O Caça e Pesca e a viagem pelo INATEL

    Até às primeiras décadas de mil e novecentos, o turismo era uma atividade de luxo e bastante exclusiva, reservada aos mais favorecidos. A ocupação dos tempos livres dos trabalhadores centrava-se em associações e sociedades populares de educação e em atividades de excursionismo e relacionadas com a música e leitura. O desenvolvimento do “turismo social” mais próximo a aquilo que é hoje só conhece um efeito desenvolvimento em meados dos anos trinta. E o impulso decisivo deve-se, em grande parte, à criação, em Junho de 1935, da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT).

    A FNAT manteve esta designação até 3 de abril de 1975, quando passou a denominar-se Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores – INATEL –, passando a ter a missão clara de recriar, prosseguir e renovar a sua herança e património, e atuando na prestação de serviços sociais, com ênfase na Cultura, Desporto e Turismo Social. Em 25 de junho de 2008, o INATEL deixou de pertencer à administração central do Estado, concretizando-se a sua extinção e instituição de uma nova fundação privada de utilidade pública — a Fundação INATEL —, que lhe sucede em todos os seus direitos e obrigações, bem como no exercício das suas competências e na prossecução das suas atribuições de serviço público. A Fundação INATEL é, neste momento, responsável pelo desenvolvimento e organização do quadro competitivo de variadas modalidades:

    • Modalidades individuais

    Atletismo, natação, pesca desportiva, tiro e ténis de mesa.

    • Modalidades coletivas

    Andebol, basquetebol, futebol, futsal e voleibol.

    No dia 7 de junho de 2018, os cerca de 7.000 praticantes de futebol da Fundação INATEL foram integrados na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), após um protocolo assinado em Oeiras pelo presidente da FPF, Fernando Gomes, pelo Presidente do Conselho de Administração da Fundação INATEL, Francisco Madelino, e pelos respetivos líderes das associações distritais. Este acordo passou a enquadrar os praticantes de futebol na esfera da FPF, o que permite tirar dividendos no processo de formação de atletas e garantir que a prática das competições INATEL seja feita nas melhores condições de segurança e saúde. Muitos clubes de primeira linha têm escolhido as competições INATEL como competição principal para os seus escalões de formação e modalidades. Referir ainda que esta parceria tem procurado igualmente criar melhores condições para a formação para árbitros.

    Só no que ao futebol diz respeito, a Fundação INATEL tem 83 anos de história e de campeonatos que juntam quase 300 equipas e sete mil praticantes em distritos como Braga, Viana do Castelo, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Santarém, Lisboa, Setúbal, Beja, Évora – Duas grandes entidades escolheram hoje construir em conjunto o seu futuro“, disse Fernando Gomes, aquando da assinatura do protocolo.

    Depois de alguns anos no futebol de formação, que acabei por interromper para estar mais ligado à área do treino e para seguir outros caminhos profissionais aos quais me dedico atualmente, recebi, em 2017, um convite para competir na Liga INATEL de futebol de 11 (Porto 1ª Fase). Assim, fui jogar no SC Montezelo, clube histórico de Gondomar, que me permitiu ter um primeiro contacto com esta competição. O modelo competitivo no Porto, nesse primeiro ano, seguiu um regime distinto do atual: as equipas eram divididas por dois grupos, sendo que os primeiros oito classificados de cada grupo iriam disputar o Play off de campeão num “minicampeonato” entre essas equipas. Depois, existia a taça INATEL, seguindo aquilo que é o formato normal das taças, com jogos a eliminar.

