Façamos caso destes casos!

Basta! Foram semanas e semanas a conter-me, a engolir sapos, mas isto é o cúmulo. Se o futebol português não bateu no fundo no último fim-de-semana, então o poço não tem fundo, o que é, igualmente preocupante. Está na hora de parar de ser hipócrita e avaliar justamente a situação. É altura de fazer caso destes casos.

A última jornada do campeonato e as meias-finais da prova rainha foram o exemplo mais gritante do estado lastimável a que chegou o desporto-rei português. É que entre arbitragens alucinantes, agressões a dirigentes, crimes dos adeptos e comunicados imbecis de tudo quanto é clube e jogador, passou-se uma semana que nos devia envergonhar a todos enquanto adeptos.

O problema deste momento, é eleger quem tenha ficado bem. Comecemos pelo primeiro episódio lastimável: o clássico. Enquanto adepta do SL Benfica, mas sobretudo do futebol, o clássico é daqueles jogos que me acelera o ritmo cardíaco ao ponto de considerar tomar calmantes. É o jogo contra o maior rival, aquele em que temos sempre de dar tudo para apoiar a equipa, de modo a que também os jogadores dêem tudo pelo clube: em dias de clássico, chutamos todos aquela bola, caímos todos face àquela falta, sofremos todos aqueles golos e festejamos juntos em família. JUNTOS. É apaixonante.

O problema? Apesar de este clássico ter sido dos melhores em termos futebolísticos dos últimos anos, o que ficou para a história foi a arbitragem e os comunicados de ambos os clubes. Convenhamos que a arbitragem foi dúbia e digna de contestação e que quer Benfica e FC Porto têm motivo de queixa e portanto, é difícil estar calado. Mas o bom senso deve sempre prevalecer. Já temos problemas que cheguem, nomeadamente, o fosso cavado entre as principais ligas europeias e a nossa.

Todos os anos nos queixamos da falta de capacidade dos nossos clubes para ombrear com os restantes nas competições europeias. Pois, bem, para diminuir isso, convém competir em igualdade de circunstâncias (e não me refiro a poder monetário): temos de perceber de uma vez por todas que o futebol, apesar de poder ser um bailado, não é para bailarinas. A facilidade com que se assinala uma falta no futebol português é surreal. Dá a impressão que os árbitros andam com medo que os jogadores peguem coronavírus uns aos outros com um toque ou um suspiro, e portanto, ao mais pequeno contacto num fio de cabelo já estão de apito na boca para parar o jogo.

Depois queixem-se de falta de tempo útil de jogo. Não estou com isto a dizer que o futebol deve ser americano: não podemos andar às placagens uns aos outros, mas há que ter consciência que um toque com o dedo no ombro não é falta. Ponto assente. Outra situação que nos deve envergonhar: voltar aos tempos em que qualquer bola a raspar nos braços é penálti.

À custa disso, depois vamos para a Europa reclamar penáltis por bola na mão chegada ao corpo e quando um jogador nos sopra e caímos como se fôssemos abalroados por um tornado. É ridículo. Em bom português, só fazemos figuras tristes. E ainda nos querem fazer acreditar que vamos ter um campeão europeu português…. há que distinguir bola na mão de mão na bola. São diferentes e apenas uma delas é merecedora de penálti. Há que considerar que saltar de braços fechados é muito bonito mas não é prático.

Desafio os leitores a este exercício. Saltem de braços colados ao corpo e de braços abertos. Vejam qual é mais confortável e cómodo. É vergonhoso como ainda temos de discutir isto em Portugal. No Mundial 2018, marcaram-nos um penálti frente ao Irão por mão do Cédric, quando este está de costas e é empurrado. A FIFA veio admitir que foi o único erro do VAR na fase de grupos. Comparem com o penálti do Ferro no clássico. Há dois anos gritámos todos que não era penálti. Agora já é? Tem de haver coragem para ser coerente e para fazer o que está certo, jogue-se em que estádio for.

A arbitragem de Artur Soares Dias foi muito contestada por ambas as equipas
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

Ao espetáculo de arbitragem do clássico, seguiram-se os habituais comunicados dos afectados. Parece que os dois primeiros classificados, além de quererem lutar pelo campeonato, querem igualmente lutar para ver quem grita mais alto. Este espetáculo repugnante entre diretores de comunicação, que por coincidência (ou muito provavelmente não), vieram ganhar palco na altura em que o futebol português entrou nesta guerra civil, só vem acicatar o ódio entre clubes e agravar o já péssimo estado do desporto.

Essa guerrilha acabou por retirar destaque a uma proposta interessante do Benfica: arbitragem estrangeira para jogos do SL Benfica e FC Porto. Já há uns tempos que sou apologista desta proposta, desde que reparei que, ao fim e ao cabo, fala-se sempre mais de arbitragem do que dos jogadores. Passo a explicar a minha posição: nenhum ser humano minimamente racional quer ser árbitro de futebol. Ser árbitro deve ser das profissões mais odiadas e menosprezadas da actualidade (faz lembrar os políticos).

Só alguém que, de facto, ama futebol se pode sujeitar ao falatório, aos insultos, às agressões e às acusações. E tem de gostar mesmo muito de futebol. Ora, alguém que goste tanto do desporto, tem um clube de coração, e por muito imparcial que tente ser, o subconsciente vai sempre ver com o coração e depois, vê num toque uma placagem e num ombro uma mão. Árbitros estrangeiros têm um clube do seu país, logo são menos suscetíveis a esta parcialidade própria dos amantes do desporto português e, para descansar todos os clubes, menos permeáveis a ameaças e coação. É uma ideia a ser pensada. Mas a frio!

Por último, quando eu pensava que a situação não ficava mais vergonhosa, eis que jogou o Sporting CP e houve um descendente de Alcochete. Dois membros da direção foram agredidos por adeptos, incluindo a filha menor de um deles. Mas o quê que pode justificar a agressão a uma jovem de 16 anos? Uma exibição menos conseguida? Um mau resultado? Um flop? Não há nada. Nada. As manifestações a pedir a demissão do presidente e da direção têm sentido, enquanto forem pacíficas. Quando se agride uma pessoa que nada tem a ver com a situação, batemos no fundo. E de cabeça. Os sportinguistas julgam que se deve mudar de direção como de treinador ou onze e estão no seu direito. Perdem-no quando permitem estas actos animalescos.

O Sporting CP vs Portimonense FC teve um episódio a fazer lembrar Alcochete
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Este estado do futebol desanima-me. Não podemos ignorar os factos. A escalada de ameaças, coação e violência no futebol português estão a atingir o pico. Não se podem esconder agressões; não se devem calar perante erros. Mas esta situações resolvem-se a falar e não a gritar. Basta. Está na hora de fazer caso de todos estes casos. Senão, perdemos o desporto que todos nós amamos.

artigo revisto por: Ana Ferreira

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A Maria é uma orgulhosa barqueirense (e por inerência barcelense ) que aprendeu a gostar de futebol antes de saber andar. Embora seja apologista das peladinhas entre amigos, sai-se melhor deixando o que pensa gravado em papel. Benfiquista de coração e Gilista por devoção é sobretudo apaixonada pelo futebol que faz o país parar quando a bola começa a rolar.                                                                                                                                                 A Maria escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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