Um dérbi é um dérbi. Independentemente das circunstâncias das duas equipas, do futebol que estão a praticar e dos lugares que ocupam, é sempre um Benfica x Sporting. O duelo entre benfiquistas e sportinguistas tem muita popularidade e tradição no nosso país.
Já nem se falando do ponto de vista sentimental para adeptos de águias e leões, costuma-se dizer que um duelo entre o Benfica e o Sporting ultrapassa Lisboa e ultrapassa o país. Basta lembrar que devido ao facto de durante muito tempo terem sido os dois clubes com mais adeptos (além de ainda hoje, serem as duas coletividades com mais massa associativa), o jogo entre encarnados e verde-e-brancos divide o país ao meio. Um momento que faz parar a capital, o país e algumas partes do mundo com emigrantes lusos, seja nas suas casas, nos cafés e outros locais de convívio.


Fazendo uma breve viagem pelo tempo, desde os primórdios do principal escalão do futebol português (anos 1930) e princípios dos anos 1980, o dérbi da segunda circular era o jogo cabeça de cartaz do campeonato nacional. Durante este período, com a exceção de alguns anos, em que um dos emblemas se encontrava com resultados abaixo da expetativa, quase que se podia dizer que quem vencesse o duelo entre Benfica e Sporting, na Luz ou em Alvalade, estava bem mais perto de alcançar o título de campeão nacional. Tal era a superioridade das duas equipas em relação a todas as outras.
A partir dos anos 80 até aos dias de hoje, apesar de em muitos anos, ambos os emblemas terem perdido muito terreno e protagonismo para o rival do Norte (vestido de azul e branco), a intensidade do “velhinho” dérbi não perdeu a mesma popularidade e tradição. Um triunfo sobre o rival que está a poucos quilómetros, dá vida e dá alento à sua temporada. Embora durante o mesmo período, o dérbi já não tivesse (na maioria das vezes) o carácter ultradecisivo que já tinha tido, a verdade é que foram sempre surgindo, ao longo da história mais recente, dérbis que ditaram decisivamente o destino das duas equipas no campeonato nacional, tanto para marcar terreno na primeira volta, como a poucos meses (às vezes, semanas) do fim do campeonato.


Para o Campeonato Nacional, realizaram-se 91 dérbis (de todos os dérbis) na casa das águias e dos quais, 26 foram realizados no novo século. No total, o histórico de quase 91 anos favorece esmagadoramente as águias com 49 triunfos, 26 terminaram empatados e apenas 16 foram ganhos pelos verde-e-brancos. Uma tendência que se retrai relativamente nos últimos 25 anos. Em 26 jogos, por 12 vezes, o Benfica manteve os três pontos na sua catedral, nove terminaram com repartição de pontos e apenas por cinco vezes, o Sporting saiu vencedor.
No que diz respeito aos golos, o registo acompanha o anterior. Nos 91 jogos entre águias e leões realizados para o campeonato nacional, as equipas do Benfica apontaram 180 golos, os jogadores do Sporting somente 118. Dos 180 tentos apontados pelos encarnados, 38 reportam apenas aos dérbis no novo século. Quanto aos leões, das 118 bolas que colocaram nas redes encarnadas, apenas 29 foram nos jogos dos últimos 25 anos.
Nos 26 dérbis disputados na Luz que se disputaram nos 25 anos que já compõem este século, 16 foram na primeira volta e os restantes dez foram na segunda ronda da Liga. Vários foram os dérbis decisivos, ora pelo título nacional, pela liderança, pelos primeiros lugares cimeiros ou por um posto na Europa do futebol. Já em termos de futebol jogado, também muitos foram memoráveis. Sendo quase impossível eleger os melhores de forma unânime, ficam cinco absolutamente simbólicos e que tocam nos dois parâmetros. Todos mexeram com o ambiente do campeonato que estava em disputa e muitos foram decisivos para o desfecho da Liga.
5.
Benfica 1-0 Sporting – 2011/12 – Era um sábado à noite, 26 de novembro de 2011 e a Luz cheia ia presenciar a um embate intenso e prometedor. Há cerca de três épocas que um dérbi não era disputado com os dois clubes tão próximos na tabela classificativa.
