Óbvio que desde o primeiro dia até hoje ele falha inúmeros passes. Tem pouco critério na altura de decidir e perdemos a posse de bola por causa dele. É normal, tem 18 anos. E por isso não façam dele uma máquina infalível. Nem para o bem, nem para o mal. É bom que os adeptos tenham consciência de que ele comete muitos erros: perde bolas e a sua impetuosidade poderia ter custado o vermelho em Alvalade. Não o elevem a super-herói. Não para já. E protegê-lo também é da nossa responsabilidade, e gostar de ver Sanches a conduzir o nosso jogo é diferente de ser autista em relação às suas deficiências. Espero que Vitória não o seja também. Que não lhe dê rédea solta. E ele tem de perceber que o seu caminho até ao topo é longo. O seu destino é esse, mas não pode queimar etapas. Nem ele, nem Vitória. Senão, perder-se-á um futebolista de eleição. Uma espécie de novo Pogba.
Sanches, pela sua qualidade e pelo modo como transfigurou a equipa, foi gerando nome. Alvo de entrevistas e curiosidade, manteve sempre uma postura tranquila e não mudou o seu ser de jogador. Isso é importante. Há uns meses atrás era quase anónimo e hoje é titularíssimo no Benfica e internacional A, e tudo aos 18. O falatório? Enorme… E veio a Selecção. E veio a clubite. Os muitos que dizem “aquilo” quando se referem à equipa da FPF, ou que não querem saber daquilo para nada, são os mesmos que exigem, a todo transe, Sanches como titular. E já! Outros, nunca! Os dos outros clubes… Se Renato merece o 11 nacional não sei! É uma questão táctica, pura e simples. De que merece ir a França não duvido. É um futebolista de qualidade, mudou o Benfica e por isso tem lugar naquele avião. Agora… O 11? Depende do que Santos quer. Do modo como quer que a equipa jogue. É que a Selecção não tem avançados como os do Benfica. Nem tão pouco joga do mesmo modo. É tão simples quanto isso. Não façamos, benfiquistas, de Sanches um imprescindível. Para já, pelo menos.
Por fim, a parvoíce. Nunca vi em Portugal uma campanha tão sarnenta contra um jogador como a que vejo contra Sanches por parte de comentadeiros e adeptos, sempre afectos ao mesmo clube! Nem o “Mauzinho” Santos foi vítima de uma coisa assim. O espalhar na TV de dúvidas acerca da sua idade, os memes na net acerca do mesmo assunto, a menção do mesmo lance em Alvalade vezes sem conta e o duvidar da sua qualidade roçam o nojo, tendo há muito passado do ridículo.
Um jogador português, um miúdo, alvo deste ódio? Que não se goste, tudo bem. Agora, ver um miúdo, que está a tentar percorrer o seu caminho até ao estrelato, vítima de difamação facebookiana, comentadeira e blogueira? E sempre do mesmo quadrante? É pateta. Sobretudo ver um dirigente a cuspir ódio semanalmente em relação a um miúdo. Um puto. Um rapazola… Grande homem, esse dirigente! Os valentões do teclado são uma coisa. Agora, um dirigente? Ex-futebolista? Sinceramente… Só em Portugal! De certeza que esse dirigente, no âmbito das suas funções, nas incursões nas relações internacionais do futebol, deveria elogiar e ouvir elogios da Europa toda. Mas para isso seria preciso ele efectivamente exercer um cargo no respectivo clube. Não é o caso; a sua tarefa é outra.
Renato Sanches dificilmente fica mais um ano na Luz. É pena. Mas, ao mesmo tempo, ainda bem. Pena, porque perdemos um craque e um bom rapaz. Ainda bem, pois é sinal de que a nossa academia produz (e não, não imitamos outras; a nossa dá largos milhões), e iremos vê-lo, seguramente, num tubarão europeu, num país de primeira linha, onde poderá evoluir ainda mais, cumprindo assim o seu destino. É que Portugal, para bem e para o mal, parece estar a ficar pequeno para Sanches.
Foto de capa: SL Benfica