O que se tem verificado, na verdade, é somente a persistência dos responsáveis do Sporting numa torrente de provocações, que inclui injúrias e insultos, apresentada através de um discurso de baixíssimo nível, ruidoso e desordenado, revelador da superficialidade intelectual dos seus autores. Futebolisticamente falando, trata-se de um jogo de sentido único; uma prova onde, muito provavelmente, o Sporting conseguirá conquistar facilmente o título e a hegemonia, por larga vantagem, dada a evidente falta de competitividade demonstrada pelo adversário.
Percebo a intenção – quem não percebe? Basta verificar atentamente o timing destas comunicações, bem como as consequências das mesmas. Nas últimas semanas, gostaria, por pura curiosidade, de ter sentido o pulso leonino face à derrota de Vila do Conde e ao empate (com sabor a derrota) de Guimarães. Gostaria de saber as opiniões sobre os prejuízos de 32 milhões de euros, verificados em 2015/2016; sobre a duplicação salarial e retroactiva de Bruno de Carvalho e seus órgãos sociais, neste mesmo período; sobre nova condenação que obrigada, desta vez, ao pagamento de um milhão de euros a um empresário de futebol (neste caso, o de Labyad). Mas não. Todas as atenções, todas as palavras e letras, todas as análises e opiniões ficaram reservadas para responder ao presidente do Benfica, aos adeptos do Benfica, às contas do Benfica e a uns tais de consócios benfiquistas, que participam naqueles programas televisivos que existem há duas décadas e meia, desde o inesquecível “Os Donos da Bola”, apresentado por David Borges, e que há muito deixei de ver, sobretudo devido ao cansaço pelo formato – igual desde sempre –, mas também porque, normalmente, tenho coisas mais interessantes para fazer.
Por isso não conheço muitas das palavras dos tais comentadores, afectos a qualquer um dos clubes representados. Reconheço, todavia, o direito à opinião de todos eles, sejam jornalistas, advogados ou até dirigentes desportivos – percebendo-se, de uma vez, que naquele contexto os participantes encontram-se “despojados” dos respectivos títulos profissionais –, dentro dos limites previstos pelo Estado de Direito em que vivemos; caso contrário, que se actue em conformidade, com recurso aos meios legalmente previstos. Agora: não se confunda uma conversa de mesa do café com uma comunicação oficial; não se atribuam responsabilidades a quem não as tem, apenas para desresponsabilizar quem as deveria ter.
Quanto à comunicação, ou também quanto a isso, a diferença para os outros é por demais evidente. Nessa área, para minha satisfação, e até certo alívio, houve recentemente mudanças importantes. Julgo ser este, de um modo geral, o estado de espírito benfiquista quanto ao assunto. Essa diferença faz-se entre a paz e a guerra, a ordem e a anarquia, o racional e o irracional, a vitória e a derrota – entre aquilo que somos e o que os outros esperam (e, pelo tom, desesperam) poder vir um dia a ser.
Artigo revisto por Mafalda Carraxis
Foto de capa: SL Benfica