«Nunca mais me esqueço da forma como o João Pinto me recebeu» – Entrevista BnR com João Tomás

    – Diretor desportivo e treinador de avançados –

    BnR: Como é um dia-a-dia de um diretor desportivo? Passas mais tempo no escritório do que perto da equipa?

    JT: Não. Eu tento sempre ser um diretor desportivo que está no treino, mesmo prejudicando o meu próprio quotidiano, porque depois o tempo que se está a ver o treino não se está obviamente no escritório, mas eu prefiro assim. Só mesmo se for urgente e impossível conciliar.

    Terminada a carreira de jogador, João Tomás trabalhou como diretor desportivo
    Fonte: Liga Portugal

    BnR: Criaste um treino específico para avançados.

    JT: É uma das minhas paixões, porque considero que a especificidade de um avançado está também muito próxima do que é a especificidade de um guarda-redes. São posições muito parecidas na questão da integração do treino e faz o atleta ser melhor.

    BnR: Consegues explicar em traços gerais como funciona?

    JT: O modelo é simples, eu diferencio o treino em três etapas. O primeiro momento refere-se à parte técnica do jogador, o que é treinável e como é que é treinável. Ou seja, as questões mais analíticas, passar bem, receber bem, utilizar os dois pés, a cabeça, os apoios, a forma como eu rodo. Tudo questões muito primárias e com importância gigantesca naquilo que é o resultado final. Depois, na segunda fase temos tudo isso e a oposição do guarda-redes, porque ele é o nosso adversário número um. A terceira fase é integrar tudo aquilo que nós utilizamos no treino específico com aquilo que faz a equipa. Portanto, eu sozinho, eu com o guarda-redes e depois eu na companhia da minha equipa.

    BnR: Isto surge fruto da tua própria experiência como jogador?

    JT: Sim, eu sempre vivi muito da equipa por isso é que acho que não se pode desligar as peças, sempre fui o primeiro a assumir que se não fossem eles eu fazia muito pouco. Eu nunca fui um dotado, fui um dotado em determinadas valências, mas para fazer golos precisava dos meus colegas. Eu costumo dizer, isto até pode ser uma frase forte, em tom de brincadeira, mas de uma forma séria, que eu atingi o máximo que podia. Melhor teria sido difícil. Repara, eu nasci em Oliveira do Bairro e fui viver para uma aldeia de 500 habitantes, cresci na aldeia e apenas comecei a jogar futebol com 10 anos, no Oliveira do Bairro. Não tive acesso a tanta coisa importante, mas essas limitações talvez me tenha permitido adquirir determinados comportamentos que se revelaram fundamentais, não consigo quantificar.

    BnR: Uma história com final feliz?

    JT: Depois de estudar nós ficamos mais consciencializados daquilo que podemos controlar e daquilo que não podemos. E eu, a juntar a isso, comecei a jogar com 10 anos, tive um processo de maturação muito tardio, talvez por isso é que tive muita dificuldade na formação. Cresci muito depressa, não tinha força, não tinha equilíbrio, não tinha coordenação, fruto da minha maturação tardia. Com 14/15 anos era menino, com 16/17 é que passei a adolescente e isso teve uma grande influência naquilo que foi a minha formação. Por isso foi uma sorte monstruosa ter dado o primeiro trambolhão quando saio do Oliveira do Bairro. Eu caio do Oliveira do Bairro, não é do Sporting ou do Braga. Qualquer um pensaria que não tinha jeito nenhum para isto e desistia, mas depois nós vamos construindo e as coisas vão acontecendo. Isto tem muito trabalho, muita dedicação, mas tem que ter muita dose de sorte também. Mas o normal era não acontecer.

    – Passes Curtos –

    BnR: Qual é para ti o melhor momento da tua carreira?

    JT: Ser internacional A.

    BnR: Um estádio?

    JT: O primeiro impacto, Estádio da Luz. Fui lá jogar pela Académica e só o túnel que tinha para chegar ao campo intimidava logo.

    BnR: Qual foi o jogador com quem mais gostaste de jogar?

    JT: Van Hooijdonk

    BnR: Qual foi o guarda-redes que mais confiança te transmitia?

    JT: Paulo Santos.

    BnR: Qual o defesa mais difícil de enfrentar? E o que mais gostavas de ter na tua equipa?

    JT: (risos) Ai, o defesa. Joguei com eles tão bons, Jorge Andrade, Jorge Costa, Naybet. Tenho uma fotografia no jogo Bétis-Deportivo em que estou a receber a bola e tenho os pitons dele ao nível da minha cabeça. O que mais gostei de ter na minha equipa diria o Nem.

    João Tomás disputa a bola com Naybet
    Fonte: Arquivo pessoal João Tomás

    BnR: Qual o médio que mais gostavas de ter a dar-te jogo?

    JT: Madrid.

    BnR: Qual o avançado com quem mais gostaste de jogar?

    JT: Miguel Bruno.

    BnR: Qual o treinador que mais te marcou?

    JT: Jesualdo Ferreira.

    BnR: Qual o melhor golo da tua carreira?

    JT: Académica-Braga, 2005/2006, o segundo golo. Estou descaído para o lado esquerdo, o Castanheira recebe orientado para a frente, eu faço uma diagonal de dentro para fora e ele bate-me a bola junto à linha. Eu sou mais rápido que o Andrade, numa primeira fase, ele fica batido e vai para dentro e é o Zé Castro que me vai fazer a dobra. Quando ele vai fazer a dobra, eu passo-lhe a bola pelo meio das pernas, já estou dentro da área, e vou buscar do outro lado. Sai o Pedro Roma, toco para o lado, salto por cima dele e, já com a baliza aberta, remato.

    Fotografias gentilmente cedidas por João Tomás

     

    Artigo revisto por Joana Mendes

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