Após duas épocas para esquecer em que terminara a 28 e 36 pontos do campeão (quarto em 2009/10 e terceiro em 2010/11 respetivamente), o Sporting mudara de direção (José Eduardo Bettencourt deu lugar a Luís Godinho Lopes) e equipa técnica (Domingos Paciência veio para Alvalade vindo de Braga), além de ter contratado novos 17 jogadores no verão de 2011. Foi com este espírito de sangue novo que os leões partiram para 2011/12. O começo foi algo atribulado com uma passagem tremida à fase de grupos da UEFA Europa League (0-0 e 2-1 frente aos dinamarqueses do Nordsjaelland) e apenas dois pontos conquistados nas primeiras três jornadas (empates com Olhanense e Beira-Mar e derrota caseira por 2-3 frente ao Marítimo). A reviravolta chegou em Paços de Ferreira na quarta jornada, quando os leões perdiam por 0-2 e uma reviravolta para 3-2 protagonizada maioritariamente por jogadores que tinham chegado como Ricky van Wolfswinkel, Elias, Fito Rinaudo e Emiliano Insúa, fez mudar o chip do coletivo e daqui se partiu para um ciclo de 12 vitórias em 13 jogos. Uma sequência de vitórias que fez os leões liderarem confortavelmente o seu grupo na competição europeia, seguia na Taça de Portugal e chegava ao terceiro lugar na Liga, apenas a um ponto dos dois rivais no primeiro lugar. Uma vitória na Luz (que já não acontecia há quase seis anos) implicava a ultrapassagem dos leões às águias e um hipotético desaire do FC Porto nessa jornada, significava a liderança isolada do campeonato do clube verde e branco (o que já não acontecia desde 2004/05).
Do outro lado da segunda circular, o Benfica orientado por Jorge Jesus reforçara-se com elementos que acrescentaram dinâmica e qualidade à equipa como Witsel, Garay, Rodrigo, Nolito ou Bruno César. Após uma época dececionante em que fora destronado em toda a linha pelo FC Porto de André Villas Boas, o conjunto encarnado recompôs-se e partia para a época com a ambição de voltar a alcançar o título nacional. O Benfica chegava ao dérbi repartindo o primeiro lugar com o FC Porto de Vítor Pereira e confortável a passar no seu grupo da UEFA Champions League, com o fator positivo de já ter disputado os desafios mais difíceis em teoria e sobrevivendo (2-2 no Dragão, 1-1 em Braga, vitória em Basileia por 2-0 e dois empates com o Manchester United por 1-1 na Luz e 2-2 em Old Trafford). Uma vitória sobre o Sporting permitia ao Benfica afastar os leões na classificação e deixar a corrida mais centrada só entre si e os dragões.
Pelos encarnados entraram em campo: Artur Moraes, Maxi Pereira (C), Jardel, Garay, Emerson, Javi García, Axel Witsel, Bruno César, Nico Gaitán, Pablo Aimar e Óscar Cardozo.
De leão ao peito jogaram a titular: Rui Patrício, João Pereira, Polga (C), Onyewu, Insúa, Daniel Carriço, Stjin Schaars, Elias, Matías Fernández, Diego Capel e Van Wolfswinkel.
Foi um jogo bem disputado e dos que se tem pena, no fim, de não ter tido mais golos, independentemente do resultado final. Ambas as equipas foram, em geral, ofensivas e a quererem ganhar mais do que não perder. O Sporting teve mais domínio e mais oportunidades durante os noventa minutos, mas o Benfica teve as melhores oportunidades (incluindo um remate ao poste e outro na trave). O momento que fez a diferença foi antes do intervalo. Aos 42 minutos e após pontapé de canto de Aimar, Javi García voou mais alto que qualquer jogador na área e acerta em cheio com a cabeça no esférico em direção à baliza, batendo Rui Patrício e fazendo um resultado que não se alterou. Óscar Cardozo ainda foi expulso por acumulação de amarelos aos 63 minutos, uma vantagem de que o Sporting não conseguiu tirar partido.
Após o jogo e a pouco e pouco, o Sporting foi-se tornando mais irregular nos resultados e passou de uma situação em novembro de terceiro classificado a um ponto do primeiro lugar, para quinto a 16 pontos do primeiro lugar (ocupado então pelo Benfica) em meados de fevereiro. Situação que levou ao despedimento de Domingos Paciência e entrada em cena de Ricardo Sá Pinto, que concluiria a época no quarto lugar, semifinalista da UEFA Europa League e derrotado pela Académica (0-1) na final da Taça de Portugal.
