
O Benfica bateu o Nacional por 3-0 na noite de sábado, num encontro relativo à vigésima quinta jornada. A vitória da turma da Luz foi tranquila, mesmo com Bruno Lage a apresentar uma equipa alternativa. O sistema de 3x4x3 (com Álvaro Carreras na linha defensiva), onde a pressão alta exercida sobre o adversário, resultou na perfeição e os encarnados começaram a construir a sua vitória logo aos 5’, com o golo de Zeki Amdouni, fruto de um erro da linha defensiva do Nacional, que procurou maioritariamente sair a jogar curto, com a participação de Lucas França na construção.
O próprio Tiago Margarido admitiu que os insulares não quiseram perder a sua identidade nesta partida, embora fosse contra um plantel com outros argumentos. Orkun Kokçu e Vangelis Pavlidis aumentaram a vantagem, não desperdiçando grandes penalidades. Não foi uma vitória complicada e o Benfica deu-se ao luxo de fazer uma rotação profunda no seu onze inicial, tendo em vista a partida contra o Barcelona, para a Champions League.

Um dos nomes que acabou por ser lançado por Bruno Lage na partida foi o de Samuel Soares, que se mostrou seguro em todas as intervenções (não foram tantas assim), mas atingiu o seu apogeu no encontro depois de ter parado um penálti, batido por Dudu Teodora, aos 44’. O próprio Tiago Margarido, após o encontro, admitiu que esse momento foi chave para definir o encontro. Não existem dúvidas de que ir para o intervalo a vencer por 2-0 é totalmente distinto do que ir com um 2-1, com o golo sofrido a surgir no marcador poucos minutos antes do árbitro apito. A confiança é totalmente distinta.
Quem acabou por ganhar esta tal confiança foi Samuel Soares, brindado pelos seus colegas com abraços e pelas bancadas, onde os adeptos não mostraram receio em exaltar o seu nome, como já aconteceu com tantos nomes que atingiram a história pelo lado vermelho da Segunda Circular. O jovem português somou mais um jogo sem golos sofridos e foi alvo de elogios de Bruno Lage no final do encontro (tal como Lucas França e Anatoliy Trubin), que se mostrou orgulhoso da prestação do encarnado.
A postura do Benfica com os seus guarda-redes nas últimas semanas é pouco usual no futebol moderno, onde esta posição é claramente a mais estratificada: existe um nome que é titular absoluto, um jogador que pode ser utilizado nas competições menores e um elemento que serve como nome experiente ou que é um jovem promissor. É raro quando a fórmula varia.
Pela Luz, Trubin não deixará de ser (na teoria) o guardião titular, sendo certo que jogará frente ao Barcelona, mas Samuel Soares sabe que está mais próximo do ‘status’ do ucraniano e seguramente vai ter mais oportunidades até ao final da temporada, algo que Franco Israel e Cláudio Ramos (especialmente o segundo) podem não alcançar.
Bruno Lage passa a ter assim dois guarda-redes com o máximo de confiança e que podem provocar uma ‘luta acesa’ pela vaga, com Anatoliy Trubin e Samuel Soares a demonstrarem que contam com valências suficientes para serem titulares, pelo menos a um nível interno.
O luso leva nove partidas em 2024/25 e apenas sofreu dois golos, o que mostra a sua capacidade. Claro que Samuel Soares não joga numa equipa de meio de tabela ou que lute pela manutenção, mas são números respeitáveis, nomeadamente quando à sua frente existe uma linha de defesas que tem sofrido algumas críticas (especialmente António Silva, que cometeu uma grande penalidade contra o Nacional).

A titularidade do guarda-redes de 22 anos é positiva para todos no universo benfiquista. O jogador é aposta numa temporada em que aparentava estar condenado a mais um ano de suplente. A equipa técnica consegue provocar uma disputa por uma posição que deixa de ter um titular claro e com dois elementos que transmitem confiança (ao contrário do que sucedia no Sporting com os nomes de Franco Israel e Vladan Kovacevic). O clube sabe que tem mais um ativo que pode vir a ser importante para o futuro. Quando chegar ao fim a presença de Anatoliy Trubin na Luz, o Benfica sabe que tem um nome capaz de lhe suceder e que não necessita de um período de habituação, sendo escusada uma ida ao mercado de transferências (até porque André Gomes pode assumir o papel de número 2 sem grandes problemas). Até para o próprio ucraniano, esta afirmação de Samuel Soares no plantel principal está longe de ser negativa, já que concorrência nunca fez mal a ninguém, o que levará Trubin a atingir os níveis máximos.
Se há a certeza de que em Montjuic o nome de Samuel Soares estará na ficha de jogo, mas na zona reservada aos suplentes, na partida de Vila do Conde, marcada para o próximo domingo, não há qualquer tipo de segurança ou indicação de quem será o guardião titular.
Uma disputa entre Anatoliy Trubin e Samuel Soares (que também vê compensados tantos anos de casa) provavelmente não estava nos planos dos adeptos do Benfica no começo da temporada, embora já tenham assistido a algumas passagens de testemunho em outros nas a meio da época. A distância entre os dois nomes não é tão grande como se pensava no mercado de verão. O jogador natural de Sintra até foi associado ao Famalicão, mas acabou mesmo por ficar na Luz e promete dar luta pela titularidade na baliza da Luz nos próximos tempos. Uma situação a acompanhar.
Bola na Rede na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: Pergunto se esperava as dificuldades do Nacional no corredor central na primeira parte, tanto na primeira fase de construção, como no momento defensivo? Como tentou resolvê-las?
Tiago Margarido: «Encontrámo-nos com o Benfica fortíssimo, que só depende de si para ser campeão nacional e que está a fazer uma excelente campanha europeia. Contávamos com uma entrada forte do Benfica e eles acabam por chegar cedo ao golo. Tentámos manter o nosso estilo, a nossa matriz emocional, mesmo estando a perder desde o início. Um dos desafios que tínhamos lançado enquanto equipa técnica foi sermos Nacional aqui em casa do Benfica. Penso que conseguimos ser a espaços, conseguimos dividir a posse de bola, criar algumas aproximações com oportunidade de golo. Na minha ótica, o momento antes do intervalo, a grande penalidade que falhamos dita um pouco do que é o desenrolar do jogo. Podíamos ter deixado o jogo em aberto. Em relação às questões de construção, tentámos ser Nacional aqui em casa do Benfica. Obviamente que sabemos os riscos que corremos. O primeiro golo surge de uma ligação que não foi bem feita. Lançamos esse desafio aos jogadores, enquanto equipa técnica, e eles aderiram. Sabemos os custos que podemos pagar».
Não foi concedida uma pergunta ao Bola na Rede na conferência de Bruno Lage, técnico do Benfica.