As saudades apertavam e o verão sem futebol já ia longo. A pré-época regressou, assim como a ansiedade pelo rolar da bola, mas o início do campeonato trouxe também as pequenas e ridículas polémicas a que o futebol português nos vem habituando.
A primeira jornada havia reservado um interessante e sempre bem disputado Rio Ave FC – Vitória SC. A horas do encontro, completamente fora das expectativas, surgiram notícias a dar conta do seu adiamento devido ao estado de uma das bancadas dos vilacondenses.
A estrutura nascente do Estádio dos Arcos, inaugurado em 1984, apresentava níveis preocupantes de deterioração e levantou dúvidas quanto à sua segurança. Na falta de melhor alternativa que não fosse uma avaliação mais exata, o encontro foi recalendarizado para o início de setembro.
Desde então, múltiplas questões se levantaram e importa que lhes sejam encontradas respostas. A deterioração não se dá de um dia para o outro; a avaliação não devia ter sido feita há mais tempo para não afetar o início das competições? O estádio vilacondense recebeu eliminatórias europeias recentemente e várias competições nacionais; esteve sempre operacional e, de repente, não está?
Mais preocupante do que isso, um estádio com lotação para 9065 pessoas recebeu, na ponta final da época passada, duas equipas que lutaram pelo título até à última jornada. Como tal, mobilizaram um grande número de adeptos que preencheram o reduto do Rio Ave FC.
Na jornada 31, a 26 de abril, estivemos próximos de ver casa cheia no deslize dos dragões; 7532 espetadores coloriram as bancadas e viram o empate a 2. Duas jornadas depois, a 12 de maio, os encarnados deram um passo gigante para a reconquista perante um estádio a rebentar pelas costuras; 8836 adeptos testemunharam o triunfo das águias por 2-3.
Ou seja, por duas jornadas caseiras consecutivas, os vilacondenses receberam, na época passada, dragões e águias em bancadas com condições, no mínimo, duvidosas. E desses jogos para a primeira jornada da presente época passaram apenas três meses. Três meses. Das duas uma: ou a deterioração se originou e alastrou a um ritmo alucinante, ou correram-se riscos de duas em duas semanas em Vila do Conde.
Toda esta peça só podia ser representada e encenada num teatro que aparenta ser amador. Se, por um lado, se salvaguardou a segurança dos adeptos do Rio Ave FC – Vitória SC, por outro foi posta em risco, sucessivamente, a segurança de todos os adeptos anteriores a este encontro.
Só neste teatro amador, que é Portugal e as entidades do seu futebol, é que uma peça encenada no Estoril, representada por GD Estoril Praia e FC Porto, podia ganhar uma nova vida, com outros atores.
Foto de Capa: Rio Ave FC
Revisto por: Jorge Neves