Já o Benfica, embora tenha acabado vencedor da Taça da Liga e estado nos últimos oito da UEFA Champions League, acabou por deitar tudo a perder na Liga Portuguesa. Em fevereiro era líder com cinco pontos de avanço, mas uma enorme perda de pontos seguida entre finais de fevereiro e inícios de março (empate em Coimbra e derrotas em Guimarães e na Luz frente ao FC Porto) fez com que passasse para três pontos de atraso em segundo. Acabou por terminar no mesmo segundo lugar, mas a seis pontos de atraso dos dragões, que acabaria por se sagrar bicampeão.
4.
Benfica 0-3 Sporting – 2015/16 – O ambiente estava a ferro e fogo na capital. No verão de 2015, a mudança de Jorge Jesus do Benfica para o Sporting fez intensificar muito a rivalidade entre os dois emblemas. O primeiro duelo tinha sido na Supertaça e que o Sporting vencera de forma clara (1-0). Até ao dérbi da primeira volta da Liga Portuguesa, o ambiente não mudou significativamente.
O Sporting apesar de ter falhado o apuramento para a UEFA Champions League, numa eliminatória polémica frente ao CSKA de Moscovo, era líder do campeonato juntamente com o FC Porto de Lopetegui e praticava um futebol que dava nas vistas e diferente do que que se vira em muitas das anteriores épocas. No fundo, a chegada de Jesus a Alvalade trouxe uma onda de esperança de chegar a um título que já fugia há quase 14 anos. Um coletivo maioritariamente jovem e muito produtivo (brilhavam nomes como Rui Patrício, William Carvalho, Adrien Silva, João Mário, Bryan Ruiz ou Slimani). Os leões chegavam em forma ao embate da Luz e com a vantagem de ter um técnico que bem conhecia o adversário.
Já o Benfica, apesar de bicampeão, ainda lutava para se recompor agora às ordens de Rui Vitória. Apesar do começo algo atribulado com a derrota na Supertaça, dois desaires na Liga (0-1 com o Arouca em Aveiro e 0-1 no Dragão) e ocupar o quinto posto, ia vencendo com vantagem confortável os restantes jogos da Liga até ao confronto com o Sporting na sétima jornada. Este período também fica marcado pelo bom desempenho na UEFA Champions League, com duas vitórias em três jogos, incluindo uma vitória no Vicente Calderón frente ao Atlético de Madrid (2-1) onde brilharam Nico Gaitán e Gonçalo Guedes. Tudo parecia voltar aos eixos e uma vitória sobre os leões no dérbi de dia 25 de outubro de 2015, afastaria de vez os fantasmas.
Pelas águias alinharam: Júlio César, Sílvio, Luisão (C), Jardel, Eliseu, André Almeida, Samaris, Gonçalo Guedes, Nico Gaitán, Jonas e Raúl Jiménez.
De verde e branco jogaram: Rui Patrício, João Pereira, Paulo Oliveira, Naldo, Jefferson, William Carvalho, Adrien Silva (C), João Mário, Bryan Ruiz, Téo Gutiérrez e Slimani.
A primeira parte foi avassaladora por parte dos leões. Não que corressem mais ou tivesse mais posse, mas o pragmatismo, a estratégia e a segurança da equipa de Jorge Jesus desfez completamente os pupilos de Rui Vitória. Aos nove minutos, Adrien Silva desfez um início de jogada do meio-campo defensivo encarnado e fez um passe que isola Téo Gutierrez que é mais feliz que Júlio César e colocou os leões em vantagem. Os jogadores sportinguistas não caíram em si de confiança e aos 21 minutos, Jefferson cruza pela esquerda e apanha Slimani que sozinho cabeceia e faz o 2-0, celebrando a calar os adeptos benfiquistas e mostrando o emblema que trazia ao peito. O Benfica procurava desesperadamente uma resposta, quando num contra-ataque aos 36 minutos, Júlio César defende para a sua direita um remate de fora da área de Slimani, mas à medida de Bryan Ruiz que na recarga faz o 3-0.
O resultado ficou sentenciado sem qualquer dúvida. Durante a segunda parte, embora o Benfica tivesse mais posse de bola e iniciativa, não criou grande perigo nas suas oportunidades. Já o Sporting ainda podia ter chegado ao quarto tento por Jefferson e mais tarde num atraso que Júlio César quase comprometeu ainda mais a sua equipa.