    Após uma primeira época de altos e baixos num ano muito difícil, até porque as condições nem sempre eram as melhores, o que acabou por condicionar o rendimento de muitos atletas (para dar um exemplo, o campo era pelado e não existia qualquer relvado sintético), em 2018 surge a oportunidade de representar o Clube de Caça e Pesca de Aguiar (CCPA). Um clube fundado por sete homens empreendedores, em dezembro de 1963, que deixou o seu legado na caça e pesca desportiva, na qual, inclusivamente, chegaram a ter o único campo de tiro ao prato coberto da península Ibérica (e um dos melhores da Europa). Continua a ser uma das coletividades com melhores instalações no Concelho de Gondomar, tendo ainda uma localização estratégica com vista privilegiada para o Douro e suas margens.

    O clube, que tem na sua génese e história a conquista de troféus em todas as modalidades existentes, encerrou a sua participação no futebol durante vários anos, por motivos financeiros. Estava, assim, em 2018, a ser criado um projeto novo. Um projeto de retoma com a intenção de voltar a colocar o CCPA no topo da Liga INATEL. Confesso que, quando me falaram no clube pela primeira vez, não gostei do nome. Achava um contrassenso que uma equipa que queria impor-se no futebol tivesse no seu nome referência a outras modalidades.

    No entanto, o convite que me foi endereçado foi mais do que “apenas” jogar futebol. Por isso, aceitei a mudança para Aguiar, não só para fazer parte do plantel de futebol de 11, mas como para ajudar na Direção do clube e desempenhar um papel relevante no marketing e comunicação da equipa. O desafio era enorme: organização dos ciclos de treino, agendamento dos jogos de pré-época, gestão dos equipamentos de treino e jogo para a nova época, melhoria de instalações, criação de uma forte política de comunicação, etc. Mas era algo bastante aliciante e obrigou-me a estudar o passado do clube. Rapidamente entendi a mística do nome e da sigla CCPA e apercebi-me do privilégio e da responsabilidade que tinha em cima dos ombros, em conjunto com os meus colegas de balneário e de Direção para o futebol.

    A verdade é que, puxando a brasa para a minha sardinha, o clube tem tido um crescimento fantástico, com uma melhoria visível das condições de trabalho e uma política de imagem e comunicação ao nível dos clubes profissionais em Portugal.

    No que à competição diz respeito, este ano o modelo foi diferente e seguiu o regime de campeonato puro. 24 equipas jogaram entre si a uma só mão, o que nos permitiu fazer um ano de “estreia” com muitas peripécias e viagens essencialmente pela zona do Porto/Gondomar/Trofa/Gaia. Infelizmente, e pelos motivos de saúde que toda a gente conhece, o campeonato acabou por ser interrompido a seis jornadas do seu final.

    O INATEL não são apenas jogos de fim de semana. O INATEL não é apenas convívio de fim de semana. É uma prova de superação semanal, com milhares de atletas que correm entre a sua vida pessoal e profissional, para estarem em forma e disponíveis para treinos e jogos, na prova clara de que quem corre por gosto não cansa. À boa maneira portuguesa, há um pouco de tudo: grandes jogadas, grandes golos, “sarrafada” para dar e vender, expulsões, adeptos mais efusivos, festejos de guardar na retina e muitas memórias que levarei para sempre comigo.

    O segredo (como em qualquer equipa, diria) tem sido a união e espírito de grupo que nos faz conviver diariamente, seja presencialmente ou por telemóvel. Não posso deixar de agradecer a todos os atletas a forma como se comprometeram com o projeto. Claro que não deixamos de ouvir aquelas bocas de amigos e famílias quando não vamos tomar aquele café ou jantar fora porque temos treino ou jogo, mas não há visão que mais me encha de ambição do que levantar a taça de campeão, ou ganhar a taça INATEL juntamente com os meus atuais companheiros de luta.

    E eu sei que esse dia vai acontecer. Foi com essa ambição que integrei o clube, que decidi fazer parte da direção, e é a única forma de honrarmos a história do CCPA. Se não conheciam bem o clube e a realidade INATEL, venham daí. Há muito futebol, muitos momentos e prometo que vai valer a pena.

     

    Artigo revisto por Mariana Plácido

     

     

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