Portugal em busca da arca perdida da igualdade

Pioneiros em certas medidas, retrógrados noutras, estamos por demais habituados às comparações sobre o futebol em Portugal. Ou porque o argentino é melhor que o português, ou porque o português de agora é melhor que o português de antigamente, as comparações não têm fim e, muitas vezes, em nada acrescentam à discussão em causa.

Durante anos houve sempre aquele complexo de inferioridade, onde “lá fora é que é”, mas rapidamente deu lugar ao nacionalismo exacerbado, onde qualquer discussão vai desaguar e, de armas em punho, se eleva para lá dos limites o treinador e o jogador português.

Ali no meio, onde se pesam vários fatores e se tem em conta várias opiniões, é onde eu gosto de estar. Ouvir e ler outras visões e, sobretudo, analisar. Assim, este artigo vai percorrer as classificações finais das principais ligas europeias, mais a portuguesa, e desmistificar que a competitividade do campeonato português fica assim tão aquém do melhor futebol europeu.

Importa lembrar, antes de qualquer análise, que só a Alemanha tem uma prova composta por 18 equipas como Portugal. Espanha, Inglaterra, Itália e França têm uma prova disputada por 20 emblemas. Além disso, a liga francesa foi interrompida com apenas 28 jogos, o que contamina o primeiro ponto desta análise; os golos marcados.

A Liga portuguesa só fica à frente da francesa no número de golos marcados, ainda que a competição vencida pelo PSG tenha cumprido apenas 28 dos 38 jogos previstos. Em Portugal, foram marcados 763 golos, apenas mais 59 que em França (704). Espanha e Alemanha ultrapassaram as nove centenas (942 e 982), Inglaterra chegou aos 1034, mas foi na Itália onde, de longe, se marcaram mais golos (1154).

Neste parâmetro, a Liga portuguesa não sai beneficiada. Estaria, provavelmente, em último lugar na festa do golo caso a competição francesa tivesse os restantes jogos realizados. O cenário tende a agravar-se se tivermos em conta a produção ofensiva dos primeiros e últimos classificados de cada país.

Resumo da época do CD Aves, a 1.ª equipa ⬇despromovida na 🇵🇹Liga NOS:
➡23 derrotas em 29 jogos
➡Pior defesa (55 golos sofridos)
➡3 treinadores
➡42 jogadores utilizados (equipa que + jogadores utilizou), de 14 nacionalidades diferentes pic.twitter.com/oUfOv9fE88

— playmakerstats (@playmaker_PT) June 30, 2020

Por exemplo, Juventus FC e FC Internazionale Milano marcaram mais golos (157) do que as equipas que desceram, US Lecce, Brescia CSA e SPAL 2013 (114). Até aqui tudo normal. Aliás, seria até expectável que assim fosse. No entanto, o mesmo não acontece nos outros países. Ou melhor, acontece que os primeiros classificados marcam mais golos que as equipas que descem e outras que ainda alcançaram a manutenção. Evidenciando, assim, o fosso entre primeiros e últimos.

Em França, Paris SG FC e Olympique Marseille marcaram mais golos (116) que Toulouse FC, Amiens SCF, Nimes Olympique e AS Saint-Étienne (111). Na vizinha Espanha, Real Madrid CF e FC Barcelona marcaram por mais vezes (156) do que RCD Espanyol, RCD Mallorca, CD Leganés e RC Celta de Vigo (134).

Na Alemanha, FC Bayern Munchen e BVB Dortmund marcaram mais golos (184) que SC Paderborn 07, DTS Fortuna, Werder Bremen e Augsburg 1907 (160). Na Primeira Liga inglesa, Liverpool FC e Manchester City FC marcaram mais golos (187) do que Norwich CFC, Watford FC, AFC Bournemouth e Aston Villa FC (143). Em Portugal, não são três nem quatro; FC Porto e SL Benfica marcaram, sozinhos, mais do que cinco equipas.

Os dois rivais que disputaram o título até às últimas jornadas, sozinhos, marcaram mais golos do que cerca de 30 porcento dos demais competidores. Dragões e águias festejaram por 145 vezes, mais do que CD Aves, Portimonense SC, Vitória FC, B-SAD e CD Tondela (138).

A outra má notícia, mascarada de ponto positivo, é que a diferença pontual entra cada competidor está dentro da média europeia e algo distante dos casos mais graves. Podia significar competitividade, mas, no meu entender, espelha a falta de qualidade interna.

A ver vamos; o CD Aves foi dos últimos classificados que menos golos sofreu (68), mas um dos que mais longe ficou do primeiro lugar (65 pontos). Além disso, do universo dos últimos colocados, foi a equipa que mais longe ficou do penúltimo (16 pontos). Em termos pontuais, só conseguiu fazer melhor que o Toulouse FC (17 pontos contra os 13 dos franceses).

No outro extremo da tabela, só a Juventus FC teve mais dificuldade que FC Porto para se sagrar campeã (um ponto de vantagem sobre o segundo classificado). Os dragões, tal como o Real Madrid CF, abriram uma vantagem de cinco pontos para o segundo lugar, longe das vantagens de 12 e 13 pontos de PSG FC e FC Bayern Munchen ou dos 18 pontos do Liverpool FC sobre o Manchester City FC.

Assim, não se é campeão em Portugal com mais facilidade do que em Espanha ou Itália, muito por culpa da qualidade – ou falta dela – e não da competitividade, como tanto se apregoa. O que acontece nesses países é que os últimos classificados conseguem dar mais luta. Ao que parece, Inglaterra e Alemanha continuam como os exemplos a seguir.

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Diogo Pires Gonçalves
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O Diogo ama futebol. Desde criança que se interessa por este mundo e ouve as clássicas reclamações de mãe: «Até parece que o futebol te alimenta!». Já chegou atrasado a todo o lado mas nunca a um treino. O seu interesse prolonga-se até ao ténis mas é o FC Porto que prende toda a sua atenção. Adepto incondicional, crítico quando necessário mas sempre lado a lado.                                                                                                                                                 O Diogo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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