Após o jogo, o Sporting dominou até ao fim da primeira volta tendo terminado num incontestável primeiro lugar e parecia ser o favorito à conquista da Liga 2015/16. No entanto, só facto do Sporting jogar um futebol atrativo e ser regular até ao fim, ao ponto de alcançar a melhor pontuação de sempre da história do clube (86 pontos) não foi o suficiente para colocar fim ao jejum de campeonatos que durava desde 2002. A equipa de Jorge Jesus perdeu pontos em jogos menores (Tondela, Rio Ave e Vitória Sport Clube) e depois não conseguiu derrotar novamente o Benfica no dérbi de Alvalade na segunda volta (derrota caseira por 0-1). Desaires que fez o leão perder a liderança e que nem uma sequência nove vitórias até ao fim a fez recuperar.
Já o Benfica ainda teve algumas dificuldades até ao fim do ano 2015, tendo terminado atrás dos rivais na Liga, eliminado da Taça de Portugal também pelo Sporting (1-2 em Alvalade após prolongamento) e apurado com dificuldades na fase de grupos da UEFA Champions League (empate com o Astana por 2-2 e derrotas com Galatasaray e Atlético de Madrid ambas por 1-2). Mas o ano de 2016 começou e desenrolou-se de forma notável e incrível para os encarnados.
Desde esta derrota pesada com o Sporting em casa, até ao fim só se verificou mais uma perda de pontos: com o FC Porto de José Peseiro na Luz, onde os dragões estiveram seguros e consistentes do meio-campo para a frente e apesar do Benfica ter realizado um autêntico vendaval ofensivo de oportunidades que só Iker Casillas foi capaz de dizer “não”. Além dos dragões, só o Bayern de Munique orientado por Pep Guardiola venceu o Benfica até ao fim da época (eliminando as águias nos quartos de final da UEFA Champions Laeague), de resto o Benfica teve um percurso absolutamente esmagadore de vitórias desde janeiro até maio, incluindo vitórias sobre Sporting (em Alvalade por 1-0), SC Braga (na Luz por 5-1) e Vitória Sport Clube (na Luz por 1-0), todos os que eram os mais difíceis testes para o Benfica passar e alcançar o tricampeonato que fugia desde os anos 70. Numa equipa onde brilhavam nomes como Jonas, Gaitán, Salvio ou Luisão, nesta época apreceram nomes que muito acrescentaram ao coletivo benfiquista como Mitroglou, Raul Jiménez e nomes da formação como Nelson Semedo, Gonçalo Guedes, Ederson, Lindelof e sobretudo Renato Sanches. O Benfica foi tricampeão e venceu também a Taça da Liga.
3.
Benfica 3-0 Sporting – 2000/01 – Até ao dérbi desta sexta-feira, o primeiro e único dérbi de José Mourinho como treinador do Benfica. O então jovem e desconhecido técnico que apenas tinha experiência como adjunto de treinadores como Bobby Robson (Sporting, FC Porto e FC Barcelona) e Louis van Gaal (FC Barcelona), fora o eleito do então Presidente benfiquista, João Vale e Azevedo para suceder ao alemão Jupp Heynkes. O técnico germânico não tinha resistido a um mau começo de época (derrota nas Antas, empate em Leiria e uma derrota humilhante para então Taça UEFA aos pés do Halmstads) e já vinha de um terceiro lugar na época anterior.
José Mourinho não teve vida fácil no primeiro mês de trabalho, ao ponto de até Vale e Azevedo sair para dar lugar a Manuel Vilarinho nas eleições de 27 de outubro de 2000, o “seu” Benfica apenas venceu um jogo (1-0 ao Belenenses na Luz) em cinco. Uma qualidade escassa no plantel e alguns problemas disciplinares e internos (Calado ou Sabry) também não ajudavam, tendo ficado para história nesse período um derrota no Bessa (0-1), empate caseiro frente ao SC Braga (2-2), empate em Paços de Ferreira (0-0) e um empate caseiro (2-2) que valeu a eliminação da competição europeia frente ao Halmstads. No entanto, a mudança na presidência encarnada e o tempo de trabalho continuo de Mourinho deram alento e disciplina ao Benfica e no mês que se seguiu, o cenário mudou por completo.
