– Vitamina G(olo) –
“O futebol é estatística para um ponta-de-lança”
BnR: Após uma época menos exuberante no Moreirense, voltas a brilhar em Penafiel, onde, com Miguel Leal ao comando, apontas 15 golos em 34 jogos. É-te essencial um papel de destaque na equipa para teres confiança suficiente?
RL: Se hoje estou onde estou e sou quem sou como jogador é muito graças ao Miguel Leal. Vim de uma época muito má em termos individuais no Moreirense e psicologicamente estava muito abatido, sem confiança. Tinha voltado à Segunda Liga, algo que não queria e ele, para além de ressuscitar-me a carreira, mudou a minha forma de jogar. Quando cheguei ao Penafiel, ele perguntou-me “Rafa, quantos golos queres fazer esta época?” e eu disse “Mister, se fizer dez golitos, já fico todo contente”, porque a minha confiança estava de rastos. “Dez golos? Nem pensar! Vais fazer 20 golos! E olha, sei como é que jogas, mas vais mudar: vais deixar de pedir a bola no pé. Não quero mais disso”. Cheguei a Dezembro e tinha 15 golos.
Para nós, avançados, a nossa vitamina é o golo. Quando estava em Portugal – e até ao ano passado – cometia muitos erros e um deles era não ficar chateado quando não marcava: dizia “Ah, mas em dez lances aéreos, ganhei nove” e baseava-me nessas coisas. Quando vim para a Polónia, já vim com outra mentalidade “Que se lixe jogar bem, Não quero saber. Eu quero é marcar golos. Nos treinos e tudo.” Tinha sempre o golo na cabeça! As coisas começaram a correr bem neste sentido, porque também mudei muito a minha maneira de pensar.
BnR: Então por mais ações acertadas que um avançado tenha durante o jogo, é impossível lidar com o peso da ausência de golos nessa posição?
RL: É muito difícil. Podes estar dois anos sem fazer golos e as pessoas dizem “Ah e tal, é bom jogador, é um gajo porreiro”, mas passas mais um ano sem marcar e começas a cair. O futebol é estatística para um ponta-de-lança. Quem disse o contrário está a mentir. Um clube quer ir buscar-te e eles vão ver, no máximo, dois ou três jogos completos; de resto vão ver o rácio de golos/jogos. É claro que podes ter a sorte de “Atenção: este gajo bem trabalhado (…) a nossa equipa tem estas características, pode encaixar”, mas é uma percentagem mínima.
BnR: Na Académica és treinado por um Sérgio Conceição em início de carreira. Como o descreves dentro e fora de campo?
RL: Eu gosto muito do Sérgio Conceição como treinador e como pessoa e sempre disse isso em todo o lado, inclusive na Polónia porque toda a gente o conhece. Só tenho pena que as coisas, naqueles seis meses (…) se houvesse vídeo-árbitro, tinha sido tudo diferente. Quando cheguei lá, marquei seis ou sete golos e cinco deles foram anulados injustamente, porque depois víamos que não estava fora-de-jogo. E ele dizia mesmo “Tu não tens sorte nenhuma”. Tenho a certeza que, se aqueles golos não tivessem sido anulados, se calhar no ano a seguir tinha-me levado com ele para Braga.
É um treinador muito exigente dentro de campo e muito acessível fora dele, tanto é que, depois da época no Chaves, tinha duas possibilidades em cima da mesa para assinar e vou confidenciar que houve dois treinadores a pedir conselhos: ao Jorge Simão e ao Sérgio Conceição. Foram dois treinadores que me marcaram muito.
BnR: Em Chaves encontras uma massa adepta fiel e uma região sedenta do regresso ao principal escalão do futebol português. A ambição, o espírito de grupo e o balneário de uma equipa recém-promovida são diferentes de outro cuja continuidade na primeira divisão é quase um dado adquirido?
RL: Antes de chegar ao Chaves, estive três anos em Coimbra e já me sentia em casa (…) se a Académica tivesse ficado na primeira divisão, tinha-me mantido por lá, até porque havia essa vontade e já tínhamos falado sobre isso. Foram muitos erros de toda a gente: jogadores, direção… como é sempre. O clube e a cidade não merecem estar onde estão, porque a Académica tem umas condições fantásticas. Foi mesmo pena.
Em relação ao Chaves, encontrei um balneário novo e estavam ali, como eu, a começar do zero; alguns já conhecia, como o Paulinho, o Nélson Lenho, o João Patrão… foi muito fácil, até porque as pessoas de lá são espetaculares. Foi muito bom o ano que estive lá e desportivamente os resultados falam por si. Jogávamos muito bom futebol, fizemos um grande trabalho na Taça de Portugal (…) quase chegámos à final, foi aquele o penálti aos 93’ que o Douglas defendeu… Deixámos uma grande imagem e representámos muito bem o clube e a cidade.