Numa das épocas mais atípicas de que há memória – e dificilmente será superada nesse capítulo – não chegava uma pandemia para atrapalhar as contas, também agora não se sabe quem realmente desce à Segunda Liga. Ainda não é certo se temos um histórico a descer de escalão ou se, por mais uma vez, consegue escapar às garras da “Segunda” e das finanças.
De forma a proteger populações e agilizar os encontros, tivemos equipas a carregar a casa às costas e a assentar os seus quartéis generais noutras latitudes. De facto, foram mais os pontos aleatórios numa época pouco brilhante do que seria de esperar. O que não parece ser afetada é a competência dentro das quatro linhas.
Essa ou se tem ou se não tem. Simples assim. Neste artigo vou abordar a competência dos clubes da Primeira Liga num aspeto muito específico do jogo; a bola parada e o aproveitamento que daí decorre. É recorrente ouvir, aqui e acolá, que determinada equipa é mais forte na bola parada e que depende muito desse momento para a conquista dos pontos.
Verdade ou não, os números da época estão aqui vertidos e alguns representam uma verdadeira surpresa. Quanto à faturação por “via aérea” não há surpresas e as suspeitas confirmam-se e não deixam margem para dúvidas; os dragões foram quem levantou mais vezes vôo para alcançar o título.
Foram, de longe, a equipa mais goleadora de cabeça em casa (10 golos) e fora de portas têm também o melhor registo, igualados pelo CD Santa Clara (sete). No lado oposto surgem o Belenenses SAD e CD Aves, sem qualquer golo apontado de cabeça em casa. O “Galo” pouco usou as asas fora de casa; os gilistas apontaram apenas um golo de cabeça longe do seu terreno.
Portimonense desce para a II Liga. pic.twitter.com/MzVUbCLFwL
— B24 (@B24PT) July 26, 2020
Uma das razões da descida dos algarvios pode estar no facto de dependerem demasiado da produção ofensiva através dos lances de bola parada.
É no âmbito da organização defensiva que surgem as surpresas. Os grandes não desaparecem, mas as equipas de menor dimensão dão o salto na estatística. As equipas mais permeáveis em casa são Rio Ave FC e Belenenses SAD, com sete e oito golos sofridos, respetivamente. Fora de portas, foram os tondelenses e os avenses que mais sofreram; oito golos pelos auriverdes e 11 pela equipa da Vila das Aves.
No extremo oposto desta análise surgem Sporting CP e CS Marítimo – os leões sofreram apenas um golo de cabeça em casa e os insulares repetiram o registo, mas enquanto visitante. No total, as equipas menos batidas peloas ares foram, no entanto, os dois grandes que disputaram o título até ao fim, uma equipa que ficou às portas da Europa e um despromovido; FC Porto, SL Benfica, Vitória SC e Portimonense SC sofreram apenas cinco golos de cabeça em toda a prova.
Quanto ao peso destes números face ao total de golos apontados por cada equipa, as surpresas prolongam-se. A equipa que mais dependeu do jogo aéreo para pontuar vive num impasse relativamente à divisão onde vai competir no próximo ano; o Portimonense SC marcou 37% dos seus golos através de remates de cabeça.
Segue-se, de perto, o CD Santa Clara com exatamente um terço dos golos apontados de cabeça (33%) e um pouco mais atrás surgem os tondelenses (27%). Belenenses-SAD (sete porcento), FC Famalicão (11%) e Rio Ave FC (13%) raramente recorrem a este meio de obter golos.
Pelo contrário, o CD Santa Clara surge como uma das equipas mais permeáveis, sofrendo 29% dos seus golos pelos ares. Seguem-se, de perto, Rio Ave FC e CD Tondela com 25%. Por fim, Portimonense SC (11%), Vitória SC (13%) e FC Famalicão (14%) foram as equipas menos feridas de cabeça em relação ao universo de golos concedidos em toda a Liga.