Nos cinco jogos que antecederam o dérbi contra os leões de Augusto Inácio, os homens de Mourinho venceram quatro (duas vitórias contra o Campomaiorense para a Liga e Taça de Portugal, vitória caseira contra o Farense e uma goleada de 4-0 em Guimarães) e apenas se verificou em desaire na Madeira frente ao Marítimo (0-3). Com o tempo e dedo de Mourinho, os encarnados iam subindo de rendimento e um dérbi prometia. Ocupando sexto lugar a dez pontos do líder (FC Porto de Fernando Santos), uma vitória era o ideal para ainda sonhar com o título.
Do outro lado da segunda circular, embora viesse de um título de campeão nacional que fugia há 18 anos e conquistado com rigor e regularidade, o Sporting estava a ter uma época muito irregular durante este período. Os homens de Augusto Inácio iam vencedo os jogos ao seu alcance contra equipas menores, mas já iam seis derrotas (2-3 com o SC Braga fora, 0-1 caseiro com o FC Porto, 0-3 e 1-3 com o Spartak de Moscovo, 0-4 com o Real Madrid no Santiago Bérnabeu e 2-3 com o Bayer Leverkusen fora) e cinco empates contra rivais (1-1 nas Antas para a Supertaça, 2-2 caseiro com o Real Madrid, 1-1 caseiro com o Alverca, 0-0 caseiro com Bayer Leverkusen e 0-0 caseiro com o futuro campeão, Boavista) ou adversários diretos na UEFA Champions League. Um rendimento algo negativo com um plantel que mantinha espinha dorsal da equipa que tinha sido campeã (Peter Schmeichel, César Prates, Beto, André Cruz, Rui Jorge, Pedro Barbosa, Mpenza e Beto Acosta) e que tinha recebido alguns reforços de luxo (João Vieira Pinto, Ricardo Sá Pinto, Paulo Bento, Dimas, Rodrigo Fabri, Phil Babb ou Pavel Horvath).
Estando em segundo lugar a cinco pontos do rival nortenho líder, a equipa leonina tinha uma mão cheia de pretendentes poucos pontos atrás (SC Braga, Boavista, Belenenses, Benfica e Salgueiros), ou seja, uma derrota na Luz frente a um Benfica com plantel inferior não só podia deitar muito a perder, como seria um golpe na confiança dos campeões.
Os eleitos de Mourinho para o embate foram: Robert Enke, Ivan Dudic, Fernando Meira, Marchena, Diogo Luís, Chano, Maniche, Miguel, Calado, Carlitos e Van Hooijdonk.
Pelos campeões nacionais entraram no relvado da Luz: Nélson, César Prates, Beto, André Cruz, Rui Jorge, Delfim, Paulo Bento, Pedro Barbosa (C), João Vieira Pinto, Sá Pinto e Beto Acosta.
O jogo de dia 3 de dezembro de 2000 prometia muito. Durante a primeira parte, o encontro fora equilibrado com poucas oportunidades, embora com ligeiro ascendente da equipa da casa. Até que aos 41 minutos, o Benfica coloca-se em vantagem após Pierre van Hoodjdonk ter convertido uma grande penalidade a castigar falta de André Cruz sobre o mesmo. Durante o segundo tempo, os dois emblemas muito jogaram as suas cartas e o resultado não podia ter sido mais desigual. O Sporting foi maioritariamente superior até aos 75 minutos e teve algumas oportunidades para igualar o marcador. No entanto, o capitão Pedro Barbosa foi expulso por acumulação de faltas e Jorge Coroado não perdoara mais, deixando os leões reduzido a dez unidades. Oportunidade que o Benfica e Mourinho não desperdiçaram. O jovem ponta de lança João Tomás que já tinha sido lançado 15 minutos antes, aos 77 minutos aproveitou um contra-ataque lançado por Fernando Meira para entrar livre pela defensiva verde e branca para fazer o 2-0. Aos 82 minutos, numa jogada bem trabalhada, recebe um passe de Calado e e entra pelo lado direto do ataque e faz o terceiro.
O resultado estava feito. Os encarnados mantiveram o sexto posto apesar da vitória saborosa com o rival, mas ficava apenas a sete pontos da liderança e a apenas três do segundo classificado (SC Braga). Já o Sporting caíra para quarto lugar e somava a terceira derrota no campeonato.
