Quando decidi abordar este tema, muitas pessoas me vieram à cabeça: uns por terem sido meus colegas, outros por serem bons exemplos de sucesso de planeamento da carreira, outros ainda precisamente pelo contrário. Mas um ficou a ecoar por mais tempo. Chama-se Ricardo Monteiro, mais conhecido por Tarantini. Esse mesmo: capitão do Rio Ave FC, com presenças em finais da Taça de Portugal, da Super Taça Cândido de Oliveira, da Taça da Liga ou com qualificações para a Liga Europa. Um bom currículo, mas, sem tirar mérito e com todo o respeito, uma carreira insuficiente para ficar gravada a ouro na lista dos melhores jogadores portugueses da história do nosso futebol. Até setembro de 2016. Nesse mês, Tarantini tornou-se imortal.
Lançou o projeto tarantini.pt, que visa precisamente o aconselhamento aos jovens – ou menos jovens – futebolistas para a importância de um futuro que ultrapasse a curta carreira de jogador de futebol. Os exemplos de fracasso não são raros: Fábio Paim ou Jorge Cadete atravessaram dificuldades; Fofana, Fábio ou Daniel Faria acabaram a carreira antes dos trinta anos. O que fazer nestas situações? Há que haver um aconselhamento prematuro e bem intencionado por parte dos clubes e das entidades que representam os jogadores. Afinal de contas, mesmo que um jogador de 29 anos pareça velho para futebolista, não passa de um jovem adulto na “vida real”.
Um estudo realizado pela FIFPro em finais de 2016 levantava o véu quanto a este mundo invisível do futebol: 45% dos 13 mil jogadores inquiridos a nível mundial ganhavam menos de 950€ por mês. A verdade é esta: acumulam fortunas apenas os que chegam ao topo dos topos. E raros são os que conseguem. O estudo Tarantini oferece-nos números assustadores: apenas 16% dos jogadores portugueses chegam à Primeira Liga, apenas 4% chegam a um dos Três Grandes e apenas 2% têm o privilégio de vestir a camisola da Seleção. Isto numa carreira que termina, em média, aos 30.9 anos de idade.
É pouco. Muito pouco.Há que haver cautela e vontade por parte dos jogadores para cuidarem da sua carreira e, mais importante, da sua vida. Paulo Oliveira, do Sporting, por exemplo, tirava uma licenciatura antes de chegar à Primeira Liga; Tarantini começou (e concluiu) um mestrado em Ciências do Desporto no dia livre que tinha nos tempos do Sporting da Covilhã. Mas principalmente há que haver aconselhamento e disponibilidade sincera de clubes, agentes e instituições para cuidarem destes meninos que vivem disto e fizeram disto a sua vida. As novas academias deixam-me com esperança quanto a isso: há mais cuidado na formação do homem, na formação de conhecimentos e há mais rigor no aconselhamento. Porque um jogador de futebol não tem de saber apenas dar pontapés na bola. Alguns, e ainda bem que os há, também gostam de ler José Saramago no banco de suplentes.
Foto de Capa: trivela.uol.com.br
Artigo revisto por: Beatriz Silva