É aquilo que o adepto comum quer ver, aquilo que qualquer espetador aguarda ansiosamente numa partida de futebol, esteja nas bancadas ou em frente a uma TV. O verdadeiro clímax do jogo, o que mais faz acelerar as pulsações e provocar diversos estados de emoções. Mesmo que a exibição não seja a mais convincente, aquilo tem de suceder. Para alguns funciona como uma espécie de ‘’vitamina’’, é a alegria incessante do momento. Aquilo, significa obviamente, o golo. E o golo é precisamente o que não se tem visto para as formações do Jamor e do Sado.
Tem sido um percurso algo penoso para Belenenses SAD e Vitória FC – as únicas formações que ainda não marcaram nesta Liga. Jorge Silas até já deixou o comando técnico dos “azuis”, o que terá sido uma surpresa para muitos, apesar do fraco início de temporada. O clube deverá anunciar em breve um treinador definitivo e esperar que esta dor de cabeça seja ultrapassada, tal como Sandro Mendes, que por esta altura estará à procura da fórmula que resulte em festejo. Talvez esta paragem do campeonato seja benéfica, no sentido em que existe mais tempo para aprimorar os processos de jogo e trabalhar especificamente o capítulo da finalização.
Se olharmos para a época do Belenenses SAD e tal como no campeonato, a equipa também não conseguiu marcar no primeiro jogo oficial a contar para a Taça da Liga, quando saiu derrotada em casa frente ao CD Santa Clara – estendendo a sua seca por mais 90 minutos. Para tentar colmatar esta lacuna, os “azuis” reforçaram-se no ataque com o avançado Mateo Cassierra – colombiano proveniente do Ajax. O novo reforço pode ser a peça que faltava e as esperanças vão começar a ser depositadas em si.
O cunho pessoal de Silas estava bem vincado no estilo de jogo da equipa, que privilegiava a posse. Com a sua saída, novas ideias irão provavelmente ser implementadas e a forma de jogar alterada. Se nos focarmos nos jogos da Liga, os “azuis” são a segunda equipa com melhor percentagem de posse de bola, indo ao encontro das pretensões do ex-treinador. Mas há um dado importante que pode ajudar a explicar a falta de golos: são a formação com a pior média de remates por jogo. E sem remates certeiros não há posse que aguente. Os homens mais adiantados, Kikas e Licá, não têm dado conta do recado, nem os habituais suplentes. No fundo, é uma equipa que procura controlar o jogo, mas que tem permitido aos adversários criarem mais oportunidades de golo.
Por sua vez, os sadinos apenas marcaram um golo no primeiro jogo oficial da época, frente ao Moreirense FC para a Taça da Liga. Daí para cá é o que se sabe. Os últimos dias de mercado foram aproveitados para contratar Jubal, defesa central, e Leandrinho, médio centro.
Por outro lado, aqui a realidade é bem diferente, pois é uma equipa que atua mais na expectativa e que tenta ‘’entregar’’ as situações de golo aos homens da frente, normalmente composta por Zequinha, Hildeberto e o ponta de lança Hachadi. O jovem marroquinho parece ainda não ter encaixado bem nesta formação, nem tão pouco Brian Mansilla e Guedes, os outros avançados normalmente lançados a partir do banco. Nota-se claramente a falta de Cádiz, mas esse era um fator conhecido previamente pela estrutura vitoriana. Em termos estatísticos, o Vitória FC é um dos conjuntos com pior média de posse de bola e de remates por jogo, o que, pode não explicar tudo, mas se revela como um sinal insatisfatório da realidade vivida pelos do Sado.
Este não é, porém, um cenário inédito neste século, uma vez que é preciso recuar até 2006/2007 para se encontrar registo semelhante num início de época. Após a quarta ronda da referida temporada, o CF Estrela da Amadora também não tinha nenhum golo obtido e apenas o alcançou na ronda seguinte. Se “azuis” e vitorianos não pretendem entrar na parte negativa da história, necessitam de marcar na próxima jornada.
Embora sejam dois conjuntos com formas de jogar e de abordar o jogo completamente diferentes, ambos não têm sido felizes na hora da finalização. A verdade é que este pode ser um problema que, volvidos os primeiros quatro jogos, pode pesar para os jogadores e fazerem-nos sentir cada vez mais pressionados se o golo tardar a surgir. Mas este é o lado mais negativo (mas exequível) da questão. O objetivo passa por quebrar este tabu e os jogadores precisam de sentir essa responsabilidade, impedindo que a seca de golos se prologue.
Foto de capa: Vitória FC
artigo revisto por: Ana Ferreira