Um jogo que ficou para história como o último dérbi de sempre de Jorge Coroado e também marcado pela mudança nos bancos após o mesmo. Na sequência do triunfo, Mourinho entrou no gabinete do novo Presidente benfiquista, Manuel Vilarinho e pressionou-o a renovar contrato, caso contrário iria sair. Vilarinho não gostou e Mourinho saiu. Já Inácio não resistiu tanto a um ciclo fraco de resultados, mas também a desentendimentos internos (havendo relatos de desentendimentos com o capitão Pedro Barbosa e com o Presidente da SAD leonina, Luís Duque). Na Luz, Toni seria o eleito de Vilarinho e terminaria por terminar no sexto lugar, a pior classificação encarnada até hoje. Em Alvalade, Inácio seria rendido por Fernando Mendes nos primeiros jogos e depois Manuel Fernandes terminaria com os leões no terceiro posto da Liga. Numa época em que o Boavista conseguiria a proeza de se sagrar campeão nacional.
2.
Benfica 1-3 Sporting – 2005/06 – Disputado ainda no início da segunda volta (28 de janeiro de 2006), este dérbi ia decidir o rumo das duas equipas na mesma. Após uma primeira volta sofrível nos primeiros três meses (três derrotas e quatro empates), o Benfica vivia o seu melhor período na Liga, vinha de sete vitórias consecutivas e disputava a liderança com o FC Porto (líder com três pontos de vantagem). Uma vitória encarnada no dérbi não só mantinha esse rumo, como deixava o Sporting a nove pontos de distância.
Já o Sporting vinha de uma primeira metade da época ainda mais conturbada a todos os níveis. José Peseiro tinha saído em outubro, dando lugar ao jovem Paulo Bento e entre setembro e janeiro, os leões tinham perdido imensos pontos (cinco derrotas e quatro empates) e ocupavam a quinta posição antes da deslocação à Luz. Se ainda quisesse voltar a ter uma chance pelos lugares de acesso à Champions League e uma hipótese (ainda que remota) de ainda lutar pelo título, a vitória era o ideal. Um empate ou uma derrota para o rival da segunda circular, podia significar o adeus aos dois objetivos.
Pelos encarnados alinharam: Moretto, Nélson, Luisão, Anderson, Alcides, Petit, Beto, Geovanni, Simão Sabrosa (C), Nuno Gomes e Manduca.
Os sportinguistas titulares foram: Ricardo, Abel, Tonel, Polga, Caneira, Custódio, Carlos Martins, João Moutinho, Sá Pinto (C), Liedson e Deivid.
O jogo acabou por ser uma das melhores exibições, de que há memória, do Sporting no terreno do eterno rival. A equipa de Paulo Bento criou uma avalanche de oportunidades de golo e um domínio absolutamente avassalador. Nem quando Simão colocou o Benfica em vantagem após ter convertido uma grande penalidade (a castigar mão na bola de Custódio), os jogadores verde-e-brancos baixaram a guarda. Apesar das tentativas constantes e do espírito de sacrifício, a equipa leonina só chegaria ao golo pelos 64 minutos. Em contraste com a exibição da equipa de Ronald Koeman, que além do penálti, criou pouco perigo e não teve qualquer ocasião de golo. Castigando um pontapé de Beto em Liedson na grande área encarnada, o capitão Sá Pinto foi chamado a converter e não perdoou. O tento do “coração de leão” funcionou como “abertura do ketchup” e Liedson foi o grande protagonista. Aos 73 minutos e após um pontapé em profundidade de Ricardo, o guarda-redes leonino descobriu o avançado brasileiro no ataque e num duelo com Luisão, o “levezinho” vence-o e remate certeiro sem hipótese para Moretto. Nove minutos mais tarde, novo contra-ataque do Sporting e após Alcides ter intercetado a bola, Sá Pinto mete novamente em Liedson e o avançado sportinguista, mais rápido a chegar a bola que o guardião benfiquista, vence novo duelo e mete no fundo das redes.
Uma exibição de gala que colocou o coletivo verde-e-branco na rota dos primeiros lugares e um triunfo que foi o primeiro de dez consecutivos. Uma dezena que muito contribuiu para ter lutado pelo título com o FC Porto até quatro jornadas do fim e ainda ter chegado à Champions League. Já para o Benfica, este seria o primeiro de mais sete jogos em que perderia pontos (teve mais três derrotas e três empates) e com o passar do tempo, ia caindo para terceiro e era onde terminaria a época. Embora nenhum dos emblemas lisboetas tenha chegado a campeão, a verdade é que este foi um dérbi que deu alento a uma equipa e o tirou à outra.
1.
