«Jorge Mendes perguntou-me onde queria jogar. Dois dias depois assinei pelo Benfica» – Entrevista BnR com Fábio Faria

    – Coração Partido –

    “Pai, não quero mais”

    BnR: É precisamente durante um jogo entre o Rio Ave e o Moreirense para a Taça da Liga que te sentes mal após um sprint e que acabas por desmaiar já nos balneários. Percebeste de imediato que não era algo normal?

    FF: Senti-me maldisposto, mas não percebi o que era. Pedi assistência médica e levaram-me para o balneário. Como nesse dia estava muito frio em Moreira de Cónegos, abrigaram-me com um casaco e, com os sintomas que descrevi, acharam que era uma quebra de tensão; quando me levanto da marquesa, não sentia as pernas e caí no chão. Foi quando o médico do Rio Ave começou a ficar preocupado e falou com o do Moreirense para chamar uma ambulância. Quando chegou, eu já não conseguia mexer parte alguma do meu corpo, apenas o pescoço. O médico, pessoa calma, estava nervoso, começaram a proibir os jogadores de ir para o meu lado e foi aí que comecei a aperceber-me de que algo não estava bem. O meu pai conseguiu contornar as indicações de afastamento, foi ter comigo e perguntou-me “Então, baixinho, como é que estás?”. A minha resposta foi “Já fui”. Depois de entrar na ambulância apaguei e só me lembro de acordar no hospital. Aí tive consciência de que as coisas tinham sido muito graves.

    Fonte: Facebook Fábio Faria

    BnR: Houve um hiato entre o que te aconteceu e retomares a atividade física. É quando cais com o teu pai, numa tentativa de recuperar a forma, que decides pôr termo à esperança de voltar a jogar?

    FF: Sim, foi nessa ocasião. Antes desse episódio, houve mais quatro em que tive de ser reanimado; o meu coração só voltava ao normal com a ajuda de um desfibrilhador. Após a operação, andei seis meses muito bem, mas nessa corrida com o meu pai perdi os sentidos, caí no chão e, felizmente, ele lembrou-se de me dar dois socos no coração, aos quais reagi. Foi quando disse “Pai, não quero mais”.

    BnR: Foi instintiva essa decisão?

    FF: Foi, foi! É uma sensação horrível saberes que estás a fazer qualquer coisa e que, de um momento para o outro, podes cair para o lado. Foi nesse momento que decidi parar.

    BnR: Qual foi o papel do Sindicato dos Jogadores nesta situação?

    FF: Eu era sindicalizado desde os 17 anos, pagavas as quotas, mas nunca liguei. Foi quando liguei para o Dr. [Joaquim] Evangelista; “Não te preocupes, vou tratar de tudo: vou falar com o Presidente do Benfica, do Rio Ave…”. Passadas duas horas ligou-me “Vou fazer uma conferência de imprensa aqui, no Sindicato”. Quando estou a ir para Lisboa, recebo dezenas de chamadas dos jornalistas a perguntarem-me se era verdade que ia deixar o futebol (…) eu não sabia de nada, nem sabia o que ia fazer! Chego ao Sindicato, estou a falar com o Dr. Evangelista e, de repente, entra o Luís Filipe Vieira “Então, Fábio, como é que estás? O que é que tu queres fazer agora. Queres ser treinador?”, perguntou-me o Presidente do Benfica. Como já me tinha comprometido com o Joaquim Evangelista que ia entrar na faculdade – apesar de só ter o 11.º ano, ia entrar pelos maiores de 23 anos, e o Sindicato ia pagar-me o curso – disse ao Luís Filipe Vieira que, apesar da ideia de ficar a treinar na formação do Benfica agradar-me, queria tirar a minha formação. “Ok. Não te preocupes que vamos cumprir-te o contrato até ao final” e eu fiquei logo todo contente, porque ainda faltavam três anos e eles não eram obrigados a pagar. Mas hoje estou arrependido de não ter aceitado o convite do Presidente do Benfica.

    BnR: Há pouco mais de um ano, o Tribunal da Relação de Guimarães decidiu que seriam as seguradoras a pagar-te uma pensão vitalícia. Isto quer dizer que a doença resultou da prática desportiva?

    FF: Exato. As seguradoras alegavam que a doença era congénita, mas não conseguiram prová-lo. Durante toda a minha carreira fiz exames e nunca acusou nada e a partir do momento em que desmaiei pela primeira vez, começou a acusar. Por isso… foi uma prova para conseguir ganhar.

    BnR: Atualmente és treinador adjunto da equipa sub-23 do Rio Ave.

    FF: Comecei como adjunto do Zé Gomes na Equipa B. Este ano, como o Rio Ave terminou com a Equipa B e só ficaram os sub-23, fomos convidados pelo mister Pedro Cunha para integrar a sua equipa técnica. Eu estou mais focado no trabalho da linha defensiva e é um motivo de orgulho termos acabado a época com o melhor registo defensivo do campeonato. Também fomos a equipa com mais golos marcados; no fundo fomos a melhor equipa do campeonato. Foi pena ter aparecido a pandemia, porque só faltavam quatro jogos, estávamos à frente e em princípio íamos ser campeões.

    Fonte: Facebook Fábio Faria

    BnR: Ser treinador principal é um objetivo?

    FF: Penso que não. As pessoas acham que tenho perfil, mas gosto de ser adjunto. Sou alguém muito brincalhão, de estar ao lado dos jogadores, e como treinador principal tens de manter um certo distanciamento. Nunca gostei de ser a figura principal em nada.

    BnR: Para além do futebol, estás ligado a outra modalidade.

    FF: Sim, recentemente abri um clube de pádel em Barcelos e, neste momento, é o meu filhote.

    Todas as fotografias usadas nesta entrevista foram retiradas do Facebook do entrevistado de forma consentida

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    Miguel Ferreira de Araújo
    Miguel Ferreira de Araújohttp://www.bolanarede.pt
    Um conjunto de felizes acasos, qual John Cusack, proporcionaram-lhe conciliar a Comunicação e o Jornalismo. Junte-se-lhes o Desporto e estão reunidas as condições para este licenciado em Estudos Portugueses e mestre em Ciências da Comunicação ser um profissional realizado.                                                                                                                                                 O Miguel escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.