bola publicaria artigo que apontava para 1968, já o SL Benfica levava duas finais perdidas.
Alberto Miguéns, o maior especialista da História encarnada, denuncia incongruências na tradução dessa entrevista dada ao Sport-Illustrierte, revista em língua alemã, que invalidam a “maldição” e prossegue a desmistificação referindo peças do mesmo jornal: em 1963, logo após sair da Luz, Béla daria entrevista onde prenunciava que o SL Benfica voltaria «a ser campeão europeu».
Na realidade, a ligação emocional entre treinador e clube era tão forte que propiciou o regresso em 1965-66, embora sem grande sucesso; e em 1974, no final da carreira, nova entrevista – na qual chama a atenção para um emblema do SL Benfica que usaria incondicionalmente na lapela do casaco, feito de «pedras preciosas»!… – onde repete as boas intenções, afirmando que o Benfica poderia «ainda voltar a ser grande na Europa».
O mito da maldição cresceu envolto em histeria, utilizado maioritariamente pelos adversários e imprensa em espécie letal de “mind games”, sendo até utilizado nas finais da Liga Europa – quando o suposto desabafo inicial, destacado literalmente e sem olhar a contexto, apenas se referia à Taça dos Campeões Europeus, atual Liga dos Campeões.
Artigo revisto por Joana Mendes