Benfica 1-0 Sporting – 2004/05 – Pode ter havido dérbis mais disputados, mas neste século, este foi o dérbi mais decisivo no desfecho de um campeonato e um dos mais polémicos (senão o mais).
Na penúltima jornada da Liga Portuguesa, Sporting e Benfica dividiam a liderança em igualdade pontual, com vantagem para os verde-e-brancos pelo confronto direto (2-1 em Alvalade na primeira volta) e média de golos marcados e sofridos (64-31 e 49-30, respetivamente). Dois meses antes, a equipa de Giovanni Trapattoni era líder com seis pontos de vantagem, mas no passar do tempo, tinha deixado os leões de José Peseiro aproximarem-se, devido a derrotas em Vila do Conde (0-1) e Penafiel (0-1) e um empate caseiro com a União de Leiria (1-1).
14 de maio de 2005, era o dia do tudo ou nada para os dois emblemas da capital. O Benfica além de procurar uma putativa dobradinha (era finalista da Taça de Portugal frente ao Vitória FC), buscava sobretudo pôr fim a onze anos de jejum sem ganhar o campeonato. Já o Sporting, além de buscar a Liga que lhe fugia há quase três anos, procurava juntar o prémio máximo do futebol nacional ao que ia tentar alcançar quatro dias depois (Taça UEFA) … em Alvalade frente ao CSKA de Moscovo. O elenco verde-e-branco estava marcado pela ausência por castigo do máximo goleador da Liga: Liedson.
Pelas águias jogaram a titular: Quim, Miguel, Luisão, Ricardo Rocha, Dos Santos, Petit, Manuel Fernandes, Nuno Assis, Geovanni, Simão Sabrosa (C) e Nuno Gomes.
De leão ao peito entraram em campo: Ricardo, Miguel Garcia, Beto, Polga, Rui Jorge, Custódio, Rochemback, João Moutinho, Pedro Barbosa (C), Douala e Sá Pinto.
Até aos 83 minutos de jogo, o Benfica foi mais ofensivo e arriscou mais. No primeiro tempo, teve duas chances por Manuel Fernandes. (ambas fora da área). Também durante a primeira parte, o Sporting teve mais dificuldades em ter posse e aproximar-se da baliza encarnada, apesar de ainda ter tido duas oportunidades perigosas por João Moutinho e Douala. No segundo tempo, o jogo foi ficando mais partido e com ambas as equipas a arriscarem. Pelo Benfica, Simão desperdiçou duas oportunidades frente a um Ricardo confiante e a um setor defensivo leonino cada vez mais amanteigado. O Sporting embora com mais posse e ataque, não conseguiu oportunidades além das conseguidas fora da área (perigosas) por Rochemback e Hugo Viana, que Quim correspondeu em pleno.
Até que aos 83 minutos, Paulo Paraty castiga Pinilla por falta sobre Ricardo Rocha. Após livre direto marcado por Petit, na pequena área, a bola entra na baliza leonina após um lance dividido entre Luisão e Ricardo. A Luz vibra de alegria juntamente com os jogadores benfiquistas que comemoram efusivamente, enquanto os jogadores do Sporting reclamam golo ilegal. Apesar de ser um lance que ainda hoje divide muitas opiniões, a verdade é que o árbitro portuense validou o golo e colocou o Benfica próximo do título e o Sporting fora da rota do primeiro lugar.
Este jogo decisivo acabou mesmo por decidir o campeão nacional. Uma semana depois, o Benfica seria mesmo campeão na cidade invicta, após um empate no Estádio do Bessa frente ao Boavista (1-1). Assim, ficaram para trás onze anos de escuridão. Deixando para trás o FC Porto, que empatara na última ronda no seu estádio frente à Académica (1-1) e terminava no segundo posto.
Já o Sporting terminou a época em pesadelo, com três derrotas consecutivas. Quatro dias depois da derrota na Luz, perdeu a final da Taça UEFA em casa, frente ao CSKA por 1-3 (estando a vencer 1-0 ao intervalo). Na última ronda, enquanto Benfica e FC Porto lutavam na invicta pela conquista do primeiro lugar, o Sporting tinha a chance de ficar sem segundo lugar (acesso direto à Champions League) se vencesse o Nacional em Alvalade e o FC Porto não ganhasse aos estudantes de Coimbra (o que acabou por acontecer). O Nacional desfeiteou o Sporting em Alvalade por